Enturmando com os amigos no curso técnico, um cara me emprestou um cd do
Kurumin 6.1. Rodei ele de live cd por algum tempo, mas isso não era o suficiente, pois não ficava instalado e demorava a iniciar. Tudo era maravilhoso e colorido, mas meu mouse não funcionava (mouse laser PS/2), não desisti e aprendi alguns comandos que me permitiam navegar pela interface gráfica, acessar os programinhas e trocar papéis de parede, mas o mouse não funcionava e eu odiava isso, mas nunca proferi a frase "esse tal de
Linux não presta".
Um outro problema que me assombrava muito, o famigerado particionamento de HD, aquilo me dava medo, pois eu já tinha passado por um trauma de perda de dados e isso me assusta até os dias de hoje. Demorei algum tempo até me decidir por instalar o sistema em meu PC, o curso técnico terminou e eu fui para a faculdade fazer análise e desenvolvimento de sistemas. Foi então que um amigo meu me presenteou com uma cópia do Kurumin 7 e adivinhem, meu mouse funcionava perfeitamente e não tive dúvidas, instalei o Linux no meu PC, mostrei para todos os colegas que me visitavam, eles não se mostravam interessados no sistema, no máximo falavam que legal, é bonitinho, mas não passava muito disso.
Usando o Kurumin 7 tive a impressão que tudo era possível no Linux, em especial no Kurumin, pois instalar as coisas era fácil e o apt-get era perfeito, até então não tinha contato com a filosofia de software livre ou algo do tipo, eu somente era usuário do Linux, sabia que podia modificá-lo, mas nem desconfiava como era possível fazer isso.
Outra coisa que me deixou radiante foi a descoberta que no Linux não se podia pegar vírus e isso era muito bom mesmo; minha vida estava realmente mudando, pois eu estava tendo experiências surpreendentes com o Linux.
O site do Guia do Hardware tinha ótimos tutoriais sobre o Kurumin e sobre como fazer as coisas nele, inclusive no sistema o usuário era incentivado a tentar criar algo com estrutura de servidor multiterminais, Samba e mesmo rodar alguns games com o wine ou usar efeitos surpreendentes com o Compiz, seguindo um tutorial elaborado pelo Morimoto.
Mas como nem tudo na vida são flores, comecei a ter problemas com o sistema, um dia ele simplesmente não quis iniciar, negando de forma convincente meu login e senha. Como não conhecia muito a respeito do sistema e guardava meus dados em um segundo HD, não pensei duas vezes, reinstalei o sistema e tudo ficou perfeito novamente.
Foi aí que descobri que não se podia instalar muita coisa sem a internet, tudo dependia da internet e uma tal de dependência, que coisa horrível. Continuei firme usando Linux e arriscando algumas instalações para colegas de trabalho e de faculdade, foi aí que um professor de engenharia de software anunciou um curso de administração de sistemas Linux e o sistema base para esse curso seria o afamado
Slackware Linux, até então uma coisa mística que povoava minha imaginação como se fosse um Linux extra terrestre, uma coisa de louco/nerd/escovador de bits.
Nessa época já me aventurava pelo console, mas nada de especial, sabia comandos ls, cd, halt, reboot, mas nada parecido com o que me aguardava no curso de Linux.
Então o grande dia chegou, eu estava ansioso e li grande parte da apostila do curso logo no primeiro dia, me deparei com uma instalação do primeiro disco do Slackware 11 sem ambiente gráfico rodando e com uma tela de login me esperando, o professor escreveu nosso login e senha para entrarmos no sistema, nos ensinou comandos básicos e o curso foi uma maravilha, aprendi muita coisa sobre administração de sistemas Linux.
Em um dia do curso o professor me ensinou a subir o X com o comando "startx", então aparecia um ratinho e era esse o Xface, um ambiente estranho mas funcional, foi aí que descobri que no Linux existiam vários gerenciadores de janelas e que o KDE era ambiente padrão no Slackware Linux, mas em minha máquina ainda não tinha Slackware instalado, pois existia um Kurumin rodando lá.
Foi então que fiz uma atualização na distribuição e em um reboot a máquina não inicializava corretamente e isso foi o fim dessa distro em meu desktop, instalei o Slackware 12.0 que tinha uma instalação muito parecida com a instalação do Slackware 11, mas o som não funcionava, não me desesperei, procurei meu professor e perguntei porque tinha dado esse problema. E ele me disse para executar o comando alsaconf, rodei e deu tudo certo, som funcionando e tudo legal.
No curso de Linux eu me destaquei bastante por ser um dos mais jovens alunos e um dos que mais se interessou pelo assunto, ganhei uma bolsa para assistir a nova edição do curso, foi aí que comecei a estudar sobre software livre, a filosofia open source, as ideias de Richard Stallman sobre a história do movimento GNU. O Linux ganha um novo sentido e um novo nome, ele passa a se chamar agora
GNU/Linux, que é como o pessoal do projeto GNU prefere que seja chamado e não vejo problemas nisso.
Comecei a ver o mundo da informática com outros olhos, a comprar hardware com uma nova visão, a usar software com pensamentos diferentes e a ver soluções open source nas coisas. Aos poucos me tornei um ativista de software livre, falava nisso o tempo todo, levantava a bandeira do software livre com todas as minhas forças e argumentos, alguns bem preconceituosos por sinal, mas eu crescia e cada vez mais tinha vontade de entender e de crescer no mundo da informática.
Um dia, a convite de um professor de lógica de programação, fui a um evento da Microsoft, o Microsoft Inovations Days, onde eles apresentavam tecnologias MS para muitas coisas e falavam de linguagens como C#, que eu achei muito parecida com Java. Não gostei muito do evento, mas valeu a pena.
Eu tinha um desejo crescente de ir ao FISL, pois nas revistas que eu lia parecia ser a meca do software livre no Brasil, até hoje não consegui ir ao evento, mas esse ano eu vou.