Subscrição
O modelo de subscrição é, provavelmente, o mais notório de todos. Seu funcionamento é muito simples: cria-se um mecanismo de subscrição e todos os clientes subscritos terão acesso a suporte, treinamento, migração e outros serviços referentes ao software desenvolvido pela empresa.
Há quem diga que outro concorrente pode usar esse mesmo software para prestar esses serviços. De fato, isso pode acontecer, mas raramente isso representa um problema para a empresa que originalmente desenvolveu o software e que o mantém.
Pense bem, se você deve escolher de qual empresa vai obter suporte, qual vai escolher: a desenvolvedora do software ou outra que chegou depois? Perceba, portanto, que é mais provável que surjam parceiros do que concorrentes. Esses parceiros atuarão em conjunto com a empresa central, criadora do software, ajudando a divulgar e ampliar a utilização deste software, fortalecendo seu ecossistema.
Software como serviço
Outro modelo muito comum, é o uso de software livre para transformá-lo num serviço.
Como isso funciona? Cria-se uma infraestrutura para disponibilizar o software e a clientela paga para ter acesso a esse serviço.
Há uma ampla gama de serviços desse tipo: servidores de correio, servidores de arquivos, servidores WEB, servidores de bancos de dados, entre muitos outros. A vantagem para o cliente, está em não precisar criar uma infraestrutura própria. Essa técnica faz parte da famosa "computação em nuvem".
Adaptação/modularização
A criação de módulos para adaptar um software livre, também é um modelo que se estabeleceu com solidez no mercado de TI. Quando alguma empresa ou órgão precisa de um determinado software, mas com modificações, pode contratar uma equipe de desenvolvedores que implementem as modificações desejadas.
Além de ajudar a ampliar o uso do software, este modelo ainda o ajuda a evoluir. Esta flexibilidade é possível, graças ao fato de o software ser livre e portanto permitir que sofra modificações.
Certificação
A certificação é uma forma de dar ao software um caráter mais profissional. Uma empresa pode oferecer provas de certificação no software que desenvolve, cobrando pela inscrição.
Profissionais certificados terão melhores oportunidades no mercado para prestar serviços de suporte, treinamento e migração, por exemplo.
Casos reais
- Red Hat, SUSE e Canonical: essas três empresas apostaram no modelo de subscrição. Embora esse modelo não seja o único utilizado pelas três, é provavelmente o que lhes deu mais destaque e oportunidades. Graças a essas três empresas, entre outras que também adotaram esse modelo, o GNU/Linux está amplamente difundido no mercado de TI, especialmente em servidores. Elas oferecem soluções de grande porte, envolvendo migração, certificação, treinamento, consultoria e suporte, vinculados aos produtos que desenvolvem e/ou ajudam a desenvolver, como o próprio núcleo Linux, por exemplo.
- ownCloud: a empresa ownCloud adotou o modelo de software como serviço. Desenvolveu o software de mesmo nome e o usa para prover serviços de armazenamento na nuvem. A ownCloud conta com vários parceiros que disponibilizam a infraestrutura para prestação do serviço.
- MyKolab: a empresa suíça Kolab Systems, também adotou o modelo de software como serviço, para servidores de correio. Sua premissa é oferecer contas de e-mail para quem procura máxima privacidade. Os clientes pagam por uma conta, ajustando o valor de acordo com sua demanda por capacidade (espaço em disco). O serviço é baseado totalmente em software livre. O software servidor de correios utilizado é o Roundcube, que recebe contribuições de código da Kolab Systems.
- Moodle: o Moodle é uma plataforma de aprendizagem desenvolvida pelo educador e cientista da computação australiano Martin Dougiamas. Esta plataforma foi construída com foco na modularização, permitido que várias extensões sejam criadas para adicionar funcionalidades. Isto abriu o espaço para que inúmeros desenvolvedores e fábricas de software atuassem no mercado provendo serviços de adaptação do Moodle. Vários tipos de cursos on-line podem ser criados com essa plataforma, com as funcionalidades e adaptações que forem necessárias.
- The Document Foundation (TDF): a fundação TDF é responsável pelo projeto LibreOffice e oferece diferentes tipos de certificação, referentes a desenvolvimento, migração, treinamento e suporte.
Posso citar também dois exemplos de casos brasileiros:
- Stoq: o Stoq é uma suíte de aplicativos para gestão comercial desenvolvido pela Async Open Source, uma empresa de São Carlos - SP. A suíte é livre e gratuita, porém, a empresa oferece serviços de suporte, treinamento e adaptação do software.
- pgModeler: o pgModeler é uma ferramenta de modelagem de dados para PostgreSQL, desenvolvida pelo cientista da computação Raphael Araújo e Silva, de Palmas - TO. O código-fonte da ferramenta está publicamente disponível, porém, para adquirir versões binárias do software, é preciso comprar um pacote de downloads. Por um ano, é possível fazer quantos downloads desejar. Além disso, o autor vende a documentação completa da ferramenta, sendo possível também fazer quantos downloads desejar por um ano, após a compra.
Conclusão
A ideia de que software livre é um trabalho amador e de que não se sustenta no mercado de
TI, é um mito disseminado especialmente por interesse das empresas que vendem software proprietário. No entanto, existem modelos de negócio para o software livre já consolidados e que funcionam muito bem, como foi mostrado no artigo.
Não citei alguns modelos como a licença dual e a licença com prazo de validade, porque são modelos que estão mais alinhados com a ideia do "código aberto", do que com o software livre propriamente dito.
Em outras palavras, eles até ajudam a propagar o software livre, mas partem do princípio de que ele deve coexistir com o software proprietário para se sustentar.
Essa ideia não é benéfica ao ecossistema do software livre, por tratá-lo como incompleto e dependente do software proprietário. Mas, aqui está uma referência para quem tiver interesse em conhecer esses modelos:
Pois bem, espero ter esclarecido melhor como o software livre pode se encaixar no mercado de TI.
Agora você já pode defendê-lo, portanto, não deixe que o mito da sua "insustentabilidade" se espalhe.