Voltando ao assunto, de fato, Linus também comentou na ocasião que esse inchaço é "um problema" e que ainda "não há plano" pra mudar a situação - mas não significa que é algo crônico, nem que uma solução não esteja a caminho, muito menos (e muito menos mesmo) que o kernel
Linux esteja se inclinando à entropia (conceito universal que descreve a tendência dos sistemas ao desgaste ou desintegração, com consequente relaxamento de padrões e aumento da aleatoriedade, mas, tendência não é sentença).
Não, o Linux não está doente e essa declaração de Linus não significa que ele pode ficar tão inchado e doente quanto o Windows. São duas situações diferentes. O inchaço do Linux deve sim ser tratado com atenção, mas tem muito mais a ver com crescimento e demanda, enquanto no inchaço do Windows além do crescimento pra atender (monopolizar) o mercado, muitas e muitas linhas novas precisam ser escritas nele pra resolver, tentar corrigir e fazer "remendos" em "buracos" na estrutura e na segurança do sistema.
Só mesmo uma fatalidade faria o
GNU/Linux ficar como o Windows. E mesmo assim, contornar a situação é bem mais fácil e bem mais possível no projeto GNU/Linux antes que possamos imaginar que o caos um dia possa acontecer.
Outro ponto é que estamos falando "DO" kernel do Linux. Agora, o estado de inchaço do kernel "ATUAL" do Windows sim está crônico, analistas já alertaram que o caminho que a Microsoft está trilhando ruma para o colapso a médio prazo, e o principal problema é a falta de modularidade (trataremos disso num parágrafo mais abaixo).
Eu disse kernel "ATUAL" do Windows pois este já é o "segundo" kernel da Microsoft - o "primeiro" kernel foi a base da implementação lá do antigo MS-DOS e seus derivados Windows 95 e 98, e morto com o Windows ME, e o utilizado atualmente vem do Windows 4.0 NT, projeto paralelo com foco em redes lançado pouco antes do Windows 95, vindo mais à tona com o Windows 2000 e estabelecido de vez no Windows XP, também usado no Windows 2003 Server, e que também é base para o Vista, 2008 Server e Windows 7.
E quando falo "DO" kernel Linux é porque ele é só um desde o início, crescendo sobre uma base sólida, e é aí que está uma das grandes diferenças, pois, enquanto que em pouco mais de 20 anos um kernel do Windows já morreu e o outro está indo "mal das pernas", o kernel Linux em 15 anos pode até estar ficando "acima do peso" temporariamente, mas ainda está saudável e se desenvolvendo - não é à toa que ele foi avaliado recentemente em cerca de 1 bilhão de Euros.
Outra grande diferença, é que, apesar do alerta sobre o kernel Linux, o aviso foi dado muito antes e sobre um problema que "PODE" vir a acontecer, aviso dado por quem mais entende do assunto, e este aviso ainda só aponta "CAUSAS" que ainda "NÃO" tiveram consequencias amplas, causas que podem ser contornadas, é só um alerta, não uma notificação de problema estabelecido.
Por outro lado, quando se fala do Windows muitos se fazem de desentendidos, não assumem a situação, fazem de conta que está tudo bem, enquanto têm nas mãos algo que já "É" um "PROBLEMA" estabelecido, com consequências e "EFEITOS" graves e visíveis, considerado por analistas como uma situação insustentável - bem, esse comportamento do pessoal do Windows parece que faz parte da cultura da maioria dos "monopolitanos" fornecedores de software.
Pelo menos na teoria, o kernel Linux e o primeiro kernel do Windows seguem o mesmo modelo, o chamado kernel monolítico, com um núcleo principal que integra e trabalha com módulos responsáveis por operações específicas, ou seja, uma estrutura modular, mas na qual software e hardware se relacionam mais diretamente com o kernel.
O segundo modelo e atual kernel do Windows, chamado de híbrido é caracterizado por uma modularidade mais "evoluída" que o primeiro aliada a conceitos vindos da estrutura dos microkernel, que em tese dividem as operações em vários núcleos, onde o kernel traz junto com ele servidores para gerenciar operações de forma mais externa, dividindo o trabalho pra não sobrecarregar o núcleo principal, e software e hardware se relacionam principalmente com esses servidores, além de uma possível relação direta com o kernel, quando preciso, mais controlada, modelo este que visa proporcionar ao sistema uma melhor performance - o Mac OS X (que é um Unix-like como o Linux, só que derivado do BSD) também usa este modelo. Mesmo assim, com o Windows hoje implementado sobre um tipo de kernel que parece mais moderno, ele não consegue ter a mesma eficiência e estabilidade do Mac (que usa a mesma idéia de kernel), e, pior que isso, não consegue ser melhor que o Linux que tem um modelo de kernel aparentemente mais "antigo".
Pode-se até dizer que o Windows por ser "mais popular" e suportar "quase todo tipo de periféricos" justifica o fato de ele ser maior e mais inchado, e que o GNU/Linux é "menor" porque "não possui os mesmos recursos", mas isso é um mito. Como dito acima, o GNU/Linux roda sobre praticamente todo tipo de dispositivo em variadas plataformas, enquanto o Windows praticamente só serve para PCs, quase um único "dispositivo" e plataforma - rodar de relógios a mainframes não é a mesma coisa que simplesmente ter driver pra baixar fotos dos milhares de tipos de câmeras digitais existentes. Isso é uma comparação intermediária.
Nesse aspecto, voltando-se mais para uma das principais funções do kernel, o gerenciamento do hardware, no Linux isso é muito mais eficiente que no Windows, só a memória é um exemplo: enquanto 2 GB quase que não são suficiente para satisfazer o Windows Vista e até o ovacionado Seven, o Ubuntu Linux gasta quase 4 vezes menos memória, e quando algum programa ou operação "pisa na bola" o kernel não deixa que ele passe dos limites (pelo menos não é pra deixar), como acontece no Windows em que eu programa mal elaborado pode comprometer todo o sistema.
E vindo a algo mais superficial, enquanto o Aero do Windows Vista e do Windows 7 exige que você tenha um poderoso aparato de processamento de vídeo, 3D, etc, só pra habilitar o "vidro transparente", o ambiente gráfico Gnome, padrão do Ubuntu, já proporcionava efeitos visuais e animações muito mais legais (menos extravagantes) antes que o Vista fosse lançado, consumindo bem menos recursos (isso porque eu nem falei do KDE, que inspirou muitas idéias no visual do Windows Vista e do Seven). Bem, existem mais e mais comparações, mas vamos nos ater ao nosso foco.
Quando eu falei sobre os "remendos" do Windows, isso também é outra diferença expressiva. Quase toda semana descobre-se falhas no Windows, e geralmente elas só são descobertas e vêm à publico depois que o estrago já está feito. Não necessariamente estas falhas têm relação direta com o kernel, mas por ele ser a "raiz" do sistema sua estrutura acaba sendo refletida nos efeitos sofridos por toda a "árvore".
No Linux as falhas são bem menos frequentes e menos graves, e praticamente sempre são corrigidas antes que elas se tornem públicas aos usuários finais. Nesse aspecto também temos o quesito segurança. Uma outra função do kernel é o controle do sistema de arquivos, e isso é intimamente relacionado à "segurança final" e à eficiência do sistema.
No Linux o sistema de arquivos possui uma estrutura e organização sólida e bem definida desde o início, algo que ele herdou (e aperfeiçoou) do Unix. Além disso, ele dá suporte a vários tipos de sistemas de arquivos (inclusive aos FAT e NTFS do Windows), como o Ext3 e agora o Ext4, muito mais robustos, que garantem a maior integridade dos dados armazenados, além de terem capacidade de volume de armazenamento maior.
No Linux o controle de acesso a partes vitais do sistema operacional através do sistema de arquivos é muito bem elaborado, evitando que operações prejudiciais possam ser executadas sem prévio e claro consentimento. No Windows, a Microsoft às vezes não consegue manter nem a estrutura de pastas de uma versão pra outra, os sistemas de arquivos são frágeis e têm capacidade de armazenamento menor, e um simples arquivo mal-intencionado armazenado pode ser executado deliberadamente, prejudicando não só o software quanto em muitos casos o próprio hardware.
Inevitavelmente a gente cai nessas comparações, e escreveríamos parágrafos e mais parágrafos para argumentar e exemplificar, falar de rede, estabilidade, etc, mas o objetivo não é "queimar" um sistema em detrimento do outro, e sim fazer comparações técnicas (nesse artigo elas estão mais pra conceituais, eu sei) que podem servir de exemplo principalmente pra quem trabalha com desenvolvimento de software.
Porém, em 2009 na ocasião do lançamento do Windows 7 a Microsoft iniciou uma campanha ainda mais deliberada contra o GNU/Linux, e esses argumentos diante dessa situação são importantes para que possamos perceber e agir diante de uma situação típica de alguém que está falando do cisco no olho do outro desconsiderando a trave que está no seu próprio olho.
E no caso do GNU/Linux, isso não é motivo para desespero. Quem é do ramo sabe que uma das principais vacinas contra o que realmente acaba se tornando inchaço em um sistema é modularidade, e por mais que o alguns digam que o Linux não possui o modelo de modularidade ideal, ele é trabalhado de uma das maneiras mais eficientes possíveis, ao contrário do Windows, em que isso é um dos problemas que o levarão ao colapso segundo analistas, mas no Linux, se esse aspecto não fosse de fato eficiente não teríamos tantas opções de versões ótimas de GNU/Linux pra escolher, como Debian, Ubuntu, SUSE, RedHat, Mandriva, Slackware etc, com diversos tipos de ambientes gráficos ótimos como Gnome, KDE, etc, tantas formas de aplicá-lo nos mais diversos aparelhos e ramos, tudo isso sobre o mesmo kernel - e que por falar em distribuições, como exemplo dessa modularidade eficiente, não podemos deixar de citar que os desenvolvedores de uma determinada distribuição podem inclusive otimizar o kernel e até "enxugá-lo" para finalidades específicas, até mesmo o usuário final pode mexer no kernel, desde que saiba (flexibilidade nada mal pra um kernel "gordinho").
Sem contar pra nós desenvolvedores de software pra "usuário final", que no GNU/Linux temos possibilidade de desenvolver aplicações portáveis e até multiplataforma, que rodam e utilizam recursos do sistema de maneira leve sem precisar estar necessariamente "agarradas" nele, ao contrário da maioria das aplicações para o Windows, que quase sempre pra mostrar um simples "Hello Word!" precisam estar amarradas vitalmente às APIs do Windows. Só com isso eu já posso considerar a modularidade do Linux, do kernel ao ambiente gráfico, imensamente melhor que a do Windows.
E não é só uma questão técnica. Entra aí algo meio filosófico também, relacionado ao modelo de desenvolvimento de ambos. Não é só a parte técnica do Windows que está comprometida, mas o modo de pensar de quem desenvolve, de quem usa e de quem segue seus padrões. Mesmo que o Linux venha e ter de fato um problema como este sinalizado pela frase do polêmico
Linus Torvalds, eu acredito que será algo temporário e de proporções não tão graves, algo que será contornado antes que realmente aconteça, e que no fim das contas contribuirá pra que o sistema fique melhor, pois no modelo de desenvolvimento do GNU/Linux as pessoas trocam informações, se ocupam em fazer o melhor, colaboram e aprendem uns com os outros, têm a mente aberta pra buscar novas e melhores alternativas (afinal é por isso que o GNU/Linux é o GNU/Linux).
Na comunidade GNU/Linux, do kernel às aplicações finais mais simples, os desenvolvedores, "analistas", "agentes de suporte", usuários, não precisam ser experts, mas talvez uma das principais qualidades que eles têm que ter é a humildade, e saber que não são donos da razão, estão desenvolvendo em equipe, precisam saber trabalhar em equipe, uma equipe global de tamanho e potencial sem precedentes na história, por isso o que um faz hoje pode ser melhorado por outro amanhã, e nessas horas, se eu fiz algo e o outro melhorou, ou se eu fiz algo errado e o outro corrigiu, o que é melhor e mais sensato, defender o meu ego ou me aliar à evolução para o meu bem para o bem de todos?