Regra 1: veja se você sabe instalar o Linux
Essa é a mais importante de todas. Se você não souber instalar o sistema, não adianta ele ser bom e atender plenamente a empresa, pois sempre existirá algum problema. Quando digo instalar o sistema, não é apenas botar um live CD e pronto. É necessário fazer uma instalação decente, configurar a rede, os dispositivos, os direitos do usuário, se necessário compilar algum driver de dispositivo etc. É importante também conhecer e saber instalar bons softwares no
Linux.
Regra 2: verifique se é possível instalar o Linux na empresa
Faça uma lista de todo hardware da empresa. Liste também os periféricos como impressoras, scaners etc. Verifique se o sistema tem suporte para esses itens. Não adianta fazer uma instalação em que o vídeo fica numa resolução baixa, o teclado não aceita acentos, a impressora não funciona e por aí vai.
Regra 3: verifique se o Linux vai atender a empresa
Você deve verificar antes qual o campo de atuação da empresa e as necessidades diárias dela em termos de software. Faça uma lista de todos os programas que a empresa utiliza e verifique a disponibilidade de opções em Linux. Se a empresa utiliza apenas editores de texto, planilhas eletrônicas etc, fica bem fácil.
No caso de softwares mais específicos, mesmo que tenha opções equivalentes para Linux, não é recomendável a instalação. Ex.: se a empresa necessita do Photoshop, não adianta você falar que existe o Gimp que faz a mesma coisa. Se o funcionário usa o Photoshop, ele não vai querer aprender Gimp só porque você está tentando implantar um novo sistema.
Outra situação que é bem comum é a empresa que tem um software próprio de gerenciamento que normalmente é para Windows. Uma opção, que não é ideal mas tenho como aceitável, é a emulação via Wine. Inclusive o software que desenvolvo e é utilizado em todos os meus clientes é feito em Delphi para Windows. Fiz algumas alterações e consegui rodar com perfeição no Linux emulando via Wine.
Vocês podem até me perguntar porque não faço o programa nativamente para o Linux em Kylix ou FreePascal. A verdade é que existe uma lacuna de ambientes de desenvolvimento em Linux. Se a pessoa não programa em C (e derivados) ou Java, não existe uma ferramenta eficaz para desenvolvimento em Linux. Talvez daqui alguns anos o Lazarus esteja mais maduro e funcional.
Regra 4: padronização é tudo!
É essencial que se instale a mesma distribuição em todas as máquinas. Deve ser utilizado o mesmo
ambiente gráfico com as mesmas configurações em todos os computadores. Parece até ser um erro fazer isso, pois um dos pontos fortes do Linux é a possibilidade de personalização. Se a instalação for diferente em cada máquina, o usuário vai perder muito tempo procurando opções ao sentar na máquina do lado.
Outro problema é quando você precisa dar suporte, principalmente por telefone. Imagine você perguntar para o usuário: Qual a distribuição que está instalada aí? Qual o ambiente gráfico? Até você conseguir fazer o usuário clicar em um botão certo já vai ter perdido muito tempo...
Imagine também você ter que dar um treinamento em cada distribuição diferente? E também é muito mais fácil para o instalador ficar fera em uma distribuição do que ter que aprender os macetes de cada distribuição. Eu normalmente uso Ubuntu, mas o ideal é cada instalador usar a que ele se sente mais a vontade. A nível de usuário qualquer distribuição é fácil, desde que bem instalada.
Regra 5: lugar de brincadeira é em casa
Nada de ficar colocando efeitos malucos na interface do usuário. Coisas como janelas pegando fogo, rebolando, quebrando ou outras firulas não são coisas que empresas querem. Você não deve perder seu tempo com isso, pois é completamente desnecessário. Você aproveitará melhor o seu tempo configurando a sistema de forma a obter um melhor desempenho.
Regra 6: utilize o melhor dos dois mundos
Não é necessário acabar com o Windows na empresa. Como profissional, temos que pensar sempre em oferecer o melhor para o cliente, e se o melhor for manter o Windows em algumas máquinas, que assim seja. O importante é que funcionem bem. Já tive casos em que deixei o Windows em 1 máquina por causa de um scanner que não funcionava no Linux.
Regra 7: ensine como se usa o sistema
Todos sabem que usar o Linux é simples. Algumas complicações surgem apenas na hora de instalar, mas depois de instalado é muito simples mesmo. De qualquer forma é bom dar um treinamento básico para os usuários para eles não se sentirem completamente perdidos. Lembre-se que o ser humano é acomodado por natureza e sempre vão existir pessoas descontentes. Tente fazer a transição da melhor forma possível. Deve ser levado em conta também que a maioria dos usuários farão comparações com o Windows. Isso é inevitável, então você já deve, em seus treinamentos, estar preparado para perguntas do tipo: Como é que eu abro o Word? Alguns técnicos inclusive instalam temas que fazem a máquina ficar idêntica ao Windows. Eu não costumo fazer desta forma mas acho que é uma opção válida.
Regra 8: não amarre os braços do usuário
Não é só porque o Linux é considerado mais seguro que você tem que sair bloqueando tudo para o usuário. Verifique as permissões que ele tinha com o sistema anterior e configure da mesma forma no novo sistema. Ficar bloqueando o usuário só vai gerar insatisfações.
Regra 9: você está fazendo um excelente trabalho!
Tenha sempre em mente que a empresa não está fazendo um favor em "deixar" você instalar o Linux.
Você é que está fazendo um ÓTIMO TRABALHO para a empresa, instalando um excelente sistema com
diversos pontos positivos. Então nunca deixe de cobrar o valor justo pelo seu trabalho, inclusive os treinamentos e manutenção. Se o valor da instalação do Linux for mais cara que do Windows, não deixe de cobrar desta forma.
Regra 10: sinceridade é a base de um bom relacionamento
Você deve sempre deixar o dono da empresa ciente dos problemas que podem ocorrer e das limitações que podem existir. Por exemplo, ele sempre vai ter que verificar a compatibilidade de novos dispositivos ou programas com o Linux antes de comprar.
Regra 11: é possível não dar certo
Isso mesmo! É possível que depois de instalado o sistema não atenda a empresa da forma esperada. A ideia da instalação é trazer soluções, mas se ela estiver trazendo apenas problemas não é absurdo nenhum você ter que voltar atrás. Lembre-se que a instalação não é uma aposta apenas sua. Quem irá colher os melhores frutos de uma instalação bem sucedida é a empresa, então nada mais justo que a empresa pagar o ônus de um possível insucesso.
É importante lembrar que se você seguir as regras anteriores será muito provável que você não tenha problemas de implantação ou então nem venha a instalar o sistema.
Considerações finais
Bom pessoal, essas são as regras que sigo antes de fazer uma instalação de Linux em empresas e tenho obtido sucesso. Já instalei mais ou menos 50 cópias do Ubuntu em 3 empresas e está funcionando muito bem. A instalação mais antiga já funciona a mais de um ano sem reclamações.
Quero deixar claro também que estas regras de instalação eu fui bolando com o tempo e com o uso,
inclusive já quebrei a cara algumas vezes tentando instalar Linux. As regras não são obrigatórias nem definitivas. Ficam essas regras como sugestão, mas espero que cada uma tenha as suas regras e tentem trabalhar com o Linux da melhor forma possível.
Abraços,
Renato