A única vez que falei sobre usabilidade no VOL foi em um artigo de 2009 chamado
Teoria das Formas e o Aumento da Usabilidade. Porém fiquei novamente interessado no assunto quando comecei a usar
Gnome-shell no
Fedora e, para efeitos de comparação, o
Unity no
Ubuntu.
Gnome-shell é o gerenciador de janelas do
Gnome 3 desenvolvido pela equipe de desenvolvedores do Projeto Gnome e o Unity é o gerenciador de janelas do Ubuntu, desenvolvido pela Canonical. Ambos exigem suporte 3D via OpenGL.
Eu tinha que decidir qual interface utilizar já que o ciclo de vida do Gnome 2 tinha chegado ao fim, e para tomar essa decisão eu resolvi usar alternadamente os dois ambientes por um tempo até saber com qual deles eu me sentiria mais confortável, qual seria o mais produtivo.
O ambiente mais produtivo seria aquele que me permitisse realizar minhas tarefas da forma mais descomplicada e com o mínimo de esforço necessário, como por exemplo, o mínimo de movimentos e cliques de mouse para alcançar o objetivo e o mínimo de distrações durante a realização de uma tarefa. Outras terminologias que eu poderia usar ao invés de ambiente mais produtivo poderiam ser: ambiente mais eficiente ou ambiente de maior usabilidade.
Após testar o Gnome-shell e o Unity por um tempo eu acabei optando pelo Gnome-shell. Porém minha decisão não foi baseada em critérios rigorosos, eu apenas senti um pouco menos de facilidade ao usar Unity depois de um tempo usando Gnome-shell sendo que o oposto não aconteceu.
A partir disso resolvi tentar organizar de forma objetiva em um artigo algumas características do Gnome-shell sob a perspectiva da usabilidade, não em comparação ao Unity, mas apenas para compartilhá-las com os usuários que não gostaram do Gnome 3 ou que não o conhecem. Quem sabe assim, fornecendo essas informações, eu consiga fazer com que o julgamento desses usuários sobre o Gnome 3 seja mais suave.
Área de Trabalho
Eis a aparência inicial padrão do Gnome-shell na distribuição Fedora:
Área de trabalho do Gnome 3 no Fedora
O que mais chama atenção é o aspecto limpo da área de trabalho, sem ícones, sem barra de tarefas, apenas o papel de parede e informações importantes no topo. Ao clicarmos na área de trabalho nada acontece, nem mesmo com o botão direito, ao contrário do Gnome 2 que exibe um menu. A princípio isso pode parecer uma limitação, mas olhando bem, pode não ser.
O objetivo dos desenvolvedores, acredito, foi proporcionar um ambiente limpo. As únicas coisas que ficam na área de trabalho são as janelas dos programas que o usuário abrir. Fazendo uma comparação: uma mesa limpa é um local mais agradável para estudar ou trabalhar do que uma mesa cheia de itens como grampeadores, porta-caneta, peso de papel, e outras papeladas que você não vai usar.
Tudo bem, muitos desses itens citados são uteis e é bom deixá-los na mesa para termos fácil acesso a eles quando precisarmos. Seria mais rápido pegar uma caneta que já esta em cima da mesa do que ter que pegá-la na gaveta, por exemplo. Porém, outra forma de ver a situação é imaginar que seria mais lógico e agradável, antes de começarmos uma tarefa, nos depararmos com um ambiente limpo e depois, aos poucos, conforme a necessidade, dispormos na mesa um a um os itens que iremos utilizar. Esse é conceito da área de trabalho do Gnome-shell.
Em outras palavras o Gnome-shell é, em certo sentido, minimalista em comparação a outros ambientes como
KDE,
Windows 7 e outros sistemas.
Para fazer uma comparação pense no
Internet Explorer 8 e no
Google Chrome. O Internet Explorer é cheio de menus e botões que muitas vezes não são utilizados com frequência, poluindo a visão do usuário, enquanto o Google Chrome é limpo tendo apenas o essencial, mas com todas as funcionalidades disponíveis em um único botão de ferramentas.
Internet Explorer 8
Google Chrome
O Gnome-shell é minimalista em comparação a alguns ambientes, assim como o Google Chrome é em relação a alguns navegadores. A ideia é valorizar a simplicidade, tornando a execução das tarefas mais objetivas pela abolição de poluição visual. Não quero dizer que o minimalismo agrada a todos os usuários, mas essa é uma característica do Gnome-shell.
Obs.: O Internet Explorer 9 já tem um aspecto minimalista. Com certeza por influência da aparência do Google Chrome.
Internet Explorer 9
Obs.: há uma opção de configuração que permite ao usuário exibir ícones e menus na área de trabalho caso deseje.
Notificações
As notificações do Gnome-shell surgem suavemente na parte inferior da tela e não entram em conflito com a execução das atividades do usuário. Enquanto que em alguns sistemas é exibida uma janelinha que salta na frente do usuário atrapalhando o que ele estava fazendo só para exibir uma mensagem.
Imagine que você está trabalhando na sua mesa de escritório, redigindo um ofício ou lendo alguma coisa e então sua secretária chega repentinamente e coloca bem na frente dos seus olhos um bilhete com algum aviso, atrapalhando sua leitura e quebrando sua linha de raciocínio. Horrível, não?
Exemplo de notificação inconveniente
Teria sido melhor se ela tivesse deixado discretamente o bilhete num local de fácil acesso. Você a perceberia com sua visão periférica colocando o bilhete em local adequado, e poderia escolher vê-lo imediatamente ou depois que terminar sua tarefa.
Bem, as notificações do Gnome-Shell, depois que aparecem suavemente na parte inferior da tela sem interferir em nada na atividade do usuário, se escondem e ficam armazenadas no canto inferior direito, mas a partir daí só se tornam visíveis quando o usuário decide vê-las, levando o cursor do mouse até o canto inferior direito.
Barra de notificação do Gnome 3 na parte inferior
Outros tipos de controles estão disponíveis no canto inferior direito, como notificações do mensageiro instantâneo e controle do tocador de música.
Mas essas informações ficam escondidas até que o usuário decida vê-las.
Controle do tocador de música através da barra de notificação
Algo muito bom é a notificação de mensagens do mensageiro instantâneo. Quando alguém fala com o usuário ela surge e o usuário pode, se quiser, respondê-la imediatamente, apenas clicando sobre a notificação, sem precisar trocar de janela e perder o foco do que eu estava fazendo. Isso permite que o usuário responda rapidamente a mensagens do
Empathy e volte imediatamente a fazer o que estava fazendo.
Notificação de mensagem no Gnome 3 - É possível responder diretamente por ela sem abrir a janela no mensageiro
A imagem acima não é da janela do mensageiro, e sim da notificação da mensagem. Acontece que eu posso responder tanto na janela do programa como na própria notificação. No Ubuntu, por exemplo, temos que clicar na notificação que irá nos afastar do que estivermos fazendo para abrir a janela de conversa que vai sobrepor a janela de uma atividade anterior, e depois que respondermos a mensagem temos que mudar o foco para a tarefa na janela anterior. Essa troca de janelas para responder mensagem não é necessária no Gnome-shell.
Informações no topo
O topo da tela, por estar mais próximo da direção dos olhos, é um local ideal para exibir informações que devem estar sempre à vista, como data e hora, carga da bateria, sinal de rede etc. No Gnome-shell, por padrão, as informações do topo são da esquerda para direita: atalho de atividades, aplicativo em primeiro plano, data e hora, demais applets, e menu de opções e status do usuário.
Área de trabalho do Gnome 3 mostrando o menu do usuário
Obs.: há extensões que modificam as informações do topo, inserindo atalhos para aplicativos favoritos, mudando a disposição do relógio e outros.