Entrevista
Larry, a vaca, é um dos mascotes da distribuição
Gentoo Linux (o outro é Knurt, o pires voador). Há anos ela vem acompanhando de perto os reboliços da história "gentooniana", bem como as mudanças ocorridas no cenário do GNU/Linux de uma forma global. Nesta entrevista, concedida exclusivamente para o
VOL, Larry diz o que pensa sobre uma das mais inovadoras distribuições Linux, mas que curiosamente possui um público muito seleto.
Com vocês, Larry, a vaca.
Xerxes: Larry, diante da crescente popularização do
Linux, qual é a sua opinião sobre a distribuição Gentoo hoje?
Larry: A distribuição Gentoo é como um bolo caseiro. Você sabe que existem vários tipos de bolo. Algumas pessoas gostam de bolo de cenoura com cobertura de chocolate, outros preferem bolo de milho etc.
Xerxes: ?!
Larry: Quando você quer comer um bolo, basicamente tem duas opções: ou compra um pronto, ou faz um em casa; depende da sua disposição. No período atual tenho a impressão de que as pessoas estão preferindo bolos prontos, mas isso não é regra.
Xerxes: Deixa ver se entendi... você está querendo dizer que o Gentoo pode, um dia, se tornar tão popular quanto... os "bolos prontos"?
Larry: Não, não... Acho que isso nunca acontecerá. O que quero dizer é que o bolo feito em casa sempre existirá... Pode não ser alá Gentoo, mas sempre existirá. E esse tipo de bolo, quando o boleiro sabe o que faz, é o mais saboroso.
Xerxes: É verdade que a quantidade de usuários da distribuição Gentoo está diminuindo?
Larry: Em proporção, pode ser, mas não em valor absoluto, creio. O Gentoo tem um público bem definido, em contrapartida, há um aumento constante de usuários de outras distribuições. Isso pode dar a impressão de que o número de usuários do Gentoo está ficando menor, quando na verdade ele se mantém mais ou menos igual.
Xerxes: Qual o perfil dos usuários do Gentoo?
Larry: A maioria é formada por usuários descontentes com as outras distribuições, ou seja, por pessoas que nunca encontraram o "bolo perfeito". Há também aqueles que experimentaram o bolo alá Gentoo por pura curiosidade e gostaram da experiência.
Xerxes: Você poderia falar um pouco sobre a história do Gentoo?
Larry: Gentoo foi criado por
Daniel Robbins em dezembro de 1999, mas ainda não tinha esse nome. Seu nome na época era... Hmm... Enoch. O Gentoo sofreu grande influência do FreeBSD... Dessa influência que surgiu o famoso gerenciador Portage... E a primeira versão com o nome Gentoo foi lançada em março de 2002. Antes que me pergunte: Gentoo é o nome da espécie de pinguim mais veloz que existe.
Xerxes: Mais veloz que existe? Isso não seria puro marketing?
Larry: Claro! (risos).
Em princípio, o desempenho dos processos pode ser grande se o sistema for construído com capricho, através da seleção criteriosa de parâmetros que o tornam muito específico... Porém, no fim, não haverá diferenças perceptíveis de desempenho entre esse sistema e outro "genérico" bem feito.
Xerxes: Se não é a velocidade, qual é então a principal vantagem do Gentoo?
Larry: Já o disse. É a sua maleba... malebia...
Xerxes: Maleabilidade?
Larry: Isso, obrigada. Gentoo foi criado para permitir ao usuário um total controle do mesmo em vários aspectos. O próprio Daniel Robbins disse.. Deixa eu ver.. (pega um caderninho e lê):
"A meta do Gentoo é desenhar ferramentas e sistemas que permitam ao usuário fazer seu trabalho da forma mais agradável e eficiente possível (...) Nossas ferramentas devem (...) ajudá-lo a apreciar a riqueza do Linux (...) e a flexibilidade do software livre. Isso só é possível quando a ferramenta é desenhada para refletir e transmitir o desejo do usuário e deixar as possibilidades abertas para a forma final da matéria-prima (o código-fonte). Se a ferramenta força o usuário a fazer as coisas de um jeito em particular, então a ferramenta está trabalhando contra, ao invés de a favor, do usuário. Nós todos experimentamos situações onde as ferramentas parecem estar impondo seus respectivos desejos em nós. Isso é contrário à filosofia do Gentoo."
Xerxes: Na sua visão, qual é o maior obstáculo que impede o crescimento da quantidade de usuários de Gentoo no Brasil?
Larry: Eu poderia citar a falta de documentação atualizada em português, a demora para montar o sistema usável em desktops e o processo "manual " de instalação.
Xerxes: O que você teria a dizer para os usuários que estão começando a ter contato com o Linux?
Larry: Usem Gentoo. (risos)
Brincadeira... Er... Eu diria que no começo não devemos nos apegar apenas a uma distribuição. Testem muitas distros e se possível outros sistemas derivados do Unix como OpenSolaris e OpenBSD. Também é indispensável ler bastante sobre o assunto e procurar, dentro do possível, compartilhar conhecimento.