lcavalheiro
(usa Slackware)
Enviado em 12/01/2016 - 01:04h
Eu considero o fato de uma distribuição vir pelada, isto é, sem uma grande quantidade de programas pré-instalados, uma vantagem. Isso permite ao usuário (em teoria pelo menos) instalar somente o que ele quiser no sistema. Claro, graças às porcarias e lixos chamados gerenciadores automáticos de dependências você instala uma série de tranqueiras desnecessárias sem ser questionado se você as quer ou não.
Antes, porém, de continuar, vou expor a definição que usarei para distro completa e distro incompleta:
- Distro completa: é aquela que contém em sua instalação todos os pacotes necessários para seu uso na finalidade proposta. Assim considerando, a única distro completa para server ou desktop é o Slackware. Uma instalação full já vem com todos os programas necessários para desenvolvimento de software, serviços para servidores dos mais diversos tipos, navegador, suíte de escritório (ok, é o Calligra, mas é uma suíte mesmo assim)...
- Distro completável: são aquelas que não trazem todos os programas pré-instalados, mas permitem fácil instalação dos mesmos. Praticamente todas as distribuições sérias hoje em dia caem nesta categoria - também, pudera: apenas no caso do Slackware é que todos os pacotes oficiais existentes ainda cabem em um DVD...
- Distros incompletas: são aquelas que devido a bugs ou falta de manutenção ou mesmo péssima arquitetura de SO não permitem uma boa experiência de uso. Aqui fatalmente se enquadram todas as distros que usam systemd.
Conceitos explicados... Vou falar apenas das distros que eu usei, continuam ativas e eu lembro alguma coisa sobre (dezenove anos, gente... minha memória não é tão boa assim, saca?):
- Slackware: ela é uma distro de produção em alta eficiência e confiabilidade. Não haverá nenhuma mudança na distro de um upgrade pro outro, que nem acontece com o Fedora, não haverá nenhum pacote engraçadinho por estar quebrado ou depender de um outro pacote removido da árvore de pacotes, como acontece frequentemente com as Debian-like. Uso a distro há 19 anos, e tirando pequenos detalhes tudo é feito do mesmo jeito desde então. Se você precisa de alguma coisa que não está na instalação full ou precisa de um pacote ainda mais recente basta compilá-lo que você não terá um sistema quebrado como resultado, o que acontece muito com as distros que confiam em gerenciamento automático de dependências.
- Debian: já foi uma boa distro. O declínio começou no Squeeze (ou Debian 6 para os menos íntimos), provavelmente em virtude da influência tóxica, nefanda, estapafúrdia, inconsequente, ignóbil, desprezível, ..., abominável, perniciosa, insidiosa do Ubuntu. O Squeeze foi a última versão da distro que realmente poderia ser chamada de estável. Agora, vejam como os fortes decaíram: o Debian se resignou à posição capacho de genérico do Ubuntu... De completável se tornou uma distro incompleta.
- Fedora: para quem gosta de tecnologias bleeding edge e não liga de ter que reaprender como a distro funciona a cada upgrade, bem como não tem medo de ver o sistema bonitinho, instaladinho, redondinho quebrar porque a forma como um pacote fundamental foi empacotada mudou radicalmente, o Fedora é a distro ideal. Ou seja: é para quem gosta de fortes emoções e trabalha em uma máquina com outro sistema operacional instalado. Incompleta, em virtude do systemd e desse complexo de Band News (em 10 minutos tudo pode mudar). O maior defeito dela é que ela é o parquinho de diversões de Lennard Poettering, onde ele desenvolve e divulga as porcarias que ele chama de software (Avahi, systemd, pulseaudio e alguns outros lixos).
- openSUSE: taí uma distro que era boa até o 13.2. O filho rico e europeu do Slackware era uma distribuição estável que contava com o melhor gerenciador automático de dependências até hoje escrito, o zypper. Adicionar repositórios de terceiros não era uma tarefa temerária, e o sistema funcionava com a lendária precisão e eficiência alemãs. Infelizmente, com a nova versão, o Leap 42.1, o openSUSE se tornou o campo de testes do SUSE Enterprise, e já dá sinais claros de que sofrerá dos mesmos males do Fedora. Apesar disso e apesar do systemd, é uma distro completável.
- CentOS: ela entrega o que promete: uma distribuição voltada para servidores. Porém, usa systemd, precisa de uma atenção redobrada na hora da instalação, alguns dos principais programas para servidores não estão em seus repositórios e seu uso como desktop exige umas pajelanças do arco da velha. Ponto "positivo": é o GNOME 3.x menos bugado que eu conheço. Se mantida em seu foco, servidores, é uma distro completável, mas em desktop é incompleta.
*buntus: eu já usei o Bugbuntu, o eXubuntu e o Lubuntu, versões 12.04 e 14.04. Sabe aquele negócio marrom que fica no fundo do vaso sanitário depois de um dia comendo feijoada com mocotó e dobradinha? Então, aquilo é o código fonte das distros do astronauta cara-de-pau. Houve um tempo em que era correto dizer que o *buntu era derivado do Debian Testing, mas não mais. A popularidade dessa refisefuquis e suas derivadas alterou muitos paradigmas da programação para GNU/Linux, e isso se reflete até na forma como os pacotes .deb, de longe os mais burocráticos e complicados de se criar, estão sendo criados e mantidos em nossos dias. Além disso, o .deb aos poucos desbanca o .rpm como padrão de empacotamento da indústria. Tal popularidade seria muito boa se os desenvolvedores do *buntu não houvessem aprendido a programar com Lennard Poettering. O resultado disso tudo: o *buntu inverteu sua relação com o Debian, e hoje é mais correto dizer que o Debian é uma versão derivada do *buntu do que o contrário.
- Gentoo: ai meu Satanás, que distro ao mesmo tempo gostosa e masoquista de se lidar! Dá um trabalho dos infernos deixá-la redondinha, mas se tudo for bem configurado ela fica ao seu gosto. Contanto que você não dê um "emerge --world" sem ler a wiki da distro antes... O Gentoo sim, é uma distribuição com aspectos didáticos, mas ela possui maturidade e estabilidade suficientes para ser usada em produção numa boa. Completável.
- Linux From Scratch: bom, tecnicamente não é uma distribuição, mas ao mesmo tempo é. Cai nos mesmos problemas do Gentoo, mas sem um gerenciador de pacotes para te ajudar (e acredite, no LFS você vai querer um). Resolvi esse problema compilando o emerge pra ele XD. Completável. As demais distros (tirando o Gentoo/Funtoo e o Slackware, que já o fazem) deveriam levar mais a sério as diretrizes do LFS...
- FreeBSD: ok, eu sei, não é um GNU/Linux... mas já que abrimos a caixa de Pandora e ninguém vai me deixar falar de coisas como a Yggdrasil, o SLS (que eu cheguei a usar), o Stampede, o Crux, e outras coisas mais exóticas, deixem eu chocar aqui com o Beatsie um pouco. Diga-se de passagem, todo slacker deveria conhecer o FreeBSD: as semelhanças de filosofia são absurdas, e será o nosso porto seguro caso o Slackware seja chamado de volta para se sentar à direita do grande J. R. "Bob" Dobbs. A comunidade de desenvolvedores é ativa, mas nunca vi tanto prego por metro quadrado como no canal irc do FreeBSD no FreeNode...
- Windows: merece uma menção honrosa porque todo gamer que se preze vai ter uma máquina Windows em casa - e porque ele é mais confiável, estável e usável do que os *buntus.
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Luís Fernando Carvalho Cavalheiro
Professor de Filosofia por paixão, halterocopista por gosto e moderador do VOL
Public GPG signature: 0x246A590B
Só Slackware é GNU/Linux e Patrick Volkerding é o seu Profeta