É comum encontrarmos referências ao
GNU relacionadas ao Linux. Algumas pessoas até fazem questão de escrever "
GNU/Linux" e não apenas "Linux".
Afinal, o que é GNU e o que isso tem a ver com o
Linux?
Para entender a relação que existe entre eles é preciso que saibamos um pouco da história do projeto GNU.
Começaremos com um resumo, muito resumido, da história do projeto GNU...
1. Richard Matthew Stallman
O projeto GNU foi criado por um hacker,
Richard Matthew Stallman, mas ele prefere ser chamado apenas de "rms". Disse ele certa vez:
Richard Stallman jovem
"Richard Stallman é apenas meu nome mundano; você pode me chamar de 'rms'."
Richard Stallman nasceu em 1953 e teve contato com computadores em 1969, aos 16 anos, no primeiro ano do ensino médio. Após concluir o ensino médio foi contratado pela
IBM em Nova Iorque, onde escreveu seu primeiro programa: um pré-processador para uma linguagem de programação, feito em linguagem de máquina (
Assembly).
Ao mesmo tempo ele era assistente voluntário na Rockfeller University, especificamente no departamento de biologia. O diretor do laboratório ficou impressionado com a inteligência de Richard Stallman e desconhecia o fato de que ele trabalhava com computadores, chegando a imaginar que ele teria um futuro brilhante como biólogo.
Laboratório de tecnologia do MIT
Richard Stallman preferia as matérias exatas. Graduou-se em física na Universidade Harvard em 1974. Mais tarde tornou-se programador do laboratório de IA (Inteligência Artificial) do MIT (Massachusetts Institute of Technology - Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
2. Filosofia hacker e software proprietário
Nos anos 70 o termo hacker não tinha o significado pejorativo que tem hoje. Richard Stallman, assim como outros, se denominavam hackers, ou seja, programadores com vontade de aprender, que amavam programar e superar obstáculos com o uso da inteligência, principalmente problemas relacionados a computadores.
Além disso, era comum o compartilhamento dos códigos-fonte entre os hackers. Não havia motivo para esconder seus códigos, pois compartilhá-lo era algo tão simples e rotineiro quanto compartilhar um conhecimento qualquer, era tão comum quanto compartilhar a resolução de um problema matemático. Afinal, o conhecimento tem seu valor na medida de sua utilidade para as pessoas.
No MIT havia impressoras que costumavam prender o papel. As pessoas mandavam o trabalho para impressão e alguns minutos depois quando iam buscá-lo, se deparavam com toda a papelada presa e amassada na impressora.
Os hackers do laboratório costumavam ligar para os fabricantes das impressoras pedindo o código do driver das impressoras para que eles pudessem realizar algumas modificações nele, permitindo que a impressora enviasse um aviso informando que o papel estava preso, quando isso acontecia.
Certa vez havia chegado no laboratório uma impressora a laser da Xerox, grande novidade na época. Richard Stallman, como de praxe, ficou sabendo que alguém tinha o código do driver da impressora e procurou essa pessoa para pedir o código, algo banal. Porém, para o seu espanto, ele recebeu um bem articulado, sonoro e redondo "não", como resposta.
O indivíduo explicou a Richard Stallman que havia assinado um contrato que o impedia de revelar o código-fonte. Isso era algo completamente diferente da filosofia hacker que Richard Stallman conhecia. Ele acabava de ter a sua liberdade reduzida devido ao software proprietário. A partir daí ele começou a vislumbrar como seria prejudicial para as pessoas, futuramente, se o software proprietário se tornasse regra.
Como se isso não bastasse, em 1982 o laboratório adquiriu um novo computador, mas este usava um sistema operacional proprietário, diferente do sistema que os próprios hackers do laboratório haviam desenvolvido através da cooperação mútua.
Para usar esse novo sistema operacional os usuários tinham que concordar em não distribuir e não modificar o mesmo. Dito de outra forma, o sistema não era deles, eles apenas tinham a permissão para usá-lo, através de uma licença. Qualquer violação dos termos seria caracterizado como pirataria!
O prejuízo causado pelo software proprietário, refletiu Richard Stallman, não estaria limitado somente a falta de liberdade para alterar o código-fonte de acordo com a sua necessidade, mas também engloba a falta da possibilidade de aprender com o código, de distribuí-lo e de aproveitá-lo ao invés de ter que começar tudo do zero. Sem falar que a ideia de NÃO divulgação do código é completamente contra o espírito de liberdade de informação que era um dos pilares da filosofia hacker.
3. Dilema moral
Richard Stallman poderia ter assinado o acordo de uso do sistema proprietário; poderia ter continuado sua carreira de programador como um programador de software proprietário... Mas preferiu garantir a sua liberdade de expressão.
De fato, Stallman ficou diante de um dilema moral: enriquecer jogando os seus valores e princípios no lixo, ou se basear neles para lutar a favor daquilo em que acredita, tentando trazer alguma contribuição, prioritariamente, para a sociedade.
A ideia de Richard Stallman foi de criar um sistema operacional livre, sim... Ele mesmo, Richard Stallman e não Linus Torvalds. Dessa forma ele poderia resgatar a filosofia hacker de ajuda mútua, de cooperação e disseminação livre do conhecimento.
Mas para que isso pudesse se tornar uma realidade ele teria que pedir demissão do MIT, pois do contrário, qualquer criação sua poderia ser "tomada" dele como sendo propriedade do instituto. E foi o que ele fez.