Impressões de um neonato

Minha experiência de como descobri e comecei a usar o Linux.

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Por: CELSO PEREIRA DE MATOS em 01/02/2023


Impressões de um neonato



Sei que estamos vivendo um tempo em que todos tem um sentimento de ter muito a dizer e muito poucos tem a disposição de escutar, mas acho que convém passar minhas impressões sobre minha experiência com o Linux, tanto para compartilhar a experiência quanto para incentivar novos usuários.

Já está indo para quase 30 anos que, para começar a entender de informática, fiz matrícula num "cursinho", onde era ensinado, de início o MS-DOS e a grande novidade da época: o Windows (3.11). Tão novidade que o uso do mouse era tipo um rito de passagem para nós.

O cursinho não foi perdido, com o tempo vi a internet chegar, o Windows evoluir e a suíte Office da Microsoft reinar absoluta, e tudo isto foi incorporado a minha vida pessoal e profissional. A gente nunca se perguntou se havia outro sistema operacional. De vez em quando alguém falava do sistema da Apple e dos micros deles, e só.

Os anos se passaram, as novas versões do Windows vinham e os micros iam ficando fracos e obsoletos, era a vida. E eu comecei a me perguntar: "será que computador só funciona com sistemas da Microsoft?". Fui entendendo que não. As pistas estavam lá: o Google não é da Microsoft e é um mecanismo de busca, o Firefox, também não era, já tinha ouvido falar de outras suítes de escritório, e, é claro, tinha ouvido uma coisa aqui e outra ali sobre o Linux. A ideia de ter um micro "free Windows" começou a nascer em minha cabeça.

A oportunidade

Ter um micro para fazer experiência, para muitos é um luxo. Não é todo mundo que tem um micro, por mais velho que seja, para ficar mexendo. Ele é uma ferramenta pessoal, profissional ou até de uso da família inteira com uso compartilhado. Para mim a oportunidade veio quando nós precisamos comprar outro notebook, durante a pandemia. Assim, como a roupa de um irmão passa para o mais novo em algumas famílias, acabou "sobrando" um note velho em casa, e diga-se, para falar a verdade, este já estava encostado há algum tempo.

O micro (um Positivo Z85, com Intel dual core, 2 GB de RAM, e HD 160 GB), estava com o Windows Vista, 32 bits. Já não atualizava, já não acessava a internet com o Explorer e o Firefox que estava instalado, ainda que desse para entrar na internet, já não atualizava mais, só funcionava na força e, cada vez que ligava o relógio aparecia zerado.

Aí eu pensei: "bom, já que está indo para a reciclagem, por que não tentar?"

A coragem

Comecei a pesquisar e as peguntas se multiplicaram. A primeira cosa que fiz foi abrir as tripas do bicho(!). Sabia que tinha uma bateriazinha que fazia o relógio funcionar e foi o meu primeiro alvo. Achei, comprei uma nova e instalei. Sucesso, ele estava vivo! "Bom, se o relógio funciona, pode ser que eu consiga colocar um sistema novo". Aí a coragem. Tenho muito a agradecer aos canais do YouTube. Sem eles morreria na ignorância.

Como tinha receio de experimentar algo completamente novo, pesquisei sobre o que poderia ser mais próximo do Windows que me acompanhava a tanto tempo. A escolha recaiu sobre o Zorin 15.2 Lite XFCE 32 bits (bom, esta sopa de letrinhas e números, não fazia a menor ideia do que era na época). Respirei fundo, criei um pendrive, entrei na bios do note (arrepio), mudei a ordem do boot (e, de novo: obrigado Youtubers), espetei o drive e rezei..

Deu certo! Igualzinho ao que estava nos tutoriais, abriu, funcionou e fiquei fazendo uns testes. Aí eu desligava, retirava o pendrive e ligava de novo e lá estava o Vista de novo.

Tá, eu confesso, demorou até ter coragem para instalar o sistema, mas respirei fundo de novo e segui as instruções para instalar em dual boot. Sucesso de novo! Ou quase...

Ao ligar o note, a resolução de tela estava zoada, só no Zorin (parece trocadilho)! Tudo muito grande. Não foi lá aquela maravilha, mas não estava esperando grande coisa mesmo. Ficou assim por uns tempos até que, pesquisando, vi uns tutoriais de como mexer nisto. Não deu certo uma vez, não deu certo outra, em outra vez acabei ferrando com o Grub.

Aí eu descobri o que era o Grub!

Ah: eu descobri também que sem o Grub, o Windows não liga...

Com aquela sensação de "já que eu tô f..., vamos ver o que dá pra fazer..." decidi encarar.

Resumindo, consegui acertar e botar o bicho de novo para rodar. A resolução acertei mexendo no Grub, desta vez de uma maneira que funcionou, o micro ficou funcional, o Libre Office funcionava, entrava na internet e navegava. Deu até para ver vídeo no YouTube, com baixa resolução, com umas travadinhas, mas tudo funcionava.

E, rapaz! Não tive dificuldade com o sistema. Tinha tudo que eu estava acostumado: uma barra de tarefas, menu parecido com o iniciar, podia mudar o papel de parede, bem parecido com o Windows. O "Linux" afinal, não era um bicho de sete cabeças! Enfim um micro pode sim, funcionar sem Windows!

Mais coragem

Esta saga começou lá por julho de 2020, no início da pandemia. Passou mais de um ano e acho que todo mundo que precisou de um micro para trabalhar nesta época, passou por isso: vimos que as vezes, o equipamento que tínhamos em casa, não estava a altura para enfrentar o trabalho remoto. Percebi isto pela minha esposa, que tendo que lidar com Moodle, Teams e tudo isto de novo, o Windows 10 no note dela já não estava rápido o suficiente. Demorava uns 10 minutos só para ligar e olha que ele só tinha uns 4 anos. A percepção vinha quando, eu da sala, escutava os impropérios que vinham da cozinha e a impressão que eu ia escutar um computador voando pela janela em seguida.

Me veio a cabeça uma palavra (ou sigla se preferirem): SSD. Comprei um parcelado, abri as tripas do bicho (agora sabendo da responsabilidade maior, já que este não estava a caminho da sucata), e instalei. Confesso que apanhei um pouco para reinstalar o sistema operacional e o pacote do Office (é... ainda do Windows). Mas funcionou e ficou rápido! De quebra botei mais 4 GB de RAM para acompanhar os 4 que ele já tinha. Este último veio da China.

Esta experiência me fez pensar: o quão velho é aquele meu note Positivo que eu mexi no ano passado...

Ousando

O meu próximo passo foi descobrir que hardware eu tinha. Pesquisando, descobri o computador suportava sistemas de 64 bits. Tinha só 2 GB de RAM. Comprei mais um pente de 2 já que o máximo que ele suportava era 4. E, já que era para arriscar, comprei uns 3 pendrives para experimentar distribuições novas.

Esse negócio vicia...

Lubuntu, Ubuntu, Mint, Fedora...tudo rodou no pendrive. O micro "velho" não era tão velho assim! Cada sistema foi uma surpresa, uma experiência nova! Testei outras interfaces (se é assim que são chamadas) além do XFCE, como o Gnome e o Mate. O Fedora 35 me impressionou: que tela que era aquela? Tava tudo em lugar diferente mas tudo parecia fácil de achar e eu não tinha problemas para operar (tá certo: eu senti falta do botão de minimizar), mas que experiência!

Fiquei preocupado com o consumo de memória RAM. Alertado pelos gurus do YouTube, acabei preferindo instalar o Linux Mint Mate, versão Una (64 bits).

E de novo a tela zoada! Desta vez não deu para arrumar o Grub. Respirei fundo, pensei... decidi: vou reinstalar sem o dual boot ! Deixar só o Mint na máquina.

Enquanto rodava a instalação, sabia que não ia ter mais Windows Vista naquele computador de 13 anos. Foi meio como uma sensação do Tom Hanks naquele filme "Náufrago" de quando ele deixa a ilha e olha uma última vez para trás, mas não ia ter volta.

Rodou, mas tava lá aquela resolução de tela de 600x800 (acho que é isso), e não tinha como mudar. Aqui agradeço a todos os adeptos do Pinguim que palpitam nos fóruns da vida! Uma boa alma em um fórum já havia postado como resolver o problema. Pelo que entendi tinha que baixar um drive de vídeo, copiar em uma pasta, dar uns comandos no terminal e o problema estaria resolvido. Fiz tudo como um robozinho...e funcionou.

Esta última parte foi de maio deste ano para cá. Acabei comprando uma bateria nova para o Notebook e ele aguenta uma hora ou uma hora e meia fora da tomada. Mas tá prático, rodando tudo, com uma resolução muito boa, roda vídeos no YouTube (se bem que a qualidade não é alta, mas não trava e, convenhamos, o micro é velho). O sistema é bom, para quem veio do Windows não senti diferença, não trava, é rápido e achei bonito (se bem que vi no YouTube, alguns detratores, mas fazer o que, é gosto, né?). Para meu uso funciona perfeitamente (não sou "gamer", meus jogos limitam-se a paciência e free-cell).

O micro está funcionando como um back-up do principal, mas em casa, acabo usando mais ele que os outros (tirando talvez o desktop, este é da família inteira).

Hoje cogito em ter uma distribuição Linux como sistema principal e exclusivo em meu micro. Acho que todo mundo que usa o Windows não experimenta porque não conhece. Falta propaganda. Não podemos negar que o Windows e a Apple, popularizaram o uso de computadores pessoais no mundo, e ganharam dinheiro com isso, mas há alternativas e o melhor: de graça.

CELSO PEREIRA DE MATOS
(auto-intitulado "fuçador funcional")
Jundiaí-SP

   

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Comentários
[1] Comentário enviado por SamL em 01/02/2023 - 13:12h

Parabéns pela atitude de fuçar terras novas. E gostei dessa comparação com O Náufrago hahha


https://nerdki.blogspot.com/ acessa ai, é grátis
Não gostou? O ícone da casinha é serventia do site!

[2] Comentário enviado por maurixnovatrento em 01/02/2023 - 20:55h


Muito bom, texto cativante. Com certeza inspira novos usuários.

___________________________________________________________
Conhecimento não se Leva para o Túmulo.
https://github.com/mxnt10

[3] Comentário enviado por retr0d2_ em 14/02/2023 - 23:39h


É de fato uma experiência inesquecível, a primeira vez usando um SO Linux é incrível! ótimo texto parceiro! boa história!

[4] Comentário enviado por andre-barros em 16/02/2023 - 22:16h

Identifiquei-me com o texto. Uso linux mint e pra mim é uma experiencia positiva. tem ferramentas muito boas. Windows também é bom mas pago. Enfim, gosto de experimentar e aprender.


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