Há dois fatores cruciais e básicos que fazem a diferença entre ser uma vítima ou um audaz internauta cibernético atento e estes são: o desconhecimento e descaso. Principalmente para os usuários do
Linux, no qual orgulhosamente me incluo! :) Há um certo exagero quando proclamamos aos quatro ventos do mundo que o nosso sistema é imune a ataques. Isto é uma meia-verdade e depende muito de certas condições para ser falsa ou verdadeira essa afirmação, e é justamente o próprio usuário, que via de regra cria a senha que dá acesso à sua conta de usuário e de root, é o principal responsável pelo nível de segurança para a entrada do sistema.
O que afirmo é semelhante ao que acontece com a ciência, um fato é provado cientificamente em situações de testes controlados e o resultado é o anunciado como prova irrefutável dos argumentos. Não adianta ter as regras de permissionamento nos arquivos e diretórios se você mal sabe como eles funcionam e burlar isso não é muito difícil se você sabe como criar links simbólicos e criar um script e inserí-lo num daqueles programinhas mencionados acima para obter acesso como usuário normal, e isso já é mais que 70% do caminho.
Leia o que o Jornal da Ciência publicou de uma matéria na Folha de São Paulo a respeito da capacidade dos hackers tupiniquins:
(O Brasil se tornou neste mês o maior "exportador" de criminalidade via internet. Os hackers brasileiros atingiram o topo do ranking mundial de ataques digitais.
... o Brasil teve a ascensão meteórica no ranking dos países mais atacados por hackers. Em 2002, tornou-se a segunda maior vítima de ataques digitais abertos (4.874), perdendo apenas para os EUA (24.611).
Folha - Por que o Brasil se tornou uma potência de hackers?
Entrevistado - O Brasil é um país avançado no que diz respeito a especialistas em software. Muitas multinacionais dos EUA e da Europa usam as habilidades de programadores brasileiros. Vocês tem uma infra-estrutura industrial e de telecomunicações avançada. O cibercrime se origina do Brasil porque é um país industrializado. É um tipo de crime do século 21.)
Essas informações fazem parte de um levantamento da consultoria britânica MI2G, empresa a serviço de grandes bancos e companhias seguradoras que monitora as ações dos hackers na rede mundial de computadores.
Surpreso? A alcunha de "Estado Delinquente" no mundo virtual não é para sairmos comemorando mais uma conquista do Brasil rumo ao primeiro mundo. A falta de legislação para crimes cibernéticos não consta no código penal de 1941, o motivo mais provável é que não existia a internet nesta época (lógico, o mundo estava mergulhado na segunda grande guerra mundial de 1939 a 1945) e porque não foi atualizada para os tempos modernos e parece que não querem, pois há 11 projetos de leis de informática paradas no congresso. Mentes brilhantes de um lado e mentes retrógradas noutro?
Diante deste quadro, eu recentemente fui realizar uma manutenção num cliente residencial e fiquei boquiaberto diante de uma máquina com firewall desativado e sem antivírus e que estava assim a meses. Antes que joguem pedra em mim, devo dizer que se tratava de um Windows "genérico" populado de vírus e possivelmente visitado muitas vezes na busca de informações bancárias que felizmente o meu cliente não é adepto a usar o banco via internet porque contraditoriamente tem medo de ter seus dados roubados, imagine se não tivesse!
E sabe mais o que é surpreendente? Este mesmo computador é utilizado por mais três pessoas dentre as quais duas delas são universitários. Ou seja, ninguém pensou na segurança deste computador e todas as suas informações. Portanto, não se trata da capacidade intelectual dos usuários mais sim da consciência dos riscos e das medidas necessárias para evitar os danos.
Somado a isso, programas piratas e cópias crackeadas do Windows dão a receita do estopim e da realidade de que muitas pessoas são lesadas e não há dados precisos se estamos falando de centenas ou de milhares de casos, pois na maioria das vezes as vítimas não prestam queixa e não fazem boletim de ocorrência, até por vergonha de serem comparados com aquele animalzinho quadrúpede com orelhas avantajadas. E isso amigos é fato e não ficção científica ou enredo de algum filme Hollywoodiano ou de um histerismo inconsequente.
Recentemente o famoso hacker americano Kevin Mitnick, que ficou preso por cinco anos e obrigado a manter-se longe de um computador por mais três anos e que hoje presta segurança para grandes empresas nos Estados Unidos, disse em sua palestra na Campus Party 2010, aqui em São Paulo: "Por mais que hardware e software garantam a segurança, muitas vezes um usuário incauto inadvertidamente "entrega" senhas ou instala aplicativos maliciosos, ignorando as precauções necessárias...". A esse tipo de ataque em que o hacker utiliza da ingenuidade ou falta de preocupação do usuário, Mitnick deu o nome de "engenharia social".
(Engenharia social: Técnica mais elaborada que consiste em investigar a vida da pessoa e tentar descobrir nome de coisas e pessoas envolvidas a sua vida e por ser muito comum, é naturalmente usada pelos hackers.)
Uma forma fácil, a custo baixo e níveis alto de efetividade para invadir sistemas e isso independente de plataforma ou sistema operacional! Nós usuários do Linux temos vantagens, mas não imunidade. Acho interessante o quanto isso incomoda algumas pessoas, digamos, mais ortodoxas e o quanto elas esbravejam com depoimentos inflamados quando se menciona uma não imunidade ao
GNU/Linux.
Mas com isso não estou dizendo aqui que o nosso Linux não é seguro, muito pelo contrário! Apenas estou dizendo é que não adianta ter cadeado, alarme, sensor de presença se estiverem desativados ou não devidamente configurados. Se assim não fosse, para quê o iptables, netstat, nessus, nmap, rkhunter, Aide etc?
A questão da senha é tão importante que temos o módulo de autenticação (PAM) que impede que o usuário crie uma senha escatologicamente fácil. O que nos remete ao tema do meu pequeno artigo: qual segura é a sua senha?