Não há como contestar as facilidades que o
Software Livre traz para um órgão governamental. O principal motivo, talvez, seja o custo.
Licenças do Windows custam caro para instituições públicas porque, por menor que seja a instituição, é cada vez maior a necessidade de mais computadores, sem contar a estrutura de rede. Isso sem falar nos demais softwares proprietários imprescindíveis para o desenvolvimento dos trabalhos, como a suíte de aplicativos Office, Antivírus etc.
O custo alto com licenças, às vezes inviável para a instituição, acaba por dar margem à pirataria, implicando em consequências jurídicas e criminais.
Outro fator importante e que tem incentivado a entrada do Software Livre em instituições públicas, é a filosofia do
software de código aberto.
Por terem a obrigatoriedade de contratação por meio de processos licitatórios, os órgãos públicos têm constante rotatividade de prestadores de serviços e uma plataforma aberta, na qual um profissional possa dar continuidade ao trabalho de outro através dos códigos-fonte, é uma grande vantagem.
Isso tudo sem falar no engajamento de profissionais, que têm nesta plataforma um instrumento que garante maior segurança, durabilidade e possibilidades de expansão, bem mais fáceis do que as plataformas proprietárias.
O lado ruim de toda esta história, é a adesão puramente política do software, com o único intuito de fazer propaganda dos benefícios financeiros, mas com uma fraca intenção de uso desta plataforma.
Muitos órgãos públicos como prefeituras, câmaras municipais, governos estaduais e suas subdivisões, têm divulgado a adesão ao Software Livre e fazem grande estardalhaço porque esta atitude é vista como algo "politicamente correto".
Acabar com os gastos com licença, aderindo a uma plataforma completamente livre, e assim, economizar muito dinheiro para os cofres públicos, é um bom argumento para "tentar" demonstrar preocupação e compromisso de um político com o bom gerenciamento dos recursos públicos.
Por outro lado, como a adesão deu-se apenas por interesse político, ao primeiro sinal de dificuldade de adaptação dos usuários ao novo sistema, é constante o desinteresse e a mudança para plataformas proprietárias. Onde o interesse é meramente político, não há investimentos em cursos e treinamentos, nem há investimentos em pesquisas ou adaptações, tão constantes no meio
GNU/Linux.
No caso do Governo Estadual do Ceará, há a divulgação de que, aos poucos, as estações estão sendo substituídas por GNU/Linux. Em laboratórios cujo Governo do Estado entra como parceiro, há a adesão de GNU/Linux em todas as estações. Há, portanto, uma
cultura de incentivo ao Software Livre, assim como também acontece com o Governo Federal.
O problema acontece quando aparece a necessidade do uso de aplicativos que integram o desktop com bancos de dados, principalmente em aplicativos para área contábil, ou para emissão de notas fiscais. Geralmente, os órgãos desenvolvem soluções para funcionar exclusivamente em Windows, indo contra todo o trabalho feito para a implantação de Software Livre.
Particularmente, em uma Câmara Municipal de um município do meu estado, fui contratado para implantar o Sistema Operacional GNU/Linux em todos os gabinetes dos vereadores, bem como nas máquinas do laboratório aberto aos alunos de Escola Pública Municipal.
No início, houve resistência de muitos dos vereadores e seus assessores, mas com o tempo, enxergaram os benefícios frente à dificuldade de adaptação. Alguns reclamavam que o MSN não tinha aquela "carinha bonita" do Windows, ou que os botões de centralizar e justificar texto do
BrOffice estavam em locais diferentes dos que já estavam habituados no Office do Windows.
Fora estes problemas, a adaptação ocorreu normalmente. Elaborei até um tutorial com as principais ações e recursos do sistema, além de dicas e instruções passadas pessoalmente.
Porém, como é de costume dos políticos, uma vez atingido o objetivo político de divulgar que a Câmara Municipal estava usando Software Livre e economizando milhares de reais dos cofres públicos (exclusivamente para atender a fins eleitoreiros), o projeto começou a ser bombardeado por pedidos individuais de substituição do Sistema Operacional pelo tradicional Windows XP.
Tais pedidos foram atendidos em caráter de exceção, mas logo em seguida, veio a ordem para alterar toda a rede e desfazer o trabalho de migração para Software Livre. Ou seja, o GNU/Linux foi usado apenas na propaganda, mas na prática, todos voltaram ao mesmo sistema de antes.
Atitudes como esta são típicas de quem não tem compromisso com o desenvolvimento do Software Livre, e sempre que vejo uma notícia falando sobre um projeto de migração, questiono se é realmente interesse nos benefícios ou se é puramente politicagem.