Tux, o cabo eleitoral

Tenho observado que a adesão ao Software Livre é crescente no meio governamental. E este fenômeno vem justificando-se por alguns fatores: pelos benefícios do Software Livre, interesse de seus defensores e, porque é "politicamente rentável".

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Por: Djair Dutra C. Jr. em 25/06/2012


O cabo eleitoral



Não há como contestar as facilidades que o Software Livre traz para um órgão governamental. O principal motivo, talvez, seja o custo.

Licenças do Windows custam caro para instituições públicas porque, por menor que seja a instituição, é cada vez maior a necessidade de mais computadores, sem contar a estrutura de rede. Isso sem falar nos demais softwares proprietários imprescindíveis para o desenvolvimento dos trabalhos, como a suíte de aplicativos Office, Antivírus etc.

O custo alto com licenças, às vezes inviável para a instituição, acaba por dar margem à pirataria, implicando em consequências jurídicas e criminais.

Outro fator importante e que tem incentivado a entrada do Software Livre em instituições públicas, é a filosofia do software de código aberto.

Por terem a obrigatoriedade de contratação por meio de processos licitatórios, os órgãos públicos têm constante rotatividade de prestadores de serviços e uma plataforma aberta, na qual um profissional possa dar continuidade ao trabalho de outro através dos códigos-fonte, é uma grande vantagem.

Isso tudo sem falar no engajamento de profissionais, que têm nesta plataforma um instrumento que garante maior segurança, durabilidade e possibilidades de expansão, bem mais fáceis do que as plataformas proprietárias.

O lado ruim de toda esta história, é a adesão puramente política do software, com o único intuito de fazer propaganda dos benefícios financeiros, mas com uma fraca intenção de uso desta plataforma.

Muitos órgãos públicos como prefeituras, câmaras municipais, governos estaduais e suas subdivisões, têm divulgado a adesão ao Software Livre e fazem grande estardalhaço porque esta atitude é vista como algo "politicamente correto".

Acabar com os gastos com licença, aderindo a uma plataforma completamente livre, e assim, economizar muito dinheiro para os cofres públicos, é um bom argumento para "tentar" demonstrar preocupação e compromisso de um político com o bom gerenciamento dos recursos públicos.

Por outro lado, como a adesão deu-se apenas por interesse político, ao primeiro sinal de dificuldade de adaptação dos usuários ao novo sistema, é constante o desinteresse e a mudança para plataformas proprietárias. Onde o interesse é meramente político, não há investimentos em cursos e treinamentos, nem há investimentos em pesquisas ou adaptações, tão constantes no meio GNU/Linux.

No caso do Governo Estadual do Ceará, há a divulgação de que, aos poucos, as estações estão sendo substituídas por GNU/Linux. Em laboratórios cujo Governo do Estado entra como parceiro, há a adesão de GNU/Linux em todas as estações. Há, portanto, uma cultura de incentivo ao Software Livre, assim como também acontece com o Governo Federal.

O problema acontece quando aparece a necessidade do uso de aplicativos que integram o desktop com bancos de dados, principalmente em aplicativos para área contábil, ou para emissão de notas fiscais. Geralmente, os órgãos desenvolvem soluções para funcionar exclusivamente em Windows, indo contra todo o trabalho feito para a implantação de Software Livre.

Particularmente, em uma Câmara Municipal de um município do meu estado, fui contratado para implantar o Sistema Operacional GNU/Linux em todos os gabinetes dos vereadores, bem como nas máquinas do laboratório aberto aos alunos de Escola Pública Municipal.

No início, houve resistência de muitos dos vereadores e seus assessores, mas com o tempo, enxergaram os benefícios frente à dificuldade de adaptação. Alguns reclamavam que o MSN não tinha aquela "carinha bonita" do Windows, ou que os botões de centralizar e justificar texto do BrOffice estavam em locais diferentes dos que já estavam habituados no Office do Windows.

Fora estes problemas, a adaptação ocorreu normalmente. Elaborei até um tutorial com as principais ações e recursos do sistema, além de dicas e instruções passadas pessoalmente.

Porém, como é de costume dos políticos, uma vez atingido o objetivo político de divulgar que a Câmara Municipal estava usando Software Livre e economizando milhares de reais dos cofres públicos (exclusivamente para atender a fins eleitoreiros), o projeto começou a ser bombardeado por pedidos individuais de substituição do Sistema Operacional pelo tradicional Windows XP.

Tais pedidos foram atendidos em caráter de exceção, mas logo em seguida, veio a ordem para alterar toda a rede e desfazer o trabalho de migração para Software Livre. Ou seja, o GNU/Linux foi usado apenas na propaganda, mas na prática, todos voltaram ao mesmo sistema de antes.

Atitudes como esta são típicas de quem não tem compromisso com o desenvolvimento do Software Livre, e sempre que vejo uma notícia falando sobre um projeto de migração, questiono se é realmente interesse nos benefícios ou se é puramente politicagem.

   

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Comentários
[1] Comentário enviado por danielsath em 25/06/2012 - 11:48h

Realmente interessante, bom artigo. Percebe-se esse cunho político em um caso atual onde um banco público grande que utiliza Gnu/Linux utilizou todo o dinheiro economizado usando o linux em compra de liçenças Ms, abrindo uma licitação no valor de R$: 120 Milhões. Um absurdo.

[2] Comentário enviado por bawlaw em 25/06/2012 - 11:57h

Um dos "problemas" no caso da adoção de SL é o lobby que a empresa que possui a maior fatia de mercado faz com politicos e a impossibilidade de desvio de verbas..
Ou seja.. sempre teremos politicos incentivando o uso da alternativa proprietária, uma vez que são financiados por ela.

[3] Comentário enviado por removido em 25/06/2012 - 14:35h

"O lado ruim de toda esta história, é a adesão puramente política do software, com o único intuito de fazer propaganda dos benefícios financeiros, mas com uma fraca intenção de uso desta plataforma."

Disse tudo!

Abs

[4] Comentário enviado por fernandowx em 25/06/2012 - 17:12h

Realmente a propaganda do uso do software livre pelos governantes é bem maior que o uso real. O certo era que todos os software usados nos orgãos publico mudasse totalmente para para SL e que houvesse uma fiscalização para cumprir tal mudança. Um fato que aconteceu recentemente foi a mudança do software de banco de dados da policia federal de um livre para um proprietário. Veja a matéria no site http://meiradarocha.jor.br/news/2012/06/03/policia-federal-contrata-software-proprietario-sem-licita... ....

[5] Comentário enviado por albfneto em 25/06/2012 - 19:08h

o artigo é interessante sim, e contém os problemas reais de quem trabalha com isso.
Resumindo, seu trabalho de implementação de software livre, está indo por água baixo? Você teve trabalho a toa?

[6] Comentário enviado por removido em 26/06/2012 - 09:42h

Bem vindo ao Brasil.
Aqui fala-se de SL,
mas com todo o resto é assim.
Sempre foi e sempre será.
Mude a legenda e o órgão.
O resto parecerá o mesmo.
Se não é com uma coisa é com outra.
Essa coisa é o interesse do momento.

Não desanime,
mas não se esquente com essa gente.
Existem outros lugares
onde SL é melhor aproveitado.

Sem ironias,
espero também que esse onde
não seja tão longe
quanto a Finlândia.

[7] Comentário enviado por nicolo em 26/06/2012 - 10:59h

bom artigo

[8] Comentário enviado por Calcio em 29/06/2012 - 12:11h

Infelizmente o lobby da M$ é grande no governo. O políticos adoram. As cuecas e meias ficam cheia das verdinhas.
Oq deveria era ter uma fiscalização. Softwares proprietário só em casos mt extremos.


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