Diferenças entre Gentoo e Funtoo

Funtoo é o Gentoo com rodinhas. Fim! =P

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Por: Xerxes em 11/01/2021


Introdução



Percebi que em alguns grupos da distribuição Gentoo, no Telegram, até usuários experientes parecem saber pouco sobre a distribuição Funtoo. A maioria apenas se refere ao Funtoo como um "Gentoo com rodinhas". Ou seja, uma distribuição mais amigável, para quem não consegue usar o Gentoo puro.

Bem, dependendo da perspectiva, isso pode ser verdade. Mas isso não significa que a distribuição Funtoo seja pior que Gentoo em qualquer sentido. Neste artigo, eu gostaria apenas de evidenciar as principais diferenças que eu encontrei entre uma e a outra.

A distribuição Funtoo foi criada e é mantida pelo mesmo criador da distribuição Gentoo: Daniel Robbins. Daniel é um gênio da programação, e o Portage que ele desenvolveu talvez seja o melhor gerenciador de pacotes para Linux que existe.

Por diversos motivos (que fogem do objetivo deste artigo), Daniel saiu da Fundação Gentoo em 2004. Isso significa que Funtoo não é uma distribuição inferior. Ela foi idealizada, vejam só, pelo criador do Gentoo. Então, seguindo a lógica, usuários que admiram o Gentoo e também o Portage, não deveriam ter motivos para inferiorizar o Funtoo. Ninguém entende mais de Gentoo e de Portage que o seu criador.

Tá, mas e as rodinhas?

Funtoo é mais amigável que o Gentoo. Para começar, o stage3 do Funtoo já contém um "kernel" em condições de uso. O stage3 do Gentoo não tem. O usuário Gentoo precisará dar um comando a mais para baixar o kernel desejado (binário ou não).

Mas todas as opções de "kernel" do Gentoo também estão disponíveis para o usuário do Funtoo. Se quiser, o usuário do Funtoo pode baixar e compilar o gentoo-sources como no Gentoo. Antes, usuários Gentoo eram obrigados a compilar o kernel (manualmente ou de forma automática com a ferramenta genkernel), mas hoje eles têm a opção de baixar o "kernel" binário, se aproximando do modo Funtoo em oferecer uma solução rápida.

Atualmente, Funtoo possui quatro tipos de stage3 para cada sub-arquitetura. Atenção, eu disse sub-arquitetura e não arquitetura. Ou seja, você não vai baixar o mesmo stage3 para um Core 2 64-bits ou para um Core i7, como no Gentoo.

Cada sub-arquitetura tem seu próprio stage3. A diferença que isso faz é que o usuário ganha tempo. Ao invés de baixar o Gentoo, ajustar as "flags" e depois compilar o GNOME, por exemplo, com o Funtoo você já baixa o stage3 com GNOME como se tivesse sido compilado no seu computador.

É por isso que muitos usuários Gentoo evitam usar DE (Desktop Environment, ou Ambiente de Trabalho Desktop Completo). Preferem usar apenas gerenciadores de janelas, para não terem que compilar muitas coisas. Com Funtoo o usuário tem mais liberdade de escolha nesse ponto.

Sub-arquiteturas de stage3 para Funtoo:
  • amd64-bulldozer
  • amd64-excavato
  • amd64-jaguar
  • amd64-k10
  • amd64-k8
  • amd64-k8+sse3
  • amd64-piledriver
  • amd64-steamroller
  • amd64-zen
  • amd64-zen2
  • atom_64
  • btver1_64
  • core-avx-i
  • core2_64
  • corei7
  • generic_64
  • intel64-broadwell
  • intel64-haswell
  • intel64-ivybridge
  • intel64-nehalem
  • intel64-sandybridge
  • intel64-silvermont
  • intel64-skylake
  • intel64-skylake-avx512
  • intel64-westmere
  • native_64
  • nocona
  • opteron_64
  • xen-pentium4+sse3_64

Arquiteturas de stage3 para Funtoo:
  • arm-32bit
  • arm-64bit
  • riscv-64bit
  • x86-32bit
  • x86-64bit
  • x86-64bit-papa

Atualmente, os tipos de stage3 disponíveis no Funtoo são: GNOME, Cinnamon, LXD (contêiner) e o stage3 simples (puro, sem DE). Porém, mais opções serão adicionadas com o tempo.

Funtoo vem com o arquivo "make.conf" vazio! Assustador, não? No Gentoo há algumas linhas escritas e o usuário pode adaptar as configurações a seu gosto. Em ambas as distribuições há um "make.conf" de exemplo (make.conf.example), todo comentado, para ajudar.

Mas, por que o Funtoo vem com o make.conf vazio? Devido ao "epro". Epro é um atalho para "ego profile". O "ego" é uma ferramenta que não existe no Gentoo. Com o "ego profile" o usuário tem um grande poder de ajustar o sistema de forma simples e limpa, sem precisar poluir muito o "make.conf", mas ainda é possível usar o "make.conf" normalmente, se quiser ou precisar.

Com o Ego é possível verificar informações dos pacotes (incluindo bugs), configurar boot, ver informações sobre os kits (conceito que não existe no Gentoo) e outras coisas. Mais módulos provavelmente serão adicionados ao Ego no futuro, já que é uma ferramenta em constante evolução.

O Ego Profile (epro) é a forma como o usuário escolhe a melhor configuração para o seu computador, evitando poluir o "make.conf". Quer mudar de arquitetura? "epro arch [arquitetura]"; quer um sistema mínimo? "epro flavor minimal"; quer as melhores flags para um desktop com KDE, sem SystemD, com wayland, com SELinux e com suporte a NVidia? "epro flavor desktop mix-in +kde-plasma-5 -systemd +wayland +selinux +gfxcard-nvidia".

Tais opções expandem as possibilidades com relação ao "profile" simples do Gentoo. Criando um ambiente mais estável, mas não engessado, pois não descarta a utilização do "make.conf" diretamente.

Com essas "rodinhas" o usuário de Funtoo consegue ter um ambiente completo e usável, ainda otimizado, sem gastar tanto tempo quanto gastaria no Gentoo clássico.

Outra diferença entre Gentoo e Funtoo é que, de acordo com o Daniel Robbins em uma palestra, todas as mudanças que são incorporadas ao Gentoo passam por um longo processo burocrático de discussão, onde quem vence normalmente é quem tem mais tempo livre para falar, não o mais capacitado, nem as melhores ideias, necessariamente.

No Funtoo, Daniel é o "Benevolent Dictator for Life", assim como o Patrick Volkerding é no Slackware. Ele tem a palavra final, sozinho. Daniel Robbins já disse que uma mudança que ele fez no Funtoo, em duas semanas, precisou de 5 anos para ser feita pelos desenvolvedores do Gentoo, por conta dessa burocracia e "guerras" internas. Ter uma só pessoa como "chefão", poderia até ser um problema, porém apenas se esse "chefão" fosse incompetente.

A comunidade de colaboradores do Funtoo tem crescido bastante e, além disso, recentemente, se uniu com a comunidade de colaboradores da distribuição Sabayon (distro baseada em Gentoo). Isso expandiu muito mais as mentes pensantes e as habilidades dos indivíduos envolvidos. Tudo indica que em breve Sabayon deixará de ser baseada em Gentoo e passará a ser baseada em Funtoo.

Apesar de ter vários pontos interessantes, Funtoo ainda tem algumas desvantagens em relação ao Gentoo. Por exemplo, a documentação Wiki do Gentoo é muito maior que a do Funtoo. Felizmente, uns 90% ou mais da Wiki do Gentoo serve para Funtoo.

Funtoo não tem suporte a multilib, quer dizer que usar Wine no Funtoo vai exigir algum trabalho como Chroot, embora não seja uma tarefa impossível. Funtoo depende muito mais do "feedback" dos usuários que Gentoo, pois não é grande como Gentoo. Ele se torna melhor conforme os usuários realizam "Pull Requests" em bugs.funtoo.org. Alguns pacotes podem aparecer mais novos no Gentoo que no Funtoo, pois o Funtoo usa um "snapshot" da árvore Portage do Gentoo com atualizações e mudanças sobre ele vindas por requisição.

Com base na minha pequena experiência com as duas distros, eu acredito que Gentoo seja uma distribuição melhor para uso profissional, seja por desenvolvedores ou profissionais de redes, enquanto Funtoo é melhor para usuários domésticos. Mas essa é uma percepção MINHA. As duas são META distribuições com propósitos não definidos previamente, cabe aos usuários definirem o seu uso.

Links


Bônus - vídeo pixelado do cachorro de Daniel:
   

Páginas do artigo
   1. Introdução
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Comentários
[1] Comentário enviado por eu20noel em 11/01/2021 - 14:14h

Excelente artigo.
Daniel é o cara. kkkkkk

[2] Comentário enviado por maurixnovatrento em 11/01/2021 - 20:15h


Muito bom. Se fosse para escolher eu iria de Gentoo.

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https://github.com/MauricioFerrari-NovaTrento [/code]

[3] Comentário enviado por diegomrodrigues em 12/01/2021 - 18:09h

Excelente artigo! Irei testar o Funtoo agora.

[4] Comentário enviado por msteles em 02/07/2021 - 13:46h

Ótimo artigo. Muito esclarecedor.
Parabéns e obrigado por compartilhar.


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"Culto é aquele que sabe onde encontrar aquilo que não sabe." (Georg Simmel)
Linux registered user #105685

[5] Comentário enviado por xerxeslins em 02/07/2021 - 15:23h


[4] Comentário enviado por msteles em 02/07/2021 - 13:46h

Ótimo artigo. Muito esclarecedor.
Parabéns e obrigado por compartilhar.


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"Culto é aquele que sabe onde encontrar aquilo que não sabe." (Georg Simmel)
Linux registered user #105685


Valeu!


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