Introdução
KISS - Acrônimo de
Keep it simple, stupid!, ou seja, "Mantenha-o simples, seu burro!".
Trata-se de um princípio que, em resumo, diz: quanto mais simples for o sistema (só deve ter o necessário), melhor ele será.
Dentre as distribuições
GNU/Linux,
Slackware é o principal expoente desta filosofia. Mas também há outras distribuições, com destaque para o
Arch Linux que segue filosofia semelhante.
Mais informações:
Keep It Simple – Wikipédia, a enciclopédia livre
HUG - Acrônimo de
How usable, genius!, ou seja, "Quão usável, crânio!".
Este princípio diz: quanto mais fácil for o sistema para o usuário, melhor ele será.
Mas também pode ter um valor irônico quando algo que deveria funcionar de forma mais fácil, devido a uma
GUI, simplesmente não funciona (genius!).
Várias distribuições de sucesso seguem esta filosofia, mas duas se destacam:
Ubuntu e
Linux Mint. Lembrando que
Linux Mint é derivada do Ubuntu.
Obs.: não adianta procurar pelo acrônimo HUG no Google ou na Wikipédia, pois acabei de inventá-lo, especificamente para este artigo do
VOL.
Tentei explicar os dois princípios para minha esposa, que é leiga em GNU/Linux. Após eu terminar de falar sobre o princípio KISS, ela disse "mas assim é mais difícil!", em seguida eu disse: "pode ser, mas é mais simples".
Ou seja, ela capturou a ideia e percebeu que há diferença entre simplicidade e facilidade.
Faz-se necessário diferenciar simplicidade e facilidade neste contexto. Para isso, vou usar um exemplo imperfeito e exagerado, mas que deve servir ao propósito.
Imagine que você é dono de um mercadinho e controle as vendas e o estoque de seus produtos usando uma planilha eletrônica no computador. Você não criou a planilha, alguém que entende de planilhas a fez para você.
Essa planilha contém fórmulas embutidas que automatizam todo procedimento. Quando você preenche o campo de quantidade de um produto que foi vendido, automaticamente a planilha lhe mostra o lucro, altera quantidade no estoque, calcula o troco e lhe diz se as vendas de tal produto estão indo bem ou não.
Você precisa da assistência de outras pessoas que entendem de planilha para resolver problemas técnicos, quando os mesmos surgem, sem falar da manutenção básica no computador. Seu serviço depende de energia elétrica e você não sabe como a planilha funciona, apenas que ela funciona. Este seria o princípio HUG.
Agora, em outro mercadinho vizinho ao seu, um homem controla todas as vendas e o estoque usando apenas um caderno e uma caneta. Ele faz os cálculos por si mesmo para obter o que deseja.
Embora ele tenha muito mais trabalho que você e leve mais tempo para fazer o que você faz, mas devido à prática, ele é bom nisso! Ainda, ele não depende de energia elétrica, nem de nobreak, nem de assistência técnica, e sabe resolver por conta própria os problemas que surgir. Este seria o princípio KISS.
Assim fica claro que o mais simples não é o mais fácil, é apenas simples. E em certa medida, talvez seja até mais difícil/trabalhoso!
Choque de ideologias
Apesar de eu ser relativamente novo no mundo GNU/Linux, consegui distinguir um choque de ideologias entre os usuários da comunidade, principalmente aqui mesmo no VOL.
Os usuários mais antigos costumam preferir o princípio KISS.
"Para quê criar uma GUI de configuração de rede se editar um arquivo de texto funciona?" Perguntam eles. Já os usuários mais novos, aparentemente em sua maioria, preferem o princípio HUG e perguntam: "Por quê eu quereria perder tempo editando um arquivo de texto para conectar à minha rede sem fio, se eu posso fazer isso com dois cliques?".
Os defensores da simplicidade (KISS) são inteligentes e sabem corrigir eventuais erros no sistema, sabem também que quanto mais complexo for um sistema, mais difícil será descobrir como corrigir os seus erros.
E dizem mais: quanto mais complexo for um sistema, mais sujeito a erros este será.
Os defensores da usabilidade, que preferem o princípio HUG, não se importam muito em como algo funcione desde que seja fácil usar. Se para instalar algo basta clicar umas tantas vezes no botão "Próximo", não precisam entender nada sobre dependências, bibliotecas e compilação.
Apesar das diferenças entre os usuários adeptos desses dois princípios, percebemos que todos querem que as coisas funcionem! Sendo assim, o ponto de discórdia, entre as duas visões, situa-se apenas neste fato: alguns querem aprender um pouco mais sobre o sistema, mesmo que o custo disso seja um pouco mais de trabalho. Enquanto outros querem menos trabalho possível para fazer as coisas funcionarem, mesmo que isso signifique não entender como elas funcionam.
Resumindo, seria assim...
- Prioridade KISS: Que funcione; Aprender como funciona; Usabilidade.
- Prioridade HUG: Que funcione; Usabilidade; Aprender como funciona.
Não teria sentido algo ser fácil, usável, mas que não funciona. Por isso, seja KISS ou HUG, a prioridade dos aplicativos e dos sistemas é que os mesmos funcionem. Isso é uma verdade mesmo que o uso de camadas adicionais de software aumente a chance de erros.
Com isso em mente, eu me pergunto: se existisse um sistema de grande usabilidade (fácil de usar) e se ele não tivesse
bugs, ou seja, se tudo funcionasse perfeitamente, será que ainda assim os defensores do princípio KISS iriam preferir o caminho da simplicidade, editando textos e usando linhas de comandos ao invés de GUI?
Eu realmente acredito que uma boa parcela, sim! Porque abandonar o princípio KISS, significaria sacrificar a oportunidade de entender o que está acontecendo por trás da "camada gráfica". Usuários KISS gostam de destrinchar o sistema e aprender com ele.
Seja como for, sei também que há usuários que começaram KISS e depois mudaram para HUG. Por quê? A resposta é simples:
Enquanto ainda preferem um sistema sem falhas (ponto comum entre os dois princípios), o usuário que se tornou HUG, não apenas perdeu grande parte do interesse em como as coisas funcionam, mas principalmente querem menos trabalho possível!
Virando a casaca
Imagine um usuário adepto do Slackware que decidiu migrar para Ubuntu. Ele sabe que vai se deparar com bugs no Ubuntu e, provavelmente, terá um sistema mais instável do que tinha, mas julga que os benefícios compensarão os problemas.
Como não está mais interessado em aprender como o sistema funciona (pelo menos não no mesmo nível de antes), ele optou conviver com os eventuais bugs, consciente de que se fosse usar o Slackware, teria grande trabalho pós-instalação e, possivelmente, trabalho extra para instalar/encontrar alguns pacotes - alguns (ou muitos) que no Ubuntu seriam instalados rapidamente e facilmente.
Lembre-se que, nesse contexto, o aprendizado deixou de ser tão relevante.
Isso acontece? Claro que sim! Tenho um
amigo que fez isso. Ele também disse, enquanto eu escrevia este artigo:
"Voltei para o Ubuntu e fiquei feliz, tudo voltou a funfar normalmente."
Lembrando que ele era Slackmaníaco!
E sei que outros usuários também passaram por isso. Em 2007, quando um usuário do VOL decidiu abandonar o Slackware e usar Ubuntu, ele recebeu muitas críticas! O usuário foi removido, mas o seu artigo continua disponível:
Veja um trecho do que ele disse: "O Slackware é uma boa distribuição, mas não me venha colocar ele em um desktop, eu fiz isso e posso garantir, passei mais tempo em lista de discussão e IRC perguntando coisas do que me divertindo com meus programas."
Ele disse isso sem razão? Depende do seu conceito de diversão. Se você acha que é divertido seguir tutoriais enquanto aprende a resolver problemas, talvez discorde dele. Mas as pessoas são diferentes e muitas acham mais divertido usar o sistema ao invés de se esforçar para fazê-lo funcionar.
Bem, pessoalmente, eu gosto de me esforçar para fazer o sistema funcionar, mas nem tanto! Por esse mesmo motivo desisti de usar
Gentoo ou
Funtoo - apesar de admirar essas distribuições!
Eu já instalei Gentoo algumas vezes e usei um pouco, até que quebrei o sistema por desconhecer os perigos de um
emerge --update world. Mesmo assim, achava ruim ter que, antes de instalar algo, consultar o
Wiki para saber quais as flags de compilação eu iria precisar.
Em fim, o que eu quero dizer, é que há pessoas que simplesmente acham que o trabalho não vale a pena, que o esforço não compensa, que preferem comprar um carro novo e sair da concessionária já dirigindo, ao invés de ter que aprender a construí-lo, e construí-lo para só depois dirigir.
Obs.: se você adora montar seu próprio carro ou consertá-lo você mesmo, parabéns! Ninguém se incomoda com isso e você, de bom grado, pode até mesmo me ajudar a resolver problemas com o meu carro. :D
Quando escrevi o artigo
Quero facilidade, já esperava reações hostis. E, apesar de eu ter escrito
Do Ubuntu ao Arch e
A maldição de Patrick Volkerding, sinto-me livre para dizer que, pelo menos neste momento, sou mais HUG do que KISS.
Há um outro caso, de 2011, de usuário trocando KISS por HUG:
Quase sempre que isso acontece, ou seja, quando alguém defende o lado HUG, é apedrejado pelos usuários KISS. Mas a mentalidade está a mudar e a hostilidade já não é tão grande.
Não sei o motivo... talvez os mais antigos, os "dinos", estejam ocupados demais para responderem aos adeptos do HUG, ou nem se importem tanto, enquanto a base de novos usuários (HUG) vem crescendo dia a dia, e os dinos vão entrando em extinção.
Retomando a linha de raciocínio, também é perfeitamente natural, que alguns usuários comecem HUG e depois queiram se tornar KISS. Como já vimos as prioridades de cada um desses caminhos, fica fácil identificar o motivo disso acontecer, isto é: adquirir conhecimento.