Mas no último parágrafo, como uma bênção reservada para o final, ele afirma algo com o qual eu concordo TOTALMENTE com ele, embora não sobre os mesmos pressupostos: "Muitos, ao lerem esse texto, devem estar pensando que, com ele, regredimos vários anos na discussão do software livre. Errado. O fato é que nunca evoluímos de verdade."
Sim, realmente, a discussão do SL nunca avançou na mesma medida da adoção do Linux. Porque? Porque falar da filosofia envolvendo o SL, as dificuldades em torno do hardware, e o fato de que não temos opções acessíveis de hardware open (ou ao menos funcional ao SO totalmente livre) a todos os bolsos não "vende o peixe" tão bem quanto dizer que "o Linux é de graça", "o LibreOffice é de graça", "não pega vírus", "é estável"...
Porém, a longo prazo, essa política de "apenas vender o peixe" resulta em pessoas que por não saberem de que forma software não-livre e hardware inimigo do SL os prejudicarão MUITO, ainda por cima cria usuários que vem na mesma velocidade em que vão, porque a motivação do uso não os direciona para lutar nem pelos PRÓPRIOS DIREITOS.
Mais do que criticar o André Machado, quero com esse texto expôr à comunidade do SL o que acredito que seja a grande missão para os ativistas do SL:
1. APONTAR O SOFTWARE NÃO-LIVRE, ONDE QUER QUE AFIRMEM QUE SEJA SL. Isso inclui o kernel do Ubuntu, do Mint etc, navegador. Isso é o MÍNIMO DA COERÊNCIA. Se um software não-livre é apregoado como sendo SL, isso é simples e pura mentira.
2. Fazer, tal qual fez o fantástico escritor do Guia Foca Linux, Gleydson Mazioli da Silva: expôr o fato de que estamos, e cada vez mais, sendo prejudicados pelos fabricantes de hardware. Expor isso cada vez mais intensamente, porque, muito diferente das conclusões esquisitas do André, o povo brasileiro não fez uma escolha: escolheram por eles. E não usam o ms rwindo$ porque ele satisfaz suas necessidades, mas sim porque veio pré-instalado; ou porque não conhecem opção; ou porque mesmo que conhecessem, não funcionaria, por causa do hardware. E o papel dos ativistas do SL é, cada vez mais, apontar o papel do hardware como nosso MAIOR obstáculo hoje em dia; muito maior do que o sistema Windows em si, embora a MS contribua muito para a presente situação do hardware.
Se os eventos de SOFTWARE LIVRE não são os locais mais adequados pra isso, eu não sei onde seria.
[1] Comentário enviado por Guruga em 29/02/2016 - 23:25h
Pois eu concordo com o André. Não em tudo, claro. Mas que alguns membros da comunidade do software livre estão fazendo um desserviço à divulgação do SL, ah estão. Primeiro de tudo, cansei de ler textos como esse, de que a malvada Microsoft e os fabricantes de hardware são os culpados pela não massificação do SL. Primeiro, quando um novo concorrente entra no mercado se ele não consegue angariar novos clientes a culpa é dele, não da empresa que está no mercado há mais tempo. Nenhuma empresa ficará de braços cruzados ao perceber um novo concorrente. O mercado é assim, então é melhor parar com o choro. (Vivemos em uma sociedade capitalista e é assim que ela funciona. Se o objetivo é usar o software para subverter, inverter ou implantar uma novo sistema econômico, que fique bem claro qual a alternativa ao capitalismo se está defendendo e também como ela será efetivamente implantada.) E não pensem que eu sou defensor da Microsoft. Na realidade eu detesto essa empresa, por um série de motivos, e gosto bem menos ainda do seu tão aclamado "genial" fundador. Mas a realidade é clara, quem tem que cativar o público é a nova empresa, ela tem que se mostrar diferente, inovadora... conquistar as pessoas. A Microsoft teve uma série de fiascos nesses quase 25 anos de kernel Linux. Em qualquer desses momentos o GNU/Linux poderia ter alavancado sua participação de mercado, obrigando que as empresas de hardware passassem a considerá-lo como importante para seus negócios. Entretanto, ele passou "batido" em todas as oportunidades. Esse é o primeiro ponto que queria falar. O segundo é que, em qualquer atividade humana há, e sempre haverá, o momento em que um grupo se separa do grupo inicial para defender sua própria visão. Foi assim, por exemplo, com a igreja católica e o protestantismo. A questão é que isso normalmente ocorre quando o pensamento desse grupo já é dominante em uma sociedade. O movimento SL está rachando sem nem mesmo conseguir atingir 2% de participação de mercado. Eu mesmo só permaneço usando um SO livre porque até hoje não achei nenhuma alternativa que me satisfizesse. E não, eu não sou evangelizador de nada. Apresento o software livre como alternativa sempre que posso, mas não fico tentando convencer ninguém a adotá-lo através de argumentos que invoquem algum tipo de "consciência pesada" daqueles que me ouvem. Me recuso a adotar qualquer tipo de "filosofia" de vida: não tenho religião, partidarismo político, etc. Não me aferro a uma ideia e defendo-a até a morte, contra tudo e contra todos. Estou sempre aprendendo, e com isso, sempre mudando de opinião. Mas, como disse, eu uso SL e continuarei usando, a menos que eu seja proibido de usá-lo por não concordar com sua doutrina.
Encryption works. Properly implemented strong crypto systems are one of the few things that you can rely on. Unfortunately, endpoint security is so terrifically weak that NSA can frequently find ways around it. — Edward Snowden
[3] Comentário enviado por roderico em 29/02/2016 - 23:54h
Guruga: note que vc se equivoca sobre várias coisas aqui. Por questões de pura preguiça minha, vou expor só uma: esse texto que escrevi, EM PONTO NENHUM DELE faz apologia de filosofia. Eu coloco apenas a questão ética de se dizer a mais pura verdade. Uma verdade que, por não estar sendo exposta na intensidade que merece, vem tolhendo cada vez mais a liberdade de TODOS os usuários de SL e futuros novatos: estamos usando soft NÃO-LIVRE e afirmando que É livre. Essa "solução" de jogar essa questão prá debaixo do tapete só piora a situação. Atualmente, por exemplo, existe uma enorme gama de computadores onde eu não consigo subir o GNU/linux. Isso é um grande problema! E textos como esse não são prá "espalhar chororô": são prá apontar o problema; e depois de tomada consciência sobre o problema, resolvê-lo. Se vc não acha que isso seja de grande importância, beleza. Porém, entenda a verdadeira motivação em se martelar tanto nesse ponto do Livre versus Não Livre: o próprio mercado, que vc usou como justificativa para o qual devemos nos dobrar, tomou ações que não só impediram os novos usuários de chegarrem: impediu inclusive velhos usuários de GNU/Linux a usarem suas distros que não são "mainstream". Repito 'ad eternum': esconder/esquecer o problema não fará que ele se resolva sozinho. É tanto que o próprio André Machado (criticado nesse texto) escreveu dias depois um texto que vai na mesma linha. O silêncio desse ENORME problema (nunca é demais ressaltar) só o fará crescer. Soluções de fato? Já vejo algumas no horizonte, mas ainda complexas e fracas demais; mas logo servirão. Falo dos Raspberry Pi e outros, mais livres ainda, que poderão em tempo futuro ter potência o bastante para serem substitutos à altura dos notes atuais. Mas prá buscarmos soluções é necessário que o problema esteja em voga.
Encryption works. Properly implemented strong crypto systems are one of the few things that you can rely on. Unfortunately, endpoint security is so terrifically weak that NSA can frequently find ways around it. — Edward Snowden
[5] Comentário enviado por sidneykormann em 01/03/2016 - 05:41h
A maioria das pessoas não se importam se o software é livre ou não, elas apenas querem que ele funcione adequadamente, por exemplo, quero meus drivers da Nvidia funcionando adequadamente, não me interessa se são livres ou não. Na minha opinião um dos principais problemas do Linux é a falta de padronização, por exemplo, pra instalar o Steam, no Ubuntu é tranquilo, mas em outras distros, vai funcionar igualmente? Nem sempre. Agora temos a questão Mir vs Wayland, mais um problema, o usuário comum não esta nenhum pouco preocupado com essa briga, mas o desenvolvedor de software está, terei drivers de vídeo para os dois servidores gráficos? Poderei usar os mesmos jogos nos dois? Os diversos sabores do Linux é interessante, mas é preciso criar um padrão para algumas situações, um dos principais motivos do Windows ter toda essa base de usuários é porque as pessoas usam ele no trabalho, poucas pessoas se darão ao trabalho de aprender a usar outro sistema se podem usar o mesmo em casa. O Windows hoje é um padrão de mercado, não é nada fácil mudar isso, talvez uma oportunidade seja a migração para o mobile e as aplicações na nuvem, onde cada vez menos dependemos de aplicações locais.
[6] Comentário enviado por Guruga em 01/03/2016 - 11:25h
roderico, acho que é você quem está equivocado. Você está defendendo um movimento que se autodenomina filosofia. Portanto, o texto está defendendo uma. O sistema mais usado hoje em smartphones é o Android. Poucas pessoas sabem que ele é baseado no Linux. Dentre essas, muito poucas se importam com isso. É apenas uma curiosidade. Elas continuariam usando se fosse Windows, Apple, Nokia, etc. O que importa é atender suas necessidades. Entenda que filosofia de software importa para desenvolvedores de software (se tanto), não para as pessoas comuns. Esse é um site, por exemplo, que recebe muitas visitas de pessoas engajadas na filosofia GNU. Mas também, creio eu, muita gente que apenas quer tirar alguma dúvida no uso do sistema. Atrelar o uso de um software a aceitação de uma filosofia não é a melhor maneira de se conquistar novos usuários. Esse é um motivo para a baixa aceitação do SL no mercado, mas não o único e, talvez, não o mais importante. Mas o fato é que o GNU/Linux está fracassando enormemente no acesso às pessoas comuns e, como disse, não adianta culpar ninguém mais por isso. Perceba que ele só é relevante no mercado de telefonia porque uma empresa (Google) assumiu para si a responsabilidade de desenvolver um sistema funcional e que desse ao usuário a experiência que ele deseja em seu aparelho. Se ao invés disso tivesse ocorrido o mesmo que houve nos desktops (milhares de distribuições, com dezenas de interfaces, ícones, formas de atualização, etc.) o GNU/Linux nos smartphones seria hoje o mesmo que é nos desktops: apenas uma curiosidade para a maioria das pessoas. Uma ínfima parte estaria hoje desenvolvendo aplicativos para smartphones com Linux. Os fabricantes não lançariam hardware compatível com ele. E veríamos exatamente a mesma coisa que vemos no mercado de computação pessoal. Se o que ocorre é o contrário, não foi porque a Microsoft foi boazinha no mercado de telefonia, mas porque a Google soube se posicionar muito bem para conseguir espaço. Sem desculpas e sem procurar responsáveis pelo sucesso ou fracasso além dela mesma.
[7] Comentário enviado por roderico em 01/03/2016 - 12:21h
"Esse é um motivo para a baixa aceitação do SL no mercado"--> cara, se eu nem consigo subir o sistema, por conta do hardware fechado, como vc pode colocar na responsabilidade do SL a baixa aceitação dele? Não perceber que defendendo essa posição, vc está defendendo o indefensável? Se o fabricante fecha completamente o acesso dos programadores ao hardware, a culpa agora é do programador?
"o GNU/Linux nos smartphones seria hoje o mesmo que é nos desktops: apenas uma curiosidade para a maioria das pessoas."--> o GNU/Linux nos smartphones não chega nem a ser uma curiosidade para a maioria das pessoas, simplesmente porque ele não roda nos smartphones. Pelo mesmo motivo que não roda na maioria dos notebooks: hardware fechado.
"Sem desculpas e sem procurar responsáveis pelo sucesso ou fracasso além dela mesma."--> Vc tá sugerindo que os programadores de SL não foram competentes o bastante para fazer software de qualidade. Tem noção do absurdo disso? Quer dizer: o programador encontra pela frente a porta fechada prá acessar as características do hardware, a Google e as fabricantes possuem tudo isso sem o menor esforço, e o programador é incompetente?
Que tristeza ler isso!
[8] Comentário enviado por Guruga em 01/03/2016 - 20:27h
E a baixa aceitação do sistema é porque "hoje" com o UEFI você não consegue subir o sistema? Ou porque com 25 anos de estrada o sistema não se mostrou interessante para a maioria dos usuários. Se o fabricante fecha o hardware é porque ele percebe uma vantagem em defender sua propriedade intelectual. Para reverter isso não basta discurso dizendo como seria lindo e maravilhoso se todo mundo abrisse as especificações de seus equipamentos para que programadores ao redor do mundo pudessem construir seus próprios drivers. Melhor seria dizer: veja, eu tenho milhões de usuários que usam meu sistema. Se você não abri-lo serão milhões de consumidores a menos para seus produtos. É assim que o mercado funciona. Então, não é culpa do programador se a empresa fecha o hardware para seu sistema, mas é culpa dele se o sistema não tem força para reverter isso. Como disse, eu cansei da vitimização que o SL faz de si.
Que eu saiba o Android foi desenvolvido usando o kernel Linux como base. Realmente não pesquisei se há algum software GNU envolvido (apesar de crer que sim. Nem que seja o compilador usado, talvez?) Mas se estou enganado sobre o papel do GNU no Android, o kernel Linux, ou um fork dele que seja, está lá. Então há código herdado ali. Mas você pode ser purista e dizer que não, não é Linux. O que deixa minha afirmação mais forte ainda, pois reduz ainda mais a participação do Linux e GNU no mercado.
Não estou afirmando sobre qualidade de software. Sei de muitas qualidades do SL e de muitos defeitos também. Afinal faço uso dele todos os dias. Mas qualidade, só, não é o bastante. É triste, mas é a verdade. Ou toda empresa líder em seu setor o é por pura qualidade? O canal mais assistido na TV é o que tem a melhor qualidade? O programa de maior audiência também? A empresa líder no setor automobilístico do Brasil é a que produz os melhores carros? Se você gastar um tempo para pensar irá perceber que a qualidade não é o fator único que determina a participação de qualquer empresa no mercado. Ela é importante, mas talvez não tão determinante quanto se queira.
Quanto a encontrar a porta fechada, bem isso todo mundo encontra na vida. Quando vai montar um novo negócio, quando vai procurar um novo emprego... Saber aproveitar as oportunidades que surgem e oferecer algo diferente e inovador são duas formas de conseguir uma fatia do mercado. Quando a Google surgiu como buscador já existiam diversos sites fazendo a mesma coisa. Se não me engano o Yahoo! era a Google da época. O que a Google fez foi correr atrás e oferecer um produto melhor sim, mas também com um algo a mais. Um algoritmo mais eficiente, respostas mais diretas, um melhor ranking dos sites... O fato é que quando ela começou já existiam empresas muito grandes no mesmo ramo. E apesar do slogan da empresa (Don't be evil, se lembra?), não foi isso que fez as pessoas usarem seu buscador. Não adianta ter um discurso bonito, é preciso algo mais.
Mas eu paro por aqui. Tem muita gente na internet hoje tentando abrir os olhos da comunidade do SL para isso. No entanto, parece que as pessoas preferem enxergar o mundo apenas através de suas próprias filosofias, dogmas, doutrinas... Então, continue procurando culpados externos para o fracasso do sistema no desktop, se isso te satisfaz. Mas o fato é que essa atitude não vai mudar em nada a porcentagem do sistema no desktop.
[9] Comentário enviado por lcavalheiro em 02/03/2016 - 02:08h
Vamos a alguns pontos nesta discussão:
1) Maior qualidade é sinônimo de maior fatia do mercado
Isso é uma afirmação falsa. Bill Gates e Steve Jobs estão aí para provar a falsidade da afirmação. O próprio Jobs é famoso por ter criado um produto que não se vende pela qualidade dele (que é risível em comparação com os concorrentes), mas se vende por criar no usuário a percepção de uma necessidade fomentada pela equipe de propaganda à disposição do vendedor do produto. Gates fez a mesma coisa, só que em outro sentido: ao procurar alcançar o mercado corporativo, ele criou um ecossistema favorável a ele, pois o usuário não vai querer aprender a usar um sistema no trabalho e outro em casa. Nos dois casos o que levou a maiores fatias de mercado não foi qualidade, mas marketing.
2) A falta de compatibilidade de hardware no GNU/Linux se deve ao modelo de closed hardware
Parece verdadeiro. Porém, sob o tacape do capitalismo, parece também verdadeira a afirmação de que uma empresa deva fechar as especificações de seu hardware para proteger seus lucros.
Infelizmente as duas afirmações são falsas. Atualmente, o sistema operacional não é feito sob medida pro hardware, é o hardware que é feito sob medida pro sistema operacional. Com o predomínio do Windows e dos OS/X no mercado, é natural que as empresas desenvolvedoras de hardware peguem as especificações desses dois sistemas operacionais e desenvolvam seus componentes para eles. Afinal de contas, o empresário vai gastar rios de dinheiro com pesquisa, desenvolvimento e produção de uma placa que só funciona no Solaris? Claro que não, né?
Se o hardware é desenvolvido tendo em vista o sistema operacional ao qual ele se destina, então compreende-se o porquê de um dos falhanços do GNU/Linux a nível de desktop. Algumas empresas já desenvolvem hardware com o pinguim em mente, mas na maior parte das vezes ainda é a comunidade que cria o suporte ao componente depois que o mesmo é lançado. Neste ponto específico é fácil ver como o closed hardware é danoso ao GNU/Linux, mas não pelos motivos expostos pelo primeiro parágrafo desta seção.
3) Eventos como FISL e FLISOL não são lugares para catequização e evangelização
Realmente não são. Quem vai pra esses eventos já usa e já conhece software livre. Dificilmente um leigo, uma pessoa que nem sabe o que FSF, EFF, rms e GNU significam, por exemplo, entra num evento desses. Não se deve tentar converter um convertido, pois é esforço redundante e desnecessário.
Entretanto, a pergunta que esta seção levanta é, "então como apresentar o software livre como alternativa?" Vamos analisar a questão com um pouco mais de carinho. A maior parte dos usuários não liga pro como o computador funciona, desde que ele funcione. O usuário típico jamais instalou um sistema operacional, um hardware ou um software na vida. Ele vai no "técnico" da esquina e paga R$100 para formatar o computador quando enche de vírus, mais R$50 pra instalar um Avast, outros R$50 para instalar um MS Office (pirata, é claro!) e mais um mesmo tanto para instalar a impressora. Então, é fácil ver como o usuário típico está defecando e se locomovendo pra questão do software livre.
Outro ponto é que o indivíduo típico está defecando e se locomovendo para suas liberdades e privacidades. O indivíduo típico não se incomodaria de haver câmeras na rua vigiando-o 24h por dia (mesmo no banheiro) se isso aumentar sua sensação de segurança. O mesmo indivíduo não liga de vender suas informações pessoais para uma empresa se isso significar ter nenhum esforço para acessar o conteúdo que ele quer consumir. O indivíduo típico alegremente abdica de seus direitos em troca de facilidades. Então virar para um sujeito desses e falar "Olha, o software proprietário ameaça suas liberdades!" vai gerar a resposta "Faça sexo consigo mesmo! O que me importa é que o computador funcione e eu acesse o Facebook e o xvideos.com!"
Dito isso, você nunca apresentará o software livre de maneira convincente nem para o usuário típico, nem para o indivíduo típico. O primeiro quer um computador que funcione, o segundo não se incomoda para suas liberdades e privacidades desde que tenha a satisfação imediata ou quase imediata de seus prazeres e vícios. E como o usuário típico costuma ser um indivíduo típico, conclui-se que tentar apresentar o software livre para um usuário típico ou um indivíduo típico é missão fadada ao fracasso mais retumbante que este universo jamais viu.
Decerto os senhores, vindos das áreas tecnológicas, não conhecem a Alegoria da Caverna, de Platão. Resumindo, ela descreve de modo simbólico a jornada de um filósofo, desde o momento em que o indivíduo é arrastado para fora das trevas e da ignorância até o ponto que seus antigos companheiros o matam porque a Filosofia, por buscar e falar a verdade, tornou o filósofo um ser incômodo para aqueles que se beneficiavam das trevas e da ignorância. O software livre requer o mesmo tipo de jornada que a Alegoria descreve. O indivíduo típico vai conhecer software livre apenas quando for arrastado contra a sua vontade para longe da segurança, do conforto e do comodismo da caverna.
Demonstração dessa afirmação. Minha primeira ex-esposa é tão analfabeta digital que até hoje ela não aprendeu a digitar uma letra maiúscula em um teclado Android. Quando ainda éramos casados, um parente dela se desfez de um notebook (Core i3 Sandybridge, vídeo Intel HD série 2000, 2GB de RAM e 500GB de HD) porque o Windows 7 estava lento demais, e deu o notebook para ela. Tudo bem, havia tantos vírus no notebook que eu fiquei com medo de ficar gripado só de tocar nele, mas mesmo assim o computador estava lento demais. Instalei e configurei o Slackware para ela. Resultado: hoje em dia ela, que não sabe quase nada de tecnologia da informação, é capaz de defender o GNU/Linux com base na experiência dela. A defesa não é a mais primorosa, mas pode ser resumida como "prefiro GNU/Linux porque ele é melhor do que Windows". E também com base na experiência dela, ela diz que a melhor distribuição é o Slackware. Ela testou Fedora, openSUSE, Xubuntu, Mageia, Arch Linux e Debian, mas a melhor distribuição na opinião dela é o Slackware. Justificativa: "é a distribuição que funciona melhor".
A demonstração acima aponta para dois pontos distintos. O primeiro, óbvio e trivial, é que o usuário típico usará qualquer coisa que esteja instalada em seu hardware - tamanho é o poder do mouse. Explique onde o usuário típico tem que clicar e ele usará até mesmo FreeBSD sem notar que o está fazendo. O segundo é igualmente óbvio e trivial: o usuário típico não pensa em migrar para software livre porque ele não o usou. Dê um computador com Slackware instalado e configurado para um usuário típico ou para um indivíduo típico usando Xfce como ambiente de área de trabalho (devido às semelhanças entre esse DE e a interface do Windows) e você verá um fulano que nunca usou GNU/Linux na vida se virando perfeitamente bem.
Apelar para a curiosidade do indivíduo ou do usuário é ingenuidade. Hoje em dia podemos facilmente dividir a humanidade em duas castas: a mais numerosa é aquela à qual pertencem os indivíduos cuja curiosidade foi natimorta graças ao modelo formatador e castrador de sociedade que o capitalismo impõe às pessoas; a segunda casta, superior à primeira mas menor em número, é formada pelos indivíduos nos quais a curiosidade ainda está viva. Porém, os membros da segunda casta não são nem usuários típicos, nem indivíduos típicos, enquanto os membros da primeira casta (entre os quais estão os usuários típicos e os indivíduos típicos) não se interessam por nada além daquilo a que eles foram condicionados a aceitar, acreditar, fazer, pensar ou usar.
Voltando ao exemplo da minha ex-esposa, vemos que ela não quer saber das qualidades técnicas que o GNU/Linux tem e o Windows não. Ela olha em termos de funcionamento. Junte isso ao exposto na seção 2 e veremos que nem o usuário típico, nem o indivíduo típico usarão GNU/Linux de bom grado se não houver ninguém que configure a coisa pra ele. Claro que esse tipo de subser tem a mesma dificuldade com o Windows, mas como normalmente já vem pré-instalado no computador, então ele aceita o problema como natural e paga para superar suas dificuldades.
Voltando à pergunta "onde apresentar o software livre?", a conclusão, por mais paradoxal que seja, é uma só: não temos que apresentar o software livre pra ninguém. Se o usuário típico ou o indivíduo típico não forem expostos ao software livre por ação de alguma necessidade pessoal eles nunca se interessarão pela coisa - e "silenciar ou agradar o amigo pentelho" certamente não se enquadra na definição de necessidade pessoal. As empresas se voltam pro software livre não porque ele seja melhor, é porque ele é gratuito - e a multa para pirataria no meio corporativo é assustadora. Os usuários e indivíduos típicos, pessoas que não se incomodam em usar software pirata já que nunca que veremos a Polícia Federal invadindo a casa de um usuário para apreender um computador rodando Windows pirata, simplesmente não tem razão para empreender a migração.
O único cenário no qual eu vejo um usuário típico ou um indivíduo típico migrando para GNU/Linux por vontade própria é se por algum cataclismo ou hecatombe todos os programas que ele usa no computador deixarem de estar disponíveis para o Windows. Se bem que em um cenário desses eu imagino ser mais provável criarem algo como o Wine para rodar programas GNU/Linux no Windows do que os tais usuários empreenderem a migração.
Eu poderia escrever mais sobre o tema, mas não quero ofender a inteligência de ninguém. Não se deve apresentar o GNU/Linux para novos usuários porque o usuário e o indivíduo típico não estarão interessados no pinguim. Quem procurou saber que uma distribuição existe o fez por conta de alguma necessidade o forçar a isso, ou então o camarada é um entusiasta total da tecnologia. Infelizmente, cada vez menos surgem entusiastas - nos anos 90 eles eram comuns, e eu uso Slackware há 20 anos porque em 1996 eu era um jovem fascinado com o primeiro computador em sua vida e esse computador, um 486 que ainda roda Slackware, me transformou em um entusiasta da coisa. A curiosidade é perícia morta.
4) A ausência de padronização no GNU/Linux
Culpa do Debian, que desde suas origens defecou e se locomoveu sobre a cara dos padrões do GNU/Linux e fez as coisas da sua maneira - e sim, eu testemunhei essas discussões no IRC ainda em 1996. O problema é que o Ubuntu popularizou ainda mais a lambança, e para piorar a coisa o Fedora adicionou seu próprio caminhão de estrume na receita. Tempere o cozido de fezes com duas pitadas de Lennart Poettering (aka diarréia em jato) e você vai ver que as distros mais populares não seguem nem o FHS, quem dirá os outros padrões...
Mas o Windows é ainda pior nesse ponto: não existe padronização entre as versões diferentes do mesmo produto! Se houvesse um padrão, não haveria o recurso de execução em compatibilidade, por exemplo. Quando a gente olha do MS Office, que tem dificuldades para abrir arquivos feitos em versões da suíte diferentes da atualmente instalada no computador, descobre que o fundo da fossa da MS é ainda mais embaixo. Mas se a MS não consegue padronizar nem o próprio produto, que ela desenvolve sozinha, e mesmo assim conseguiu se tornar o sistema operacional dominante no mercado, conclui-se que a ausência de padronização não é empecilho algum.
Gente, eu até queria escrever mais. Mas, sinceramente, não quero ofender a inteligência de ninguém aqui. Para resumir meu ponto de vista, afirmo que GNU/Linux não tem maior alcance no segmento de desktops porque tem qualidade demais. Dêem o jeito de vocês para entender o que eu quis dizer com isso.
--
Dino®
[i]Vi veri universum vivus vici[/i]
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Só Slackware é GNU/Linux e Patrick Volkerding é o seu Profeta
[10] Comentário enviado por nicolo em 02/03/2016 - 07:09h
Prezados:
O software livre nacional sofre da síndrome de Mahatma Gandi: "O que une os corações não leva ao desenvolvimento, o que leva ao desenvolvimento não une os corações."
[11] Comentário enviado por removido em 03/03/2016 - 19:49h
Ninguém quer saber de ideologia. O que se quer são as coisas funcionando.
Já se tem muito trabalho sendo advogado, médico, publicitário, engenheiro, arquiteto...
Existem exceções, mas Linux já é uma exceção.
Encryption works. Properly implemented strong crypto systems are one of the few things that you can rely on. Unfortunately, endpoint security is so terrifically weak that NSA can frequently find ways around it. — Edward Snowden
Encryption works. Properly implemented strong crypto systems are one of the few things that you can rely on. Unfortunately, endpoint security is so terrifically weak that NSA can frequently find ways around it. — Edward Snowden
[12] Comentário enviado por lcavalheiro em 03/03/2016 - 20:40h
[11] Comentário enviado por listeiro_037 em 03/03/2016 - 19:49h
Ninguém quer saber de ideologia. O que se quer são as coisas funcionando.
Já se tem muito trabalho sendo advogado, médico, publicitário, engenheiro, arquiteto...
Existem exceções, mas Linux já é uma exceção.
Encryption works. Properly implemented strong crypto systems are one of the few things that you can rely on. Unfortunately, endpoint security is so terrifically weak that NSA can frequently find ways around it. — Edward Snowden
Encryption works. Properly implemented strong crypto systems are one of the few things that you can rely on. Unfortunately, endpoint security is so terrifically weak that NSA can frequently find ways around it. — Edward Snowden
Por um lado eu concordo. Por outro, se não existisse ninguém se importando com ideologia jamais teríamos o GNU/Linux, já que ele nasceu dos esforços de um dos maiores idealistas de nossos tempos: rms. Faça sexo com ele mesmo o sr. Torvalds, um oportunista dos infernos. Se existe GNU/Linux, é graças ao rms.
[13] Comentário enviado por nicolo em 04/03/2016 - 09:33h
Informações aos contendores.
No termômetro da Distrowatch.com o Ubuntu e o Mint chegam a mais de 7000 hits por dia. Os *.deb superam os *.rpm largamente. As alternativas top 10 são o Arch e seu
filhote o Manjaro.
Resumindo: O Debian é dos mais puristas (ma non troppo) e o patriarca (ou matriarca) do clã dos DEBs, mas o clã não cultua o purismo radical de software livre, sendo que o próprio debian assume o repositório non-free. O Debian é única grande Distro que não é mantido por empresa.
Os *.rpm são ligados a empresas e tem perdido popularidade (não digo utilização uma vez que o meio corporativo é mais fechado) para os DEBs.
O Arch e seus derivados são a novidade alternativa. Estão progredindo rapidamente e ganhando popularidade. Não sei o grau de purismo do Arch, mas a tendência é
abandonar o virtuosismo se quiser um lugar ao sol, fora do laboratório.
Não dá para negar que a popularidade do Linux melhorou depois do Ubuntu, por mais "poluído" que este seja. Gosto da orientação da Canonical, eles são atrevidos e abusados,
como devem ser os inovadores, e mesmo "poluídos" fizeram bastante pelo Linux.
[14] Comentário enviado por Giovanni_Menezes em 03/01/2017 - 23:27h
Osistas tem sérias dificuldades de fazer a leitura correta ta situação, vira e mexe o que se observa são eles na tentativa de combater caricaturas criadas da distorção das coisas, não conseguem entender que aonde tem software proprietário coloca o desenvolvedor no controle, e não o usuário. pior ainda é promover a "liberdade" de se usar software proprietário junto com livre, hora, se o software tem trecho proprietário porque não é possível desenvolver uma versão livre já que o código esta fechado e patenteado, temos justamente o contrário, o uso de software proprietário mesclado com livre é a prova que você não tem liberdade, e não o contrario como a turma do open-source pensa, eles entendem tudo ao contrario, eles não conseguem entender o que significa o que eles mesmos falam.