Teixeira
(usa Linux Mint)
Enviado em 04/05/2013 - 16:06h
CARTA DA MÃE DO MANOEL:
Querido filho Manoel Joaquim!
Escrevo-te estas linhas para que saibas que a tua mãe está viva.
Vou escrever bem devagar, pois sei que não consegues ler depressa.
Caso estejas sem tempo de escrever à mãe, manda uma carta dizendo que quando estiveres mais tranquilo vais mandar noticias.
Se tu viesses hoje aqui em casa não irias reconhecer mais nada, porque nos mudamos.
Temos agora uma máquina de lavar roupa, mas não trabalha muito bem. Na semana passada pus lá 14 camisetas, apertei o botão e nunca mais as vi. Vai ver que esta marca Hydra não é das melhores.
Tua irmã Maria está grávida. Mas ainda não sabemos se vai ser menino ou menina. Portanto não podemos te dizer se vais ser tio ou tia.
Teu pai arranjou um bom emprego. Tem 2.300 abaixo dele. Ele é responsável pelo corte da grama do cemitério.
Quem anda sumido é o tio Venâncio, que morreu no ano passado.
Lembras-te do tio Joaquim? Então... afogou-se no mês passado num depósito de vinho. Oito compadres dele tentaram salvá-lo, mas o tio lutou bravamente contra eles. O corpo dele foi cremado há duas semanas. Levaram alguns dias para apagar o incêndio.
Os engarrafadores de refrigerante aqui tiveram finalmente a grande ideia de colocar uma indicação na tampinha, dizendo "abra por aqui".
Facilitou-nos muito a vida. Espero que os daí façam a mesma coisa.
Caso esteja difícil para ti, a mãe te manda algumas garrafas.
Teu irmão João Manuel continua o mesmo de sempre. Semana passada fechou o carro com as chaves dentro.
Perdeu um tempão indo até a casa pegar a cópia da chave para poder tirar-nos de dentro do automóvel. Estava um calor de rachar.
Por falar em calor, o tempo aqui está muito estranho. Esta semana só choveu duas vezes. Na primeira vez choveu três dias e na segunda vez choveu durante quatro dias.
Esta carta te mando através do Gabriel, que vai amanhã para aí. A propósito, será que podes pegá-lo no aeroporto ?
Lembrei-me de uma coisa importante: terás um problema para falar com a mãe caso decidas escrever-me. Não sei o endereço desta casa nova.
A última família que morou aqui, antes de nós, também era de alentejanos, levou a placa de rua e o número da casa para não precisar mudar de endereço.
Manoel, se encontrares a Teresa, dê-lhe um alô da minha parte.
Caso não a encontrares, não precisas dizer nada.
Sem mais, adeus... da tua mãe que te ama Fátima Manoela de Alcova.
PS - Ia te mandar uns euros, mas fica pra outra vez. Já tinha fechado o envelope.