Para concluir, como eu destaquei no começo, essa foi uma visão empírica e subjetiva minha. Eu procurei ilustrar simplesmente situações reais que são observadas no dia a dia, e garanto que você já tenha passado por pelo menos uma delas e se identifique com as mesmas. Apesar de procurar mostrar os dois lados da moeda, "fornecedores" e "clientes", eu "ataquei" muito mais os "fornecedores".
Se você que leu este artigo trabalha com informática certamente entendeu o que eu falei, e se você não trabalha, certamente considerou que faz sentido, não que os pontos que expus sejam uma verdade única, eu posso ter cometido equívocos, ter sido omisso em alguns aspectos e exagerado em outros, mas o texto é muito mais ilustrativo do que técnico.
Essa questão também é porque eu quis mostrar na medida do possível do ponto de vista da insustentabilidade do modelo baseado no software proprietário dele pra ele mesmo. Seria muito trivial fazer uma comparação do tipo Windows x
Linux, já que no meu ver a insustentabilidade da qual falo está na contradição de que se o software proprietário existe pra que se "ganhe dinheiro" com ele, porque cada vez mais ele gera prejuízos?
Eu não apontei as ligações diretas, digamos assim, mas estou certo de que se você considerar cada um destes fatores e comparar com suas próprias experiências, mas do que na questão técnica, verá que este modelo tem se tornado insustentável do ponto de vista financeiro também.
Uma das maiores provas de falta de conhecimento nessa questão é o fato das pessoas e profissionais da área "torcerem o nariz" pro software livre, afinal, nós da área vivemos disso, e como alguém pode sobreviver distribuindo programas de graça!? O Bill Gates pode ter sido esperto, mas pra mim o gênio é Linus Torvalds, que acumulou uma fortuna de US$ 20 milhões distribuindo o programa dele de graça. Ah sim, a fortuna do Bill Gates é de US$ 50 bilhões (recentemente, ao se aposentar, ele doou quase tudo pra sua fundação pra cuidar de causas sociais, o que é uma atitude nobre), mas é esse o problema das pessoas, elas consideram o sucesso apenas quantitativamente.
Não estou dizendo que todo mundo deve de uma hora pra outra largar tudo e começar a mexer com software livre, mas que os exemplos dele nos ajudem a fazer as coisas com mais inteligência. É simplesmente ignorância dizer que quem mexe com software livre trabalha de graça.
Grandes empresas como Red Hat, Novell e Canonical mostraram que essa afirmação é descabida. E porque elas conseguem ganhar dinheiro distribuindo software de graça? Primeiro entenderam que essa indústria produz serviços, e é isso que elas vendem.
Por mais que digam que "o Linux é de graça mas o suporte custa mais caro do que se fosse usar Windows", essa frase também não passa de outra grande besteira do tempo das cavernas que não vale mais pros dias de hoje, pois com certeza os clientes que fazem delas empresas milionárias não pensam isso.
A visão estratégica (e comercial) e a habilidade de planejamento de empresas como estas atingiu um nível tão elevado que é difícil pra nós que atuamos em instituições bem menores imaginarmos. Elas souberam estabelecer uma relação coerente entre investimento e perspectiva de lucros.
É claro que dificilmente os mais pequenos consigam as proezas que eles conseguem, mas então que seu planejamento e expectativas nesse ponto sejam mais coerentes. A lição é que o lucro deve ser consequência da qualidade, pois o contrário não existe.
E estas empresas colaboram entre si, mesmo sendo, em certo nível, concorrentes, elas sabem que não dariam conta de atender à demanda cada uma sozinha. Hoje a própria Microsoft tem dificuldade de atender sua demanda (se assim não fosse o Windows estaria bem melhor).
Voltando pras empresas locais que conhecemos, quantas delas você conhece que estão em dificuldades para atender bem à demanda que têm. O sucesso do Linux, por exemplo, se deve também ao modelo compartilhado, responsabilidades divididas, soma de esforços.
E a organização dessa comunidade global é de impressionar, liderados pela Linux Foundation, como milhares de pessoas que nem se conhecem, de diferentes partes do mundo, membros de instituições empresariais privadas, de órgãos públicos, organizações não governamentais ou autônomos, que fazem por hobby, conseguem ter um objetivo comum e fazer algo tão extraordinário.
É claro que, principalmente no nosso exemplo básico aqui, a automação comercial, a princípio isso pode parecer impossível, mas se a filosofia do compartilhar já servir de exemplo teremos um grande progresso, melhor seria estabelecer pontes do que muros.
Outro ponto é que pra trabalhar com software livre é primordial saber o que está fazendo. As pessoas encaram isso de maneira deturpada, com o eterno discurso do "é muito difícil". Saber o que está fazendo é também valorizar o que está fazendo.
Se você sente que seu trabalho não tem sido valorizado é porque ou talvez você não sabe o que está fazendo ou não talvez passa a segurança necessária a respeito disso - é necessário, de certa forma, se impor. O software livre exige dedicação, busca por aprimoramento. Interessante que até mesmo dentro das comunidades linuxistas muitos criticam a "filosofia" de trabalho dos desenvolvedores do Debian, mas se esquecem que ele é a base pra maioria das distros que existem hoje, é a base do Ubuntu, que é melhor e mais fácil que o Windows, e se ele não tivesse a qualidade que tem, por mais que seja considerado difícil, não serviria como base, por isso que às vezes é necessário ser um pouco radical.
Pra se manter com software livre é necessário também muita competência. A concorrência entre técnicos, sistemas de gestão e etc., principalmente entre as micro, pequenas e médio empresas é grande, eu sei, agora imagine a concorrência que, proporcionalmente, o Linux enfrenta, e mesmo assim tem gente ficando milionário com ele.
No exemplo do Linux, é difícil enganar, ou o cara sabe ou ele não consegue fazer, ele não perdoa os gambiarreiros e enrolados, logo entrega quem não tem capacidade. Porque ele é difícil? Não! Porque ele é profissional.
O argumento mais comum, é que Linux é coisa de nerd, por isso que não serve pro público em geral. No meu último artigo eu defendi, usando o Ubuntu, como o Linux é mais fácil que o Windows. A questão é que existem diferentes aplicações para cada distribuição dele, no software livre se trabalha com foco, o fazer bem feito é levado a sério, o estar capacitado é levado a sério.
As empresas que adotam Linux levam a sério a questão da tecnologia da informação. Precisamos ter em mente em nossas empresas que computador é uma ferramenta de trabalho, que "vive" de software e informática deve ter mais em mente do que simplesmente o lucro, e que precisa disso no dia-a-dia, os clientes, devem ver com um investimento, não simplesmente como um gasto qualquer.
Precisamos ter em mente na nossa vida pessoal que computador é uma ferramenta para nossa edificação. Ele pode ser sim usado pra diversão, mas a vida não é só diversão, da mesma forma que prosperidade não é só acumular dígitos na conta bancária.
A maioria das empresas tem problemas porque pensa em "explorar" um mercado, e não em se "estabelecer" nele. É claro que isso é uma característica do capitalismo, obter lucro, e é até por isso mesmo que, por outro lado, muitas "anedotas" associam o Linux ao comunismo, mas isso não é verdade.
Da mesma forma que se fala muito em desenvolvimento sustentável do ponto de vista do meio-ambiente, e muitos criticam, chamam de utopia, precisamos ter um mente que desenvolvimento sustentável não tem nada a ver com papo de ambientalista desocupado ou comunismo, e que esse modelo pode ser inclusive a "salvação" do capitalismo, que hoje é baseado na exploração irresponsável, mas que um dia vai acabar porque não haverá mais nada para explorar, afinal, tudo já foi destruído mesmo.
Assim, o software livre pode ser a "salvação" das empresas que vivem de informática e pode ser a melhor opção para empresas que dependem de sistemas de informática em seus processos. Se você conseguir estabelecer esta analogia que proponho, entre meio-ambiente e software, irá entender enfim porque o software proprietário está se tornando cada vez mais um modelo insustentável.
É claro que a conclusão deste artigo não é sobre a necessidade de salvar o planeta, embora eu pessoalmente creio que esse assunto deve ser discutido mais a sério, e mais do que falar, precisamos tomar atitudes, que podem começar dentro de sua própria casa. Mas estes dois assuntos tem um ponto em comum, tanto o meio ambiente quanto a informática, mais precisamente o desenvolvimento de sistemas, estão adoecendo por causa de atitudes egoístas, avarentas e desonestas, e quando não, demagogas.
Defender o software livre não se trata de extremismo, mas sim de equilíbrio. Eu nem tampouco estou defendendo o fim do software proprietário (no fundo eu até defendo), mas eu só não entendo o porquê dele estar se auto-destruindo...
Leia no meu site:
http://pedro-araujo.com/go?100911111428