Filosofia do Open Source, um novo jogo?

Muitos crêem que o Linux é uma mudança de mentalidade ou algo semelhante que implique numa "mudança de postura", como se costuma definir as novas eras. Esse artigo mostra uma outra face menos romântica, ou menos psicológica das alterações causadas pelo Linux: a regra do jogo.

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Por: Edwal F. Paiva Filho em 28/04/2010


Considerações conceituais



Pensei em escrever o artigo, depois achei que era fora do contexto, acabei escrevendo motivado por discussões e colocações dos participantes.

Há algumas considerações românticas e outras preocupações legítimas sobre o open source quanto ao seu futuro. Esse artigo é apenas uma cogitação sobre um assunto deveras vasto e complexo e não tem nenhuma ilusão quanto a ser profundo, preciso e muito menos completo. Trata-se apenas de levantar uma hipótese, não tão popular, quanto ao que venha a ser o conceito de open source.

Vou resumir alguns conceitos que podem ser verificados na literatura pertinente e talvez soem como heresia às crenças oficiais vigentes, mas a veracidade (ou não) é verificável nos livros de história e outros bons livros.

Há um razoável consenso que o open source é a antítese do software proprietário no sentido de liberdade e vínculo de dependência. Esse aspecto, embora importante, não é a única motivação, talvez não seja a mais forte. A liberdade ou restrição no jargão desses conceitos seria a tragédia do jogo, onde o lado mais forte, ou o estamento (status-quo) impõe barreiras de entrada e restrições quanto às estratégia possíveis.

Substancialmente o open source libera a propriedade intelectual sobre o código, ou no jargão legal não há o privilégio da exclusividade. A estratégia do jogo do software comercial é o privilégio sobre o código fechado, suportado por um arcabouço legal que impede a cópia sem a devida compensação financeira, leia-se licença de uso.

A ideia da propriedade intelectual não é universal; nem mesmo foi consenso no passado nos países que hoje a defendem. Santos Dumont era contra patentes por achar que elas atrasam o progresso da humanidade. Os conceitos de justo e injusto são relativos e variam no tempo e em cada lugar. No momento passado a fascinação pela tecnologia superava a visão do lucro. A maioria das invenções nasceu elitista, e no momento seguinte a expansão industrial era tão grande que a ideia de patente parecia algo sem importância, todos copiavam e vendiam a produção completa. Com o passar do tempo a força da inovação passou a fazer grande diferença e a ideia de patente ganhou força.

Durante a guerra fria o lado comunista não reconhecia patentes do ocidente e vice versa. Algumas invenções russas como o navio utilizado para levantar outras embarcações flutuando são hoje de domínio público, o ocidente copiou sem dar satisfações e vice versa. Toda tecnologia disponibilizada (de domínio púbico) é tecnologia velha e pouco representa em competitividade.

No mundo inteiro o direito de uso exclusivo da propriedade intelectual é limitado por tempo, depois cai em domínio público, embora isso varie de um país para outro e há certos exageros. Se considerarmos as nuances e sutilezas sobre o que é novidade e o que não é novidade na tecnologia, de uma maneira geral, entraremos num pântano escuro e nebuloso. Note que a novidade é patenteada para evitar que a imitem de graça.

Na informática a paranoia de patentes ganhou dimensões exageradas, em parte e digo em parte mesmo, porque é uma tecnologia que muda rapidamente e com grande impacto.

Em algumas áreas da indústria, e na grande maioria dos produtos, a novidade não faz tanta falta, em especial porque as patentes tem tempo de validade limitado. Veja a indústria automobilística: quem inventou o freio ABS? E a injeção eletrônica. Todas as marcas têm isso e ninguém resmunga por patente.

Nesse caso o concorrente inventou um dispositivo que faz a mesma coisa, sem precisar olhar o do outro.

O jargão de um concorrente que não quer pagar os direitos de privilégio (royalties) diria o seguinte: "Não preciso de você, e não vou lhe pagar um tostão". Em alguns casos os concorrentes partem para o confronto como foi o caso da Sony Betamax, e o VHS das fitas de vídeo, hoje os dois são História para gente velha. O DVD enterrou os ambos.

Na informática a oportunidade de fazer algo equivalente por outros caminhos é total. Escrever software, como mostra o software livre, não tem barreiras significativas, além do próprio cérebro.

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Páginas do artigo
   1. Considerações conceituais
   2. A teoria dos jogos
   3. Conclusão
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Comentários
[1] Comentário enviado por valterrezendeeng em 28/04/2010 - 09:13h

Gostei do Artigo, Principalmente da Conclusão

Lembro do Novell Netware, Excelente Servidor de Rede, mais entrou para história e foi descontinuado. Hoje a Novell está com o SUSE.

Temos tabem a SUN que abriu o JAVA e a Oracle que até tem uma distribuição Linux entre outros

Abraço

[2] Comentário enviado por Teixeira em 28/04/2010 - 10:11h

Gostei muito do artigo, de suas ponderações e também de sua conclusão.

- Já existe há muito tempo o desejo mundial de "reciclar" linhas de código, e acho que isso veio de alguma forma coincidir com as idéias do open source.
Inclusive já teve aqui no Brasil um simpático "maluco-beleza" que desejou fazer um movimento asim, e que não se enquadrando como associação ou colegiado, passou a ter o nome de "Igreja Tringular do Resíduo Digital" (quem se lembra?).
A idéia original era boa e séria, mas andaram aparecendo alguns fanáticos com outras idéias bem mais malucas, incusive pregando o suicídio em massa.
Para evitar problemas, o idealizador da "igreja" reolveu dar um fim à história, antes que acontecesse alguma fatalidade...

- Muitas coisas que legalmente já deveriam estar sob domínio público por decurso de prazo e caducidade de patentes (segundo o direito internacional) na verdade não estão, por motivos muitas vezes inexplicáveis. Dentre os tais se destacam a fórmula da Coca-Cola, o MS-DOS, e o Windows 3.x. da Microsoft.
Mas também há um gancho legal onde aquelas empresas se apegam: è que para ser considerado "de domínio público" o bem deveria ser assim disponibilizado pelos donos de tais patentes drurante o prazo de vigência de tais patentes. (Hmm, que furo, não?...)

- A teoria dos jogos, embora não seja perversa, é um tanto cruel. No entanto, as regras são aquelas mesmo, doa a quem doer.

- Quanto ao tributarismo, acho que toda a população (municipal, estadual, federal, mundial) deveria pagar um imposto único, algo "como se fosse um dízimo" mas cujo percentual fosse cuidadosamente estudado de forma a que todos pudessem efetivamene contribuir e que em contraparte tivessem COM QUE contribur. Partes de Tal imposto seriam repassadas proporcionalmente do municípo gerador para o stado e para a Federação.
Evidentemente os governos deveriam investir (de verdade) em esruturas que permitissem uma melhor distribuição de renda, alimentando assim a galinha dos ovos de ouro.
Atualmente os políticos se preocupam em aumentar infinita e indevidamente o número de "repesentantes do povo" e que na verdade em nada os representam, antes locupletam-se com verbas as mais diveras e sobretudo LEGISLAM EM CAUSA PRÓPRIA.

Para que ninguém diga que sso seria uma utopia, vamos citar apenas um país entre os muitos que têm um único imposto principal e que é a espinha dorsal da arrecadação: A Austrália.
(Uma outra parte da arrecadação é feita através de multas sobre infrações. Mas imposto é imposto, e multa é multa).
Aqui se paga imposto sobre o que não se tem efetivamente e que não se sabe se um dia chegaremos a ter. Outros países adotam a tributação sobre "lucro futuro presumido" , que também a meu ver é uma arrecadação bastante distanciada de conceitos justos. E entre esses tais paísees se encontram os Estados Unidos e a Inglaterra.

- A filosofia do open source é uma modalidade de jogo que busca um eterno desequilíbrio, uma espécie de "moto contínuo".
No dia em que tal equilíbrio for hipoteticamente conseguido, o jogo estará acabado, restando saber QUEM será a parte vencedora.
Por enquanto, o open source joga com poucas fichas contra um jogador cujo cacife é extremamente alto, mas que em compensação nao tem TODAS as cartas.
Simplifiando (ou complicando mais ainda), é como se o "open source" jogasse com três ases e o "software proprietário" com a maioria das cartas.

[3] Comentário enviado por Teixeira em 28/04/2010 - 10:41h

Esqueci de falar sobre a Novell.
Há muitos anos atrás havia uma importante fábrica brasileira de modems - a Cetus.
Seus modems em nada ficavam a dever aos mais famosos modelos importados.
Foi intentada uma parceria com a Novell, e parece que as coisas estavam indo bem, mas naquela época existia uma tal de "Reserva de Informática" que nunca beneficiou o Brasil, exceto a uma única empresa (estatal), a qual vendia montes e mais montes de computadores (literalmente falando) sempre para empresas igualmente estatais, que faziam pilhas intermináveis com os computadores ainda encaixotados e que jamais foram abertos para uso.
Essas pilhas de computadores eram encontradas na Petrobrás, no Banco do Brasil, etc., etc. por vezes até mesmo nos corredores, dada a quantidade que era realmennte enorme.
(Se 2% de todos aqueles computadores foi realmente instalado, quero ser mico de circo).
O resultado já era esperado. Não dá para fabricar apenas o modem sem o suporte de uma tecnologia adequada. Os demais modems tinham a "espantosa" velocidade conhecida como 1200/75 (transmitia a 1200 bauds e recebia a 75 bauds; é claro que isso gerava uma quantidade enorme de pulsos telefônicos - e hoje a gente ainda reclama das conexões dial-up de 56 quilobauds!). Mas reclamar seria totalmente "debaud".
A Cetus dentro de pouco tempo entrou em concordata e fechou as portas. A Novell ficou por um longo tempo impedida de ser comercializada LEGALMENTE em nosso país.
Como era de se esperar, o que havia de pirataria de hardware naquela época era coisa inimaginável.
Vinham containers e mais containers fechados (que "por ordem superior" sequer passavem pela alfândega) carregados de produtos de informáica disfarçados sob as mais variadas desculpas (*).
Ah, o texto integral do "carimbo mágico" era um lacônico "Por ordem superior deve ser atendido sem embargos" . Com a data, e a assinatura do Gandola.
E por outro lado, o vai-e-vem na Ponte da Amizade começou a aumentar exatamente na mesma época...

---

(*) Entre os muitos e muitos trambiques de natureza alfandegária, acho que o mais famoso é o da importação lá pela década de 50, de um bem descrito como sendo um "motor a gás pobre, sobre rodas": Era um Cadillac "rabo-de-peixe", um automóvel caríssimo e que fazia cerca de 3km com um litro de gasolina.

[4] Comentário enviado por ribafs em 28/04/2010 - 11:01h

Uma beleza de artigo.
Afinal de contas nem só de bits pode viver o homem.
Acredito que este tipo de reflexão amplia nossos horizontes.

Meus sinceros parabéns e ficarei feliz em ler novos textos seus, Edwal.

Gostaria fraternalmente de discordar do colega que comentou:

- A teoria dos jogos, embora não seja perversa, é um tanto cruel. No entanto, as regras são aquelas mesmo, doa a quem doer.

A questão, a meu ver, é que a filosofia embutida ou pelo menos subentendida no open source é de colaboração, fraternidade.
Acho que disso nosso mundo parece que sempre teve carente e ao meu ver o softeare livre vem trazendo isso como proposta e bem pelo menos pingando isso aqui e ali.
Eu fico impressionando como alguém gasta boa parte do seu tempo, produzindo algo de grande valor e de grande qualidade e ainda por cima compartilha da forma mais generosa. Essas pessoas que agem assim são meus amigos, meus familiares, mesmo que eu nunca os tenha visto nem venha a ver. Sou grato a todos e procuro retribuir de forma semelhante.
Felicidades a todos!

[5] Comentário enviado por vinipsmaker em 29/04/2010 - 07:37h

Parabéns pelo artigo, vai pros favoritos.

[6] Comentário enviado por nicolo em 31/05/2010 - 12:38h

Estava consersando outro dia sobre isso. A força motriz do open source foi um equívoco daqueles do zeitgeist (o espírito do tempo).
Quem estudou algo de marketing já entendeu que a força revolucionária da ambição privada está contida e cerceada dentro das leis maquiavélicas..... começam como raposas e terminam como leões. Isso ocorre porque venceram e cresceram. Olhem a IBM, a Novel a Sun system, das que sobraram para contar a estória, outras nem existem mais. Nasceram como raposas espertas, cresceram e ficaram fortes e viraram leões. O interesse pela esperteza ficou no passado.
A transposição do velho Unix para o desktop não foi a idéia original... quer dizer não teria sido se não fosse o tal do downsizing. O downsizing caiu no colo da Microsoft, empurrando o windows NT para os servidores. A concorrência sentiu o tranco e buscou uma saída.
Após gastarem bilhões em desenvolvimentos de sistemas operacionais proprietários, a concorrência achou a saída no open source.

As IBM, NOVEL, Sun etc preferiram repartir o filet mingnon a roer ossos solitariamente.
O Slackware foi o primeiro a ganhar fama nos servidores, depois vieram outras distros.

Em paralelo veio a idéia de ampliar o uso do GNU-Linux com o tal pacote que atendesse 90% das necessidades do importantíssimo usuário.
comum.
A briga saiu do servidor e ganhou as ruas, digo os desktops. É um jogo onde a cada rodada, não apenas as cartas são distribuídas, o baralho muda também e é diferente do anterior. Coisa de maluco mesmo.


[7] Comentário enviado por xerxeslins em 13/06/2011 - 15:10h

Para mim uma aula. Nota 10.


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