Assim como 99,99% das pessoas que conheço, eu também comecei minha vida usando Windows (aliás, quando comecei era o DOS). Sempre ouvi que o
Linux era mais difícil, e quando resolvi experimentá-lo pela primeira vez (com o Kurumin 6) eu até achei o sistema bonito, mas considerei que realmente seria mais difícil. Tempos depois conheci o Ubuntu 8.10, todo empolgado, mas também quase desisti, achei que era mais difícil, até que um dia minha mente se abriu...
Depois de 2 anos usando o Ubuntu em casa, aprendi muita coisa, tive oportunidade de usá-lo no trabalho, começou com um servidor, depois com máquinas desktop... Recentemente, por "ossos do ofício", voltei a usar o Windows Seven... Tudo aquilo que eu achava de mau do Linux, agora que tenho a mente mais aberta, se voltou contra o Windows, por isso, hoje não consigo entender como alguém ainda possa sustentar que o Linux é mais difícil.
Não vou falar de coisas técnicas, não vou considerar o fato de eu ser um usuário avançado, um programador, vou falar de coisas básicas... Tudo pode ser uma questão de costume, eu sei, mas existem fatos incontestáveis... É claro, eu continuo usando Linux na minha "vida pessoal" (e será assim pra sempre), meu laptop roda Ubuntu Lucid e Debian Squeeze no momento... Mas nas horas que uso Windows durante o dia, como eu sinto falta do Linux... E principalmente você, usuário básico, preste atenção nisso, pois meus exemplos são básicos...
O problema é que as pessoas, desde o usuário mais leigo ao CEO de TI mais capacitado, sempre têm ideias muito doidas e insensatas sobre tecnologia, em alguns momentos são mirabolantes, porém suas atitudes são medíocres... Vamos lá...
A partir do Windows Vista o Menu Iniciar melhorou muito com aquela pesquisa, mas fora isso, como é torturante tentar achar qualquer programa. No Linux (meus exemplos são com o ambiente gráfico GNOME, apesar de muita coisa valer também pro KDE), as coisas são mais intuitivas (fáceis). Se quero achar um programa eu vou em "Aplicativos", seleciono uma categoria e o programa desejado na lista, as descrições são claras e completas, basta saber ler.
Veja o que faço no Ubuntu, ou Debian, ou praticamente qualquer outra distro: estou no meu trabalho, no escritório, acabei de estrear um PC novo com Linux, quero redigir um documento, escrever um texto, então, como eu sei ler, dou uma passada de olhos pela tela, vou em "Aplicativos", depois em "Escritório", e lá está um tal de "OpenOffice.org Editor de Texto" (opa, "editor de texto", isso deve significar alguma coisa) e pronto - isso é difícil!?
Agora vamos fazer o mesmo no Windows, clico na bolinha do "Iniciar", aparece um menu com alguns itens, uns menus com o nome de várias empresas, e depois de fuçar muito descubro que ele não vem com editor de texto (isso é outro ponto quer vou falar em seguida), então eu procuro no Google, acho alguns tantos (tem o MS Office, mas ele é muito caro, a empresa já pagou caro pelo Windows, não está muito a fim de gastar mais), até que então encontro e baixo o BrOffice.org (o mesmo OpenOffice.org lá do Linux), depois dele instalado tenho que saber o nome de quem fez, pois não existem categorias pra organizar os programas de acordo com sua aplicação, aí então, depois de entrar nuns 4 submenus, acho meu programa.
Pois é, programas... Dizem que o Windows é melhor porque tem uma infinidade de programas, mas, quantos deles realmente prestam. Nem vou considerar o fato de ser pago ou não, vou considerar a questão de disponibilidade. Quando um usuário "comum" instala um Ubuntu, por exemplo, não precisa de mais nada, se quer enviar e-mail, controlar sua agenda, seus contatos, tem o Evolution; precisa "grudar" lembretes estilo post-it na tela, tem lá o Tomboy ou os próprios post-its do GNOME-Panel; precisa editar textos, apresentações de slides, planilhas, fluxogramas, tem toda a suíte do OpenOffice, navegar na web tem o Firefox (ah tá, o Windows tem o Internet Explorer); precisa gerenciar suas redes sociais, o Twitter, tem o Gwibber; mensageiros instantâneos, MSN, G-Talk, e outros, tem tudo num só com o Empathy; precisa editar vídeos, tem o Pitivi; organizar e editar suas fotos, tem o FSpot; gravar CD e DVD, tem o Brasero; e tem reprodutor de filmes; player de música e vários joguinhos pra passar o tempo.
Do que mais o usuário "comum" precisa? E se faltar algo ainda tem a Central de Programas com os melhores aplicativos organizados por categorias; se faltar codec ou plug-in os players e navegadores te conduzem à instalação automática. E mesmo assim, se faltou alguma biblioteca ou componente de sistema, o maior trabalho será marcá-la para instalação no Synaptic (sem nenhuma linha de comando, que tanto criticam). E tudo é de graça.
Agora vai no Windows, não tem nada, você tem que caçar um a um na Internet, eu que sou um usuário avançado, que já usei Windows antes, fiquei totalmente perdido nessa volta "parcial" ao Windows, como tudo é difícil. Tem sim vários programas pra Windows, mas a qualidade geral é lamentável, enquanto que no Linux você encontra sempre mais de uma opção pra mesma aplicação, todas umas melhores que as outras. O engraçado é que, depois de todo esse trabalho no Windows, os melhores programas que eu achei pra ele (livres e gratuitos) são versões daqueles que eu já tenho no Linux.
E as atualizações... É importante ter um computador atualizado, eu gosto de sempre estar com as coisas mais novas. No Linux, que trabalha com sistema de pacotes e repositórios, eu atualizo todo meu sistema e todos os meus aplicativos num único lugar, com dois ou três cliques, e minha senha por segurança. No Windows são "trocentos" notificadores de atualização, cada empresa tem o seu, se eu quiser garantir que tudo no meu PC esteja atualizado tenho que ir em uns 15 lugares diferentes... Desde quando isso é ser mais fácil? E tem o lance de reiniciar...
Eu já tive situações em que eu acabara de reiniciar o computador, achei que poderia começar a trabalhar depois disso, mal mexi o mouse e apareceu uma mensagem dizendo que eu precisava reiniciar de novo. No Linux só existe um tipo de atualização que requer inicialização, que são as relacionadas ao kernel (núcleo do sistema, coisa de nerd, mas isso eu só faço quando quiser, só pra usar a versão nova, e também preciso reiniciar quando faça upgrade da distro (que também mexe no kernel), mais isso também é lógico, não é nada comparável a "você acabou de mexer com o mouse, reinicie a máquina pra que as alterações tenham efeito e nenhum componente do seu sistema seja gravemente danificado".
Esse lance das atualizações também remete a outro ponto, que muitas vezes reflete pro usuário mais simples, que ele nem pode ligar pra isso, mas no Linux você pode escolher de maneira simples um servidor mais próximo e adequado pra que o processo de atualização e upgrade do sistema e de seus aplicativos seja mais rápido. No Brasil a estrutura de comunicações ainda tem muito a evoluir, e isso é essencial, eu mesmo na minha região precisei escolher outro servidor pra baixar minhas atualizações porque o principal do Brasil era inviável na questão da velocidade - na verdade eu só cliquei na opção que o sistema me dá pra escolher o melhor servidor e pronto. No Windows você simplesmente não tem esta opção.
Eu prometi que só iria falar de coisas simples, mas não tem como não se alongar só um pouquinho em alguns pontos além das fronteiras alcançáveis ao usuário leigo, mas tem tudo a ver com usuário leigo. Me lembro com saudades dos cursos de informática que eu fiz na infância, nos quais eu ouvia que "o operador de computador deveria ser uma pessoa qualificada, isso lhe garantiria um bom desempenho em sua atividade profissional"...
Não sou nada contra a facilitação das coisas, mas o que vemos hoje é uma banalização, pois são nas empresas que a "leiguice" se mostra em seu ápice... Os próprios empreendedores torcem o nariz pro Linux porque acham que ele é difícil, então instalam um sistema que todos saber mexer (ou melhor, pensam que sabem mexer), o discurso usurpador de liberdade do Windows esconde na verdade um processo de libertinagem tecnológica, pois como é tudo fácil, amigável, qualquer um se sente capaz de tudo, principalmente de fazer “cagada” (desculpe o palavreado), daí é gasto com técnico, segurança, preocupação com vírus (eu também falarei disso em seguida)...
Dizem que é mais caro pagar alguém pra mexer com Linux, por isso compensa trabalhar com Windows mesmo assim... A grosso modo, esse é o argumento mais deslavado que já ouvi... Em todas as estações de trabalho que rodam Linux que eu conheço no meu dia a dia, as únicas reclamações que eu ouvi foi de usuários que queriam fazer algo que não era da conta deles e não conseguiram pois o sistema era muito difícil... Ora, eles são pagos pra trabalhar com aquilo que são pagos pra trabalhar, não pra fuçar, e eu garanto hoje que pra empresa Linux é a melhor opção, inclusive em termos de produtividade.
Conheço empresas e instituições públicas que migraram pra Linux e não gastaram 1 Real sequer com treinamento, e não perderam em produtividade, foi só dizer pro usuário o que ele deveria fazer e pronto, não tem segredo... Ah sim, já vi outros problemas, só que eles eram decorrentes da falta de capacitação de quem fez as implementações, mas isso não é porque o Linux é difícil - incompetência pode ser multiplataforma, não tem jeito, se o cara é um mau profissional de TI ele vai conseguir fazer "caca" no Linux, no Windows, no Mac... Pra usuários corporativos em geral o Linux é sim a melhor opção e a mais fácil, principalmente porque ele não dá a chance do usuário leigo mexer onde não deve.
Eu poderia falar dos servidores, eu já implementei servidores Windows e servidores com Linux, e sinceramente prefiro digitar um comando e dar ENTER do que dar uns 15 cliques - usar o mouse e ter uma telinha coloria não é sinônimo de praticidade, e também, se você é profissional de TI e reclama de digitar alguns comandos, acho que é melhor procurar outra profissão porque você está na praia errada. Mas deixa isso pra lá, eu prometi que não iria falar de coisas avançadas.
Voltando ao uso comum, a pessoa pra mexer com Windows tem que ser realmente um expert. É sim, olha só: você liga o Windows e recebe um aviso de que seu computador pode estar em risco, então deve instalar um antivírus, eu instalo e executo, daí se ele acha algo tem a opção de apagar, mandar pra quarentena... É uma parafernália. Além dos inúmeros termos relacionados a área de segurança que a pessoa tem que se preocupar.
Imagine, você está em sua casa, quer pagar um boleto no banco, mas tem que se cuidar pra não roubarem suas informações, tem que ter proteção contra vírus, trojan, spyware, malware, e não-sei-o-que-lá-mais-ware. O cara tem que ser bom pra lidar com isso tudo. No Linux tudo é mais fácil, você só tem que se preocupar com... Com nada disso, pois simplesmente no Linux estes problemas não existem (eu tô falando pro usuário comum, não venha com os termos técnicos dizendo que "dias atrás descobriram um malware pro Linux que blá blá blá...", pois isso é bem relativo, ainda mais se formos analisar as proporções).
Ah, sim, tem a questão de suporte a hardware, mas isso hoje já mudou bastante... Sabemos principalmente que isso depende de interesses comerciais, se seu dispositivo não funciona no Linux não é culpa do Linux, é do fabricante do seu dispositivo que não escreveu driver pra ele. E isso é cada vez mais raro. Não fale do passado, estou falando do presente. Tudo bem que no Debian, por exemplo, algumas coisas são menos fáceis de fazer que no Ubuntu, mas é por isso que existem várias distros de Linux, cada uma pra um propósito.
Falando dos sistemas voltados mais pro "usuário final", o suporte a hardware no Ubuntu é muito mais otimizado que no Windows Seven (eu sou prova disso), no Ubuntu as coisas são muito mais plug'n play. Esses dias eu ganhei um celular nova da minha esposa, tiramos algumas fotos, e pra passá-las pro computador foi só conectar pelo cabo USB e já apareceu a pastinha do cartão de memória na minha área de trabalho; fui fazer o mesmo no Windows Seven e me apareceu um assistente de instalação (e a história é longa)...
De todos os dispositivos, impressoras, placas e afins que instalei no meu Ubuntu no máximo que precisei foi dar dois ou três cliques e pronto. Agora no Windows, tiro por mim e principalmente por meus colegas técnicos, eles vivem procurando drivers em sites, vivem atrás de programas pra descobrir o modelo da placa, etc, etc, etc... Quanto trabalho pra um sistema que alega ser o mais amigável possível pro usuário final... Ah, tá, seu dispositivo "ching-ling" não tem suporte no Linux? Todo castigo pra pirateiro é pouco!!!
E, apesar do termo relacionado ter aparecido acima, eu não vou comentar sobre a pirataria de software, crack e afins - primeiro porque isso é crime... Mas cabe aqui dizer que se você não tem condições de comprar um software original e se vale destes recursos ilícitos, se arrependa e venha pro Linux. Essa prática, além de ser errada, dá muito trabalho, vejo muita gente desperdiçando sua inteligência pro mal, procurando formas de burlar licenças e usar indevidamente de graça aquilo que não é seu... Pare com isso, venha pro Linux, aqui você não tem estes problemas e pode aproveitar seu tempo e inteligência pra coisas melhores...
Enfim, hoje posso afirmar que a principal dificuldade das pessoas não é com a tecnologia, as coisas estão cada vez mais convergentes e realmente fáceis, e o Linux tem acompanhado esta tendência, em posição de vanguarda inclusive em muitos aspectos. O problema é que somos pessoas preguiçosas e desinteressadas. Escolhemos as coisas não porque realmente elas são melhores, mas porque somos alienados. Como não lemos, não apendemos.
Às vezes alguma pessoa tem uma dúvida, principalmente aquelas que usam Linux e não gostam, e eu respondo com educação (tá bom, às vezes eu respondo nervoso), mas respondo: "Você sabe ler? O que está escrito na tela?". Pronto, o problema se resolve... Mas isso não é de hoje, vem de antes mesmo de existirem computadores e a guerra Windows x Linux. Faz tempo que a humanidade desdenha do conhecimento e engole as coisas ruins achando que são boas.
Não estou afirmando que o Windows é ruim, minha intenção não é denigrir a imagem de um sistema em detrimento do outro. O problema é que as pessoas geralmente não sabem ponderar suas escolhas, não sabem decidir o que é bom ou ruim, apenas julgam que aquilo que exige delas a mínima atenção é ruim, e que que bom é aquilo em que elas não precisam fazer nada, não precisam ter responsabilidade nenhuma. Permitam-me parafrasear Jesus Cristo em Mateus 22: "vocês erram por falta de interesse em adquirir conhecimento".