lcavalheiro
(usa Slackware)
Enviado em 31/12/2012 - 13:59h
Wolnerix escreveu:
Tá aí um exemplo exato do que o #Keytoy disse logo acima: ingnorância total de minha parte sobre a legislação brasileira.
Concerteza deve acontecer o mesmo com diversos usuários, pelo menos os quais se preocupam com os termos e privacidade das empresas.
#lcavalheiro, teria algo mais a adicionar a este tópico? Gostaria de saber um pouco mais sobre a sua opinião referente ao Sr. Stallman. Parece que temos uma mesma opinião e preocupação referente à esse assunto.
Obrigado por toda a sua contribuição!
Se os senhores insistem...
Houve uma época, há uns dois anos, em que eu troquei alguns e-mails sobre o Slackware com o rms (como o sr. Stallman prefere ser chamado). No meio do assunto pude depreender muita coisa sobre a posição do Maddog e dele sobre essa questão dos direitos e da liberdade dos usuários. É com prazer que eu compartilho o pouco que eu apreendi dessa conversa e, se possível, apresentar os motivos pelos quais eu o admiro profundamente.
Muitas pessoas consideram a posição desses dois senhores como utopismo, histrionice ou fanatismo gratuito. Palavras de ordem como "a informação deseja ser livre", "liberdade total de uso" ou "DRM é pacto com o Diabo", parece coisa saída dos anos 80 e aquele hackerativismo legítimo (não essa baboseira de Anonymous) perdido nas brumas dos tempos de ouro da Tecnologia da Informação.
Esse discurso parece anacrônico e desnecessário nos dias de hoje para a maioria das pessoas, mas esse é o maior engano que qualquer pessoa poderia cometer. Minha geração (eu tenho 26 anos hoje) não teve nenhuma experiência real sobre o assunto "restrição de liberdades", mas a leitura de livros como
Admirável Mundo Novo,
Nós ou
1984 pode corrigir essa deficiência.
Desses,
Admirável Mundo Novo descreve melhor o mundo em que já vivemos. Cada vez mais a individualidade, a privacidade e a liberdade são abominadas. As pessoas querem ser iguais, vestirem-se iguais, pensarem iguais - em resumo, seguir a moda. As pessoas postam nas redes sociais até a cor das fezes que acabaram de sair - privacidade zero. Na realidade, a expressão "todos pertencem a todos" tem outro significado, mais sombrio e mais perturbador.
A questão da liberdade merece uma análise melhor. É trabalhoso manter a própria liberdade. Precisa-se de um influxo constante de informações certas e a prática constante da reflexão objetiva. É preciso conhecer o mundo ao seu redor para saber como se posicionar e como posicionar sua liberdade nele. Isso é mais trabalho do que as pessoas querem ter, e o resultado é a alienação autoimposta. É claro, em nossa sociedade brasileira existem os casos em que as pessoas simplesmente não são educadas para serem capazes de criar, manter e administrar sua liberdade, o que chamamos de alienação exoimposta - imposta por elementos exteriores. Alienação, em ciências sociais, significa justamente a privação das condições para se manter a liberdade.
Mas o que isso tudo tem a ver com o rms? Eu acredito que tudo. Ele percebeu para o que nossa sociedade caminha e ativamente se opõe a isso, pelo menos no âmbito da tecnologia da informação. Liberdade e privacidade em nossa sociedade são abominadas, e ele percebe o quão prejudicial isso pode ser para nós. Empresas querem ditar o que devemos consumir, como devemos e quando devemos. O que devemos pensar, querer ou sonhar. Quando e como se divertir. O que devemos ser, em resumo. Moda, no sentido nefasto da palavra, é isso: um esforço consciente para ditar as tendências do mercado - ou o que será imposto aos nossos gostos, depende de como você leia.
Vamos a um exemplo prático no mundo do Software Livre: o spyware da Amazon no MS Ubuntu. Eu mesmo instalei o MS Quantal Quetzal e em nenhum momento o instalador me perguntou se eu queria enviar dados para a Amazon - acho que não pergunta pra ninguém. Eu só soube da existência disso após o pronunciamento de rms. Há como desligar isso? Sim, mas eu pergunto, "como desligar algo que eu não sei que existe?" Essa atitude da MS Canonical demonstra claramente uma tendência de nossa sociedade: a liberdade de escolha deve ser eliminada, o cidadão deve ser monitorado, a privacidade deve ser ignorada.
Maddog, rms e outras pessoas (entre as quais se encaixam qualquer um, como eu, que reconhece e se manifesta com relação ao assunto) representam a voz que clama no deserto. Eles nos lembram os perigos da nossa sociedade, o que querem fazer conosco, e eles nos dizem que não precisa ser assim. A questão aqui, é o cerne e o apanágio da existência humana: a liberdade, esse bem tão valioso que está sendo constantemente achincalhado em nossos dias.