Software livre e a liberdade de contribuir

Nota: O que define a natureza livre de um software é sua licença. Esta licença deve explicitar 4 liberdades numeradas de 0 a 3. Nesta série de artigos avaliaremos cada uma destas liberdades, seu significado, importância, e sempre que possível traçaremos um paralelo com licenças não livres como forma de demonstrar as virtudes daquelas sobre estas.

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Por: Emmanuel Ferro em 22/02/2011


A liberdade de contribuir



Definição:

A quarta liberdade ou liberdade #3 permite ao usuário contribuir com o autor do software, criando assim uma comunidade.

Importância:

As três primeiras liberdades são concessões do autor original do software para os usuários. A liberdade de colaborar inverte esta relação e permite ao usuário colaborar com o autor original, é esta liberdade que cria o verdadeiro conceito de comunidade de software livre: um grupo de pessoas/empresas que unem esforços para desenvolver um software conjuntamente.

Esta abordagem de desenvolvimento colaborativo foi a primeira forma de desenvolver software. Nos primórdios da indústria de software todos compartilhavam suas soluções, o que permitiu uma rápida evolução dos algoritmos e da qualidade dos softwares desenvolvidos. Mais tarde alguém viu que foco do mercado de tecnologia passaria do hardware para o software e que vender software seria um bom negócio.

O desenvolvimento de software em comunidade apresenta algumas peculiaridades únicas e praticamente impossível de ser reproduzida pelo desenvolvimento unilateral:

1. Os rumos do desenvolvimento atende às necessidades da comunidade e não aos interesses de mercado, isso favorece por exemplo, a tradução do software para idiomas pouco falados ou de países muito pobres como por exemplo Zulu ou Esperanto. Este é um aspecto muito positivo do software livre, pois favorece a preservação e valorização de culturas ameaçadas pela globalização.

2. A correção de erros segue o ritmo da sua descoberta e independe da programação financeira do autor.

3. O software é uma solução de diferentes visões e culturas com origem nos mais diversos lugares do mundo.

4. O software tende a evoluir rapidamente dependendo da força de sua comunidade.

Conclusão:

As pessoas e as empresas têm problemas em comum, por que resolvê-los sozinho? As comunidades de software produzem tecnologia mais rapidamente e dividem os custos, otimizando recursos e universalizando soluções. Correção de erros e melhorias são rapidamente incorporados. O resultado da produção de software em comunidade contem diferentes visões de um mesmo problema e reúne experiencias culturais diversas.

Muitas pessoas de talento desejam contribuir pela simples satisfação de fazer parte de algo ou de contribuir com o seu próximo, e podem fazê-lo sem a necessidade de vínculo empregatício. Muitas pessoas em todo o mundo contribuem em comunidades de software livre, mesmo pessoas que não são programadores, mas possuem outros talentos igualmente importantes para uma comunidade.

Estas pessoas traduzem o software e seus manuais para seu idioma, escrevem tutorias para ajudar os usuários, desenham ícones, definem modificações de interface com base na usabilidade e com fundamentos na psicologia, enfim, há sempre muito trabalho para fazer um bom produto de software. Seja você também um voluntário: doe sangue, limpe sua cidade, proteja os animais e colabore com uma comunidade de software livre.

   

Páginas do artigo
   1. A liberdade de contribuir
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Comentários
[1] Comentário enviado por nicolo em 23/02/2011 - 09:34h

O autor do software não faz concessão nenhuma para o usuário. Essa idéia de autor de software filantropo é tão absurda quanto acreditar em boas intenções.
Ele abre o software por interesse próprio.
No caso de participação há uma explicações mais científicas e mais tradicionais.
Leiam isso.
http://www.vivaolinux.com.br/artigo/Filosofia-do-Open-Source-um-novo-jogo/

Em outros casos, o autor abre o uso do software, no mínimo:
(i)-Para fazer marketing: Se o produto não é conhecido ninguém vai pagar um tostão por ele.
(ii) Para testar o mercado e ver se alguém pagaria por aquela giostra.
(iii) -Porque é vaidoso e gosta de IBOPE. Todo artista precisa de aplausos (os palhaços também).
(iv) Porque tornando-se conhecido e importante melhora o seu currículo para emprego, afinal há zilhões de toneladas de programadores, mas poucos são criativos.

Enfim: A única concessão é "boa intenção" de obter vantagem pessoal, isso é muito mais sadio que fazer caridade intelectual ou pecuniária. Pessoalmente eu prefiro que seja por interesse, pois não tenho intenção de viver de doação e muito menos de caridade. Se o cara acha que está me fazenco um favor eu vou mandar ele pra %$#.

E vou correndo para a loja do Tio Bill, ou mehor do Mac... se o dinheiro der.

Ressalva: No artigo acima indicado, eu já havia mencionado que a idéia de patente ou de exclusividade da propriedade intelectual
está longe de ser universal, mesmo nos Estados Unidos. A idéia de patente e do "direito" de propriedade intelectual tem justificativas teológicas no direito individual, e no enorme interesse de cartéis que usaram a divindade para obter monopólio.

[2] Comentário enviado por brian_ch em 23/02/2011 - 22:13h

Nicolo, o que você disse vale para o openSource, mas no software livre, o objetivo da liberação do código, e das liberdades é mesmo não permitir que um conhecimento que poderia(e deveria) ser compartilhado entre toda a humanidade, fique em poder de um pequeno grupo de empresários. Isso é feito sem segundas intenções.

E pra mim o Linux e o software livre só tem sentido por causa disso e por causa das pessoas e comunidades que acreditam nisso e se dispõe a ajudar os outros sem receber nada em troca , se o objetivo principal se voltasse para o interesse próprio, não teria sentido contribuir com nada e nem mesmo usar esses softwares.

E uma opinião sobre a série de artigos: Acho que cada um ficou muito curto, até por quesitos de clareza e de não ter que ficar procurando onde está cada um, seria muito melhor se você tivesse feito apenas um com várias paginas.

[3] Comentário enviado por nicolo em 24/02/2011 - 11:57h

brian ch
Nós fomos criados e doutrinados a acreditar na possibilidade de fazer algo pelos outros sem obter nada em troca.
Essa crença é uma idéia purista. A teoria dos jogos, mais voltada para explicar o que acontece na prática diria algo mais simples:
O fato de você não ser pago imediatamente pela sua contribuição ou esforço não quer dizer que "não esteja recebendo nada em troca"
No mínimo a contribuição de cada um (remunerado de imediato ou não) aumenta a riqueza do grupo em prol de todos e de cada um, significa dele mesmo.
Numa sociedade onde cada um espera uma remuneração imediata (e até antecipada) pelo esforço, todos necessariamente serão muito pobres.

A questão de contribuir é muito pessoal e a remuneração se mede em satisfação, mesmo que essa remuneração seja dinheiro:
Quero dizer: Não importa o quanto o contribuinte está dando ou recebendo, o que importa é se ele se sente justamente compensado ou satisfeito.

O caldo do jogo entorna em locais onde os recursos são muito escassos. Por exemplo: No deserto, os poucos recursos são disputados,
pois eles fazem diferença entre a vida ou a morte.

Mas se o gajo vive nos Estados Unidos, um país rico, contribuir é uma obrigação social, se o indíviduo não contribui, ele fica solitário e não
é aceito pelo grupo. Não ser aceito pela sociedade é extremamente doloroso para um norte-americano. Então abrir o código é uma maneira
de ser aceito pela sociedade e ao mesmo tempo obter status.

O problema do código fechado é puramente comercial. O comerciante não pensa em cooperação, ele pensa em competição. Há um concorrente
querendo o cliente dele, e isso é uma disputa de vida ou morte da empresa. É errado botar azeitona na empada do concorrente.
O comerciante não necessariamente atrasa o desenvolvimento uma vez que ele investe milhões no desenvolvimento do código.
POr exemplo, os sistemas multimedia foram largamente desenvolvidos pela Microsoft e pela Apple, em regime de código fechado.
A questão é menos de liberdade e mais de satisfação: O que é moralmente razoável de ser cobrado?
Não seria nada razoável doar um sistema especilista a um banco, pois ele está lucrando com o esforço alheio- Que sanguessuga!. Esse sistema
deveria ser "moralmente" de código fechado e pago.
Cobrar por um processador de texto e planilha eletrônica é "imoral", isso é uma coisa comum que todos precisam, logo deveria ser de código aberto
para não atrasar o progresso, geral. Dá para perceber a diferença????????

PS: Eu continuo achando que é sadio e maravilhoson obter algo em troca, ainda que não seja necessariamente dinheiro.

[4] Comentário enviado por cruzeirense em 24/02/2011 - 12:50h

Gostei do seu ponto de vista nicolo.

A questão é que não se paga sempre em dinheiro, algumas vezes apenas alguns elogios já pagam (mas sempre se paga! Acho que é assim que empata o tal jogo que você falou).
A questão do software do banco citado acima também foi interessante, mas vou um pouco além. Você citou o caso do processador de texto que seria imoral uma cobrança porque é uma ferramenta de uso geral, mas acho que todos tem que contribuir para o bem do grupo, e o usuário pode contribuir pagando para quem desenvolve. A questão do fonte ser aberto não é assim tão relevante, visto que uma pequena minoria sabe o que fazer com ele.

Abraços,

Renato

[5] Comentário enviado por brian_ch em 24/02/2011 - 21:46h

Sim nicolo, só achei que você exagerou um pouco no seu 1° comentário, achei que você deu a entender que o objetivo era apenas o interesse próprio.

"No mínimo a contribuição de cada um (remunerado de imediato ou não) aumenta a riqueza do grupo em prol de todos e de cada um, significa dele mesmo."

É mais ou menos isso que eu quis dizer, o bem que ele está fazendo não é só pra ele, é pra todos.
O que eu acho que não pode haver é a pessoa querer apenas o bem de si próprio, é claro que contribuindo ela pode ganhar fama e receber elogios, todo mundo gosta disso, mas o objetivo de contribuir não é esse e sim o de ajudar a comunidade de usuários desse software, pra mim é muito exagero considerar que isso é 'receber algo em troca'.

"O comerciante não necessariamente atrasa o desenvolvimento uma vez que ele investe milhões no desenvolvimento do código."

Sim, mas só ele se beneficia desse 'avanço', afinal mesmo que o preço não seja exorbitante, haverá muitos que não poderão pagar por ele, além de que, isso nos deixa nas mãos desses comerciantes e ficamos reféns do que ele vai nos cobrar, ou do suporte que ele vai nos oferecer.

O mesmo ocorre de forma ainda mais grave com os remédios, que hoje são uma indústria bilionária, mas é certo patentear e cobrar sobre algo que poderia salvar a vida de inúmeras pessoas? Com certeza isso não é moralmente correto. ( e infelizmente os médicos não tem um 'movimento remédio-livre' o que alias seria muito mais difícil já que são necessários laboratórios sofisticados pra isso.)

Abraço.


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