Um níquel de volta

Como um um sonho sai de temperaturas abaixo de zero e trinta centímetros de neve para tornar-se um sucesso em todo o mundo? Será que podemos fazer o mesmo em temperaturas mais amenas com o software livre brasileiro?

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Por: Paulino Michelazzo em 04/03/2008 | Blog: http://www.michelazzo.com.br


E no Brasil...



No apagar das luzes do mês de fevereiro a imprensa nacional ventilou um projeto de lei apresentado em novembro do ano passado pelos deputados Paulo Teixeira (PT-SP) e Jorge Bittar (PT-RJ) para uso de 20% do Fundo Setorial para Tecnologia da Informação (CTInfo) com o intuito de financiar projetos de software livre nacionais.

O projeto está em tramitação anexado a outro projeto (3.684/04) de autoria do deputado Carlos Eduardo Cadoca (PSC-PE), o qual trata de redução de juros para empréstimos financeiros à empresas que desenvolvem software livre e que juntos poderiam sem dúvida nenhuma fomentar uma nova indústria em nosso país, além de criar um expertise para atender quaisquer demandas nacionais e internacionais e elevar o nome de nosso Brasil para um patamar bem diferente daquele que nos encontramos hoje quando falamos em desenvolvimento de softwares.

Como nem tudo são flores, ambos os projetos possuem resistência tanto dentro da própria câmara quanto por nós mesmos brasileiros. O primeiro projeto passou por dois relatores diferentes (Dep. José Mendonça Bezerra (DEM-PE) e Dep. Dr. Nechar (PV-SP)) que votaram de formas diferentes. O primeiro vota pela aprovação com algumas emendas de cunho operacional (prazo de regulamentação e melhor definição do que é Software Livre). Já o segundo rejeita o projeto, principalmente (mas não somente) pelos seguintes pontos:
  • Falta de incentivo econômico ao desenvolvimento de software de alta qualidade, tendo em vista que as empresas que atuam nesse mercado podem cobrar apenas pela manutenção dos sistemas;
  • Custos de implantação de soluções baseadas em software livre superiores aos verificados nas soluções tradicionais, em decorrência da ausência de padronização;
  • Dificuldade de comprovar que determinadas empresas trabalham exclusivamente com desenvolvimento de sistemas baseados em software livre.

Estarrece-me o voto do relator que de duas uma, ou não possui assessoria técnica sobre o assunto ou a assessoria que possui é nativa do ambiente do software proprietário que não deseja ver o dinheiro público sendo investido, não em software livre, mas na criação de conhecimento e no fomento da indústria nacional. Esta sensação advém principalmente da leitura dos seguintes parágrafos do voto do relator:

O fato é que setor de tecnologia da informação é extremamente importante na economia brasileira. Responde, segundo a FIPE, Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP, pela criação de mais de trezentos mil empregos diretos. Está submetido a uma carga tributária de quase quarenta e cinco porcento, e tem reflexo transversal em toda a competitividade da economia brasileira, tendo em vista que seus produtos inserem-se em todas as demais cadeias produtivas.


Esse contexto nos leva a concluir que tais modificações em sua estrutura não são producentes, pois podem afetar negativamente uma indústria responsável por milhões de empregos diretos e indiretos, por significativa parcela de arrecadação tributária e que contribui, de forma significativa, para a competitividade da economia brasileira.


Não acredito que exista, por mais cruel que seja, brasileiro desejoso de "milhões de empregos diretos e indiretos" jogados no lixo. Ao contrário, queremos sempre ver nossos filhos e netos capazes de estudar e obter um emprego que propicie aquilo que denominamos cidadania. O projeto do deputado Cadoca (e consequentemente o software livre) não é ferramenta que visa ampliar ainda mais a taxa de desemprego atualmente vivida na área de tecnologia (e em todas as outras) de nosso país.

Ao contrário disso, deseja fomentar o conhecimento, a criação de novas nano, micro e pequenas empresas capazes de competir em qualidade e capacidade de desenvolvimento com parques hoje dominados pelos países do leste europeu e Índia e também gerar mais empregos e mais divisas para todos nós. Mas como fazer tudo isso sem auxílio e com as taxas absurdas de juros praticadas tanto pelas instituições oficiais quanto as particulares? Como permitir que o pequeno se torne grande sem apoio?

O paralelo pode ser traçado facilmente com o programa canadense de desenvolvimento cultural, onde está inserido o programa de desenvolvimento musical. Qual será a relação entre o investimento governamental e o retorno em empregos, visibilidade e impostos gerados por mais de 120 milhões de discos? Qual é o retorno propiciado por artistas mundialmente famosos para seu país de origem? Não falo somente daquilo que é direto, mas também daquilo que é indireto e que poderia passar sem ser visto como a locação e contratação de estúdios, artistas, gráficas e fábricas nacionais devido a qualidade apresentada pelos artistas oriundos daquele país. Lá o investimento no pequeno, no nano, não é considerado perda de empregos ou de receita, ao contrário, é considerado patrimônio do país e política pública.

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Páginas do artigo
   1. Um pouco de música (e de como ela cresce)
   2. E no Brasil...
   3. O segundo ponto: nós
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Comentários
[1] Comentário enviado por eduardo em 04/03/2008 - 10:39h

Congratulations!!!!


Muito bom o artigo. Confesso que a 1ª parte do artigo me prendeu a ele e não consegui parar de ler até ler tudo. Que nem diria o cara do Jornal da Globo, à noite, ao qual não me recordo o nome no momento, "o Brasil é um país de tolos". O Brasil só vai crescer se as pessoas começarem a pensar no que seria melhor para todos, e não o que seria melhor para si mesmas. E aí ficamos assim, do jeito que estamos.

Parabéns pelo artigo. Juntou muita coisa interessante que vale a pena ser questionada e pensada bastante.

Abraços.

[2] Comentário enviado por pmichelazzo em 04/03/2008 - 10:47h

Olá Thed,

Obrigado pelas amáveis palavras. Infelizmente por um lapso de minha memória (ou excesso de humildade, não sei) os outros artigos da série estão na Dicas-L e podem ser acessados em http://www.dicas-l.com.br/linha_de_data/

Saudações

[3] Comentário enviado por nicolo em 04/03/2008 - 11:22h

Brilhante? Quase. No país rico predomina uma mentalidade econômica de: faço eu mesmo. Govêrno? Quanto mais longe melhor, pois já muito ajuda quando não atrapalha. Em Tupinicópolis.... tudo é regulado regulamentado. Qualquer coisa que se queira fazer depende de autorizações, permissões, concessões, taxas, emolumentos, certidões ....e uma cordilheira de papel. Se o governo se metesse em opensource, o Linux dependeria de dez mil autorizações, e só seriam legais os Linux homologados pelo Ministério do Opensource, e só seriam homologados os Linux dos amigos do REY- Isso é assim desde Dom Manuel o Venturoso-ano 1500.
Os outros Linux seriam considerados piratas, e com pena criminal. Linus Torvald não estava no Programa de Inclusão de Informática do governo da Finlândia, mas o garoto tinha liberdade para fazer uma farra intelectual dentro da Universidade, sem que ninguém fosse lhe encher o saco. Tente fazer isso numa intituição brasileira (Pública ou privada, dá na mesma, a mentalidade burocrática é igual.). A grande ajuda do governo Finlandês é assim: A porta está aberta ENTRE E FAÇA. Até onde eu vi os governos escandinavos (Leia-se a Elite Dominante) se irrita porque pouca gente aparece. Lá não é problema fazer, é problema não fazer.

[4] Comentário enviado por izavos em 06/03/2008 - 21:35h

Esse e o Brasil que algumas pessoas que não tem a mínima capacidade estratégica de defesa dos interesses nacionais querem que exista.
Devo acreditar na inocencia da ignorância ou em interesse que não é a defesa do Brasil?
Voce colocaria a sua segurança, seu conhecimento, sua vida nas mãos de outra pessoa?
O Brasil já negligencio por demais o proprio desenvolvimento, já compramos equipamentos dos “EUA”, “China” e vamos acabar comprado dos “Indianos”.
E pelo andar da carruagem vamos comprar ate da africa antes que alguem com bom censo nesta Brasil de o devido apoio para o próprio desenvolvimento.

Bom trabalho !


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