Talvez este artigo pareça uma crônica. Não é um texto técnico nem se aprofunda em investigações, mas baseado em experiências do cotidiano, em algum ponto, comparando com as próprias experiências do leitor, podemos concluir que a insustentabilidade do software proprietário vem aumentando, e quem vai sofrer mais não são as grandes empresas.
Expectativas exacerbadas de lucro conflitando com investimentos insuficientes ou errados
Isso é comum em qualquer novidade que aparece no comércio, ou melhor, toda vez que surge uma "moda". Logo a novidade se torna a "a galinha dos ovos de ouro" pra qualquer empreendedor que sonha em ficar rico com um novo e revolucionário produto, ou serviço.
E, apesar de este já não ser mais, necessariamente, o caso da indústria de software (lembrando mais uma vez que falamos de empresas de micro, pequeno e médio porte, onde a principal aplicação em TI se refere à automação comercial e gestão empresarial), ainda muitos pensam que este é um dos meios mais fáceis de se ganhar muito dinheiro "mexendo" com informática.
Na década de 80, por exemplo, pregava-se nas faculdades da área a ideia de "programador-dono-do-sistema", que ele ficaria muito rico; resumindo, era como se fosse dito que as empresas seriam reféns dele, os desenvolvedores de sistema seriam "os caras", ninguém sobreviveria sem eles.
É claro de depois da fama do jovem Bill Gates, que lançava a primeira versão praticamente inexpressiva do Windows na época, essa ideia se fortaleceu ainda mais, mas logo o mito caiu, simplesmente porque o sucesso de um pioneiro não garante que os seus imitadores terão o mesmo sucesso.
Não estou aqui colocando o Bill Gates como exemplo de "mestre" (isso seria pedir pra ser linchado nas comunidades linuxistas, mas lembre-se que estou falando da insustentabilidade do software proprietário, comercial, capitalista, e não existe exemplo mais notável de figura que identifica essa modalidade), só que as pessoas geralmente não levam em consideração que pra chegar aonde ele, sua empresa e seu sistema chegaram, um longo caminho foi percorrido, e não existem atalhos.
E isso é tendência do ser humano, não é de hoje, todos querem inclusive chegar no céu, mas deixe-me lembrar que "o caminho é estreito" (Mateus 7, Lucas 14 etc...).
No Brasil, estudos apontam que cerca da metade das novas empresas abertas fecham suas portas depois de 3 anos de atividade, e esta proporção muitas vezes pode chegar a 70% decorridos 5 anos. E a principal causa deste fracasso, mesmo que discordem, não é a alta carga tributária, não é o governo, não é a concorrência etc. O problema principal é falta de planejamento, quer seja por não ter feito o investimento da maneira correta, ou simplesmente por investir em algo que não é "a sua praia" (isso vou relatar no tópico seguinte em detalhes), dentre outros fatores. Mas no ramo de software este risco pode ser potencializado pois ainda existe a ideia de que "vou fazer um sistema, sair instalando e ganhar muito dinheiro", e o desenvolvedor acaba caindo no erro básico de se comprometer com uma demanda muito superior à sua capacidade de oferta, o ganho em quantidade acaba virando prejuízo por não conseguir atender todo mundo, porque ele acha que isso não vai dar trabalho, é só fazer... Mas dá trabalho, e muito.
Outro ponto nessa questão são os novos custos que surgem a cada dia. Cada novo recurso ou requisito em um sistema tem custos altos para sua implementação. Por exemplo, uma empresa de software de automação comercial do interior do Brasil, de maneira geral, gasta quase R$ 5.000,00 só com a viagem de um programador para ir a São Paulo homologar seu sistema para o TEF (sistema de pagamentos via cartão de crédito), isso se tudo der certo, pois caso tenha algum imprevisto e "reprove" vai ter que fazer praticamente tudo de novo - e isto é um custo que se destaca, fora os custos do cotidiano.
Você faz ideia do quanto custa pra uma empresa de software oferecer hoje recursos e atender requisitos como NF-e, PAF-ECF, SPED. TEF... Muitos desenvolvedores não têm noção disso, e quando percebem já quebraram.
Antigamente, um sistema poderia se limitar a cadastros, lançamentos e relatórios, e ainda assim era algo extraordinário, vendia muito, e relativamente não dava tanto trabalho. Hoje, por mais simples que seja, um sistema de automação comercial, novamente, simplesmente não serve pra muita coisa se não atender a requisitos como estes que eu citei.
Sistemas de informática hoje não é algo supérfluo, é item de primeira necessidade, e geralmente os itens de primeira necessidade têm custos muito altos pra serem produzidos, mas muitos empreendedores do ramo, e até mesmo seus clientes, ainda parecem desconhecer isso.
Você sabe quanto custa por exemplo pro agricultor produzir o feijão, o arroz, as verduras, legumes e frutas que chegam à sua mesa? Sabe os riscos que eles correm de terem grandes prejuízos e perderem sua produção, consequentemente perderem dinheiro, com excesso de chuvas, ou com a seca, geada, pragas? Permitam-me a analogia, o brasileiro não pode viver ser o feijão-com-arroz, do mesmo modo que uma empresa hoje não pode viver sem ferramentas informatizadas para sua gestão.
Agora compare o que é investido com o retorno que se espera. Existem casos em que o custo pra produzir e manter um software de automação comercial, por exemplo, pode chegar a mais de 80% do faturamento da software-house, e o motivo principal disso é falta de planejamento financeiro e gerencial, pois sempre que uma coisa não vai bem numa empresa o reflexo sempre acaba no financeiro.
Já que o objetivo do software proprietário é ter lucro, algo deve estar errado, e começa neste conflito entre esperar lucro demais com pouco investimento (não só investimento financeiro), e isso não existe.
[1] Comentário enviado por cruzeirense em 25/09/2010 - 18:13h
" O problema aumenta mais ainda quando os pequenos tem "mania de grandeza". "
Isso ficou um tanto quanto contraditorio...
Seu artigo defende o software livre em detrimento do proprietario. No atual cenario o software livre seria o "pequeno" e o proprietario seria o "grande".
O que você frisou em diversos pontos do artigo foi o que voce disse no seu artigo anterior, a culpa é sempre dos usuários imbecis que não se interessam em aprender a utilizar o computador corretamente, mas lembre-se, isso não vai mudar...
Sabe qual é a fórmula do sucesso? Pergunta ao Bio Gades... ele vende (caro) um sistema muito pior(isso foi vc que disse) e obtem muito sucesso...
Acho que temos que rever muitos conceitos e não seguirmos apenas paixões..
[2] Comentário enviado por Teixeira em 25/09/2010 - 23:08h
O artigo ficou mais parecido com "prolegômenos" que com "crônica"... rsrs
E concordo com o cruzeirense quando afirma que o texto ficou um pouco contraditório.
De qualquer forma, isso teria de ser dito.
Enfim tudo pode ser resumido em uma frase:
O pior cego é aquele que não quer ver...
[3] Comentário enviado por diegowalisson em 26/09/2010 - 00:47h
Concordo 200% com o cruzeirense.
O que está realmente insustentável é esta guerra diária entre software livre e proprietário. Isso não contribui nem um pouco com a T.I. A questão da incompetência vale para todos. Seja proprietário ou livre, o que interessa no final das contas é que o seu trabalho e o software atenda os requisitos de maneira satisfatória. Se puder e quiser pagar por ele, pague. Por que não? Windows é um problema ou TEM problemas? E Linux, Mac, não tem? Todos têm. Ah, tem a questão ideológica e tal, de compartilhar o conhecimento... Isso é UM dos aspectos do nosso ramo. Não deverá nunca ser o único a ser considerado, seja qual for a circunstância, assim como a falsa idéia de que software livre tem de forma geral menor custo que o proprietário. Em certos contextos não tem. Vocês sabem que não tem. Às vezes perdemos mais tempo tentando convencer os outros que opensource é lindo do que resolvendo os problemas que nos são postos.
Meu lado usuário gosta de Windows. Gosto de "descansar" nele. Requer de mim muito menos esforço no geral. No trabalho, administro servidores Linux e Windows. Simples assim, sem culpa nem dor de consciência no final do dia. Não é isso que buscamos, afinal?
[4] Comentário enviado por removido em 26/09/2010 - 12:31h
Pois é!
O legal é que o pessoal tem acompanhado meu trabalho contraditório... Mas não confundamos uma coisa com outra... Este artigo não foi pra dizer qual é o melhor... Sei que sou radical em alguns pontos, e isso é até bom, ou ruim, mas o fato é que a radicalidade de alguns mexe com a mediocridade de outros... Não estou dizendo que as opiniões aqui expressas são medíocres, mas me motivo a querer mostrar os dois lados... E o foco aqui são é SL X SP, mas sim modelo de desenvolvimento... Alguém tem que dar a cara a tapa pra que as coisas sejam vistas sob um novo prisma, para que conceitos sejam revistos, inclusive os meus...
[5] Comentário enviado por guilessons em 26/09/2010 - 14:59h
Compreendo perfeitamente a sua visão e acredito que você apenas foi um pouco mais sincero, percebi uma certa emoção em suas palavras :)
Sobre o texto ser um pouco contraditório... hmm não sei, difícil é encontrar um que não seja...
Tente não ser tão "cruel" com os usuários leigos ao se referir a eles rsrs
Aproveitando este comentário, você ou outra pessoa aqui membro da comunidade poderia fazer um artigo falando das empesas (no Brasil se possível) que usam e CONTRIBUEM com o Software Livre.
Ahh! se possível também quais projetos o governo tem para apoiar financeiramente desenvolvedores de SL.
[6] Comentário enviado por fred_marques em 27/09/2010 - 12:49h
A questão principal é que a própria indústria de software brasileira está inviabilizada, pois atualmente ela só existe para atender a demanda dos clientes que por sua vez estão reféns da burocracia estatal. Dizer que PAF-ECF foi um avanço é uma grande mentira, pois cada SEFAZ baixa suas próprias portarias, e o que ocorre na verdade é que estamos em um sistema tributário caótico, e isso reflete na área de TI. O modelo de negócio em software que existe nos EUA ou na Europa é completamente diferente do Brasil e abrangem as mais diversas áreas, tais como : industrial, comércial, entreterimento, comunicação, científica etc. Me aponte uma única grande softhouse brasileira que não seja da área de ERP? E as outras áreas como ficam? Existe incentivos? Existe demanda? Existe interesse? Estou na área desda década de 80, e ao menos naquela época existiam softhouses tentando atuar em outros setores. Lembram do Carta Certa? Portanto essa guerra Windows x Linux x MacOsx etc é inútil, pois o nosso maior problema é uma total falta de política e metas de negócios para o setor de tecnologia que realmente agreguem algúm valor aos nossos produtos, sejam proprietários ou GNU. Somos meros consumidores de perfumarias tecnológicas e nossa área de TI existe simplesmente para atender o elefante branco da burocracia estatal.
[7] Comentário enviado por camusmal em 27/09/2010 - 19:54h
Olha só!
Se eu vende-se uma nova linha de Panela de marca XYZ mas o mercado ja tem três marcas famosas que vendem panela, então quem daria um conjunto de panela XYZ como presente de casamento pra um amigo?
Primeiro vou arrumar o acabamento da panela vou torna-la atrativa com tampas de vidro e vou reduzi meu lucro para poder vender mais inicialmente e assim as pessoas vão indicar a panela de tampa de vidro para outras. Me tornando uma marca reconhecida!
Com o tio bill gates foi assim...soh que o windows ele deu de graça pra população toda!
E ainda da...mesmo sendo o lider nesse mercado de S.O.
Mas ele cobra se eu quebrar a tampa da panela acidentalmente e cobra para cada outro suporte que eu criar como saleiros que combinam com o conjunto.
Resumindo o bill gates consegue dar panela de graça desde 19XX...hj em dia tem gente que arruma panela em todos os lugares e essa é a melhor forma de conquista o usuário.
Ninguem vai telefonar para comprar um software de uma determinada empresa se não for indicado por alguem que ja testou!
E as empresas que ganham muita grana que eh o caso das de grande porte..elas nao ta nem ai se ao inves de gasta 20mil poderia gasta 8mil...elas querem o que é recomendado pela maioria, para garantir o seu lucro e não correr risco com coisas novas.
As de medio porte segue esse modelo e só opnão por tentar algo novo se o orçamente ultrapassa o que podem pagar.
As pequenas empresas compram pacotes basicos que saem em conta e eh recomendado pela maioria.
[8] Comentário enviado por nicolo em 27/09/2010 - 20:23h
Ora ora, Até não concordo com tudo que escreveste, mas ...
Acima de tudo: Parabéns pela coragem
Parabéns pela visão fora da mediocridade.
1-Olhando do lado do consumidor, cliente ou usuário: Nosso mercado de informatica é insipiente, uma fascinação adquirida do primeiro mundo.
Neste mercado entram todos, com qualquer grau de preparação e com qualquer grau de profissionalismo. Vai levar um bom tempo para separar o joio do trigo.
2-Sua conclusão está correta, o software livre é o espaço para o empresário nacional crescer, não há como reinventar a roda ou sair na porrada com as patentes
das mega corporações. Qualquer empresa filet mingnon vai ser ocupada pelas grandes corporações com preços unitários muito baixos. O custo de manutenção de um mega sistema Windows (de uma empresa de grande porte) é monstruoso.
3-O preparo do brasileiro para a área gerencial é patético. Dos gerentes brasileiros mais de 90% , são fraquíssimos. Só uns 10% tem cabeça para conduzir os negócios, e isso não vai ser diferente em informática. (Os decision makers brasileiros tem em média menos de 11 anos de estudo, ou o segundo grau incompleto).
4-Não concordo com a imagem que traçam do Windows e do Tio Bill. Há muita coisa que o software livre está aprendendo com eles, principalmente "como deixar o cliente satisfeito". O Mark Shuttleworth da Canonical (Ubuntu) que é um empresário de sucesso não despreza boas idéias.
5-O desenvolvimento sustentável ... Bem primeiro precisa ler o relatório Brundtland a Biblia dos ambientalistas, mas eu não conheço nenhum defunto ambientalista que o tenha lido. Eu li tudinho e desambientei.
[10] Comentário enviado por tosca em 15/01/2011 - 23:53h
Sou Socialista do PSTU e uso linux, a questão do Linux e grande empresa junto ao Capitallismo é simples=redução de custos, melhoria do gerenciamento de dados e segurança, vc não colocaria seu patrinônio mesmo que fruto de enganações e jogos ilegas a deriva, o principal do linux nas empresas é segurança, confiabilidade e usuábilidade.
Com isso o empresário pode criar sua empresa virtual, sem as cutucadas da detentora do solftwere, praticidade. Vc corrige falhas, conserta os erros e deixa a cada dia mais na sua mão.
Por quê pequenas empresas não usam linux, simples falta proficionais dispostos a criar solftwere, um custo inicial maior pois não comprar-se um sistema já feito, sabendo que a curto prazo é investimento não gastos. Não sei nas grandes cidades, moro em Sergipe sempre quiz fazer um curso de programação no linux, aquí curso linux é acesso a net e open office; isso minha vó sabe não precisa aula; em pequenos centros é implaticável hoje usar linux de forma empresarial, falta simplesmente conhecimento e pessoal disposto a faze-lo.