Teixeira
(usa Linux Mint)
Enviado em 25/07/2013 - 12:15h
Acabo de me dar conta de que tenho sido testemunha de várias gerações tecnológicas, e que acompanhei e sobrevivi a todas elas.
Porém hoje em dia tem muita "steam tech" por aí, algo que finge ser tecnologia, e por vezes é um entrave a um melhor desenvolvimento da prṕopria tecnologia.
Quem se lembra do tal mouse com hodômetro, que pretensamente seria "o futuro standard"?
Eu me lembrei que quando eu era "il bambino" (e meu avô era "il marinaro") nas nossas primeiras casas havia fogões a pilha.
Eles funcionavam com uma enorme
pilha de lenha que dava calor na modalidade 24x7x365 ou seja, a qualquer hora do dia ou da noite havia água quente para se fazer qualquer coisa, inclusive café.
Bom mesmo era a capacidade do forno, onde cabiam geralmente uns dois ou três javalis.
Junto com a lenha, costumavam vir de brinde algumas dezenas de escorpiões negros, e às vezes algumas serpentes.
Depois vieram os primeiros fogões a gás.
A gente comprava o fogão e ele vinha com dois botijões cheios.
Em um dia predeterminado vinha o pessoal da companhia de gás e fazia a substituição (mediante pagamento, é claro) do botijão vazio.
E assim seguia a vida.
E por lembrar disso, assim como em "Mil Histórias Sem Fim" do Malba Tahan (acho que foi ele quem inventou o gosub), tinha um vizinho alagoano, cuja história merece ser contada:
Antigamente era comum nas cidades do interior as famílias serem imensas (não havia televisão), e na medida em que os rapazes atingiam uma certa idade e/ou as moças se casavam, iam saindo de casa e indo viver suas próprias vidas.
Esse meu vizinho, quando chegou a sua vez, foi para Maceió e lá, depois de ralar muito daqui e dali, conseguiu prestar concurso para o Banco do Brasil e ser aprovado.
Com o passar do tempo ele foi transferido para Belo Horizonte, exatamente na mesma época em que surgiram os tais fogões a gás.
Um pouco mais de tempo, e como todos os seus irmãos já haviam saído de casa, e com a morte de seu pai, ele resolveu montar uma pequena casa para sua mamãe lá em Belo Horizonte.
Era uma casinha modesta, porém bem mais confortável que uma habitação do interior de Alagoas naquela época.
É aí que entra a história do fogão:
A velha levava sua vida feliz e radiante e passava seus dias exercendo suas prendas domésticas, em que as mulheres nordestinas são verdadeiras mestras.
Ela bordava, pintava, costurava, fazia renda de bilro, era uma artista de mão cheia.
Então chegou o dia da tal entrega automática.
E o funcionário da companhia de gás levou o maior susto quando ela apresentou o botijão e disse a ele:
- O senhor pode despejar!... (Meditem nesta frase)
Ela havia pintado nos dois botijões uns lindos motivos florais, sobre fundo azul.
Foi o maior problema resolver a questão, pois o funcionário não podia aceitar o botijão fora do padrão, que era prateado (prata-gosmento, aquele que não seca nunca).
Naquela época telefone era algo muito raro, e foi bastante difícil contactar o filho.
Quando finalmente o conseguiram, como ele era funcionário do BANCO DO BRASIL (sinal de altíssimo status na época) ele conseguiu facilmente (o que para nós mortais seria impossível) adquirir dois novos botijões para que a mamãe voltasse a cozinhar em paz.
Ficou triste porque não poderia pintar os botijões com as florezinhas, mas dentro de algum tempo ela mesma teve a ideía de fazer umas capas de tecido, com as flores bordadas.
Hmmm... Será que foi ela quem inventou as tais capas?
A era romântica dos fogões parece que terminou por aí.
De lá para cá o que temos de "muderrrno" é o cooktop, que acaba sendo a meeesma coisa.
O que não entendo é por que o Brasil insiste em usar eletricidade para fins de aquecimento, quando nossa conta de energia não é subsidiada (?????????).
(Tem mais história de fogão...)