paulo1205
(usa Ubuntu)
Enviado em 04/05/2013 - 00:13h
Rei Tenguh escreveu:
Então, seria apenas uma coincidência ele ser constantemente acusado de homofobia e apresentar como primeiro projeto no cargo algo que transformaria isso (ao contrário de quaisquer conhecimentos científicos) em "doença". Só coincidência, a primeira atitude oficial "de peso" ser relacionada exatamente a mentalidade da qual ele foi sempre acusado, certo?
Comprovou por atitudes. Acabaram-se as desculpas.
Como você não prestou atenção, e parece estar julgando uma pessoa apenas pelas manchetes, sem sequer ler as notícias subjacentes, eu volto a informar, agora com mais detalhes.
1) O projeto de decreto legislativo em questão NÃO É de autoria do deputado Marco Feliciano (PSC-SP, integrante da base aliada de Dilma Rousseff), mas sim do deputado João Campos (PSDB-GO, da oposição).
2) É TOTALMENTE FALSO dizer que o projeto institua "cura gay", que abra espaço para que psicólogos possam fazer terapias contra o desejo de seus pacientes e muito menos que passe a classificar homossexualismo ou homossexualidade como doenças. Quem diz isso ou está de má-vontade, ou é burro, ou, na melhor das hipóteses, está macaqueando sem compreender nem criticar a informação falsa que recebeu.
3) O projeto tão-somente anula o parágrafo único do artigo 3º e o artigo 4º da Resolução 1 de 1999 do CFH que versa sobre a postura do profissional de Psicologia em questões de (homo)sexualidade. O próprio artigo 3º (fora o referido parágrafo), que é o que proíbe o psicólogo de ministrar terapia não-solicitada relativa a sexualidade e a "patologização" de comportamentos sexuais, é mantido, assim como todos os demais artigos e itens da tal resolução.
4) Os trechos da Resolução 1 tornados sem efeito são, além de inconstitucionais, gravemente subjetivos, abrindo espaço para a perseguição dos profissionais até por conta de eventuais boatos.
5) O próprio Feliciano convidou todos os membros da CDHM (que disseram sob os holofotes que iriam renunciar a ela por causa da presença de Feliciano na presidência, mas que em verdade não renunciaram coisa nenhuma depois que as câmeras da TV se desviaram deles) a participarem das discussões a respeito do referido projeto na comissão. Logo, há espaço, sim, para o contraditório na discussão do projeto na comissão. Só não vai haver discussão ampla se um dos lados, que se arvora em "defensor dos gays" não quiser participar.
6) Na pauta da CDHM está também um projeto que especifica mais formalmente o que é preconceito. Sem dúvida, muito oportuno de se discutir.
7) Em todo caso, a CDHM não é a última instância de qualquer um desses debates. Como algumas pessoas lembraram com muita propriedade, Feliciano só parou na CDHM porque essa comissão é considerada pouco relevante por todos os partidos de maior porte.
Logo, não é "certo" "a primeira atitude oficial 'de peso' ser relacionada exatamente a mentalidade da qual ele foi sempre acusado".
E mais um ponto: não cabe nem mesmo dizer "'
ao contrário' de quaisquer conhecimentos científicos". Apesar de todo lobby de ambos os lados, principalmente da militância homossexual, não existem conhecimentos científicos sólidos nem contrários nem favoráveis a teses de qualquer lado, mas somente opiniões. Até 1993, a OMS considerava, sim, que homossexualidade era doença, e isso não mudou por conta de qualquer descoberta ou estudo de peso, mas por razões estritamente políticas e esforço de grupos de pressão (ligados aos gays, obviamente).
Obs: "Pelo sofrimento que causa a partir do que espera-se dele..." Então. Tem problema psicológico é quem tá preocupado em não desagradar pelo que é; isso sim é uma patologia psíquica. E é exatamente esse o rumo da medicina: ao invés da pessoa negar o que é pra agradar os outros, cura-se da patologia que é querer agradar contra a própria natureza e faz aceitar os próprios impulsos.
O motivo da preocupação legal e do rumo médico que estão em questão é justamente esse: é uma patologia querer agradar os outros contra a própria natureza individual, e quando isso é absurdamente tentado criam-se outras patologias psíquicas. Então, CURA-SE a patologia inicial e evita-se as outras, fazendo o indivíduo aceitar os próprios impulsos e dar um "f..." pra quem não gostar SÓ por opiniões pessoais subjetivas.
Epa! Peralá!
Em primeiro lugar, foi você quem insistiu, em várias de suas primeiras mensagens neste tópico, que doença haveria se houvesse sofrimento, que você supunha não existir. Mostrado o sofrimento, você mudou sua opinião? Simples assim?
Só que sua mudança de definição, expressa acima, pega carona numa distorção do que eu disse. Você pegou apenas uma parte do que eu expressei, enfatizando o conflito com o que vem de fora e suprimindo a parte do conflito do indivíduo consigo mesmo e com o que pode ser meras projeções do que ele imagina que possam esperar dele.
Além do mais, eu considero que refrear certos impulsos é absolutamente essencial, e doentio seria deixar de o fazer, ou deixar de buscar tratamento médico e psicológico para o fazer, em nome de um estado ou condição natural real ou suposta. Todo mundo, em determinados momentos, tem impulsos de tomar o que não lhe pertence, de investir sexualmente contra alguém, de agir com violência, e só deixa de o fazer -- se deixar -- por causa de limites sociais e morais previamente arraigados ou por temor de alguma força repressora ou punitiva. E, para não dizer que eu enumerei apenas aspectos que dizem podem atingir a liberdade alheia, existem impulsos exclusivamente pessoais, alguns dos quais autodestrutivos (ainda que não sejam percebidos como tais por quem os tem) ou que impingem sofrimento que, em primeira análise, é estritamente individual, como consumo de drogas (incluindo álcool e tabaco), ansiedade, sociofobia, anorexia, glutonaria, narcisismo, e uma longa lista de possíveis "-ismos" e "-ias".
Como eu já mencionei acima: também considero um "distúrbio" o psicológico ir em sentido contrário ao biológico. Mas que se f... o que eu acho "correto" ou não, a vida é do cara! E NÃO se enquadra em nenhuma definição médica ou científica que caracterize "doença".
Numa coisa possivelmente concordamos: o que alguém faz entre quatro paredes não diz respeito nem ao Estado nem a qualquer outro indivíduo -- ao menos enquanto seus frutos permanecerem estritamente dentro dessas paredes. Então, que os nossos vizinhos que eventualmente forem gays não tenham por hábito sexo selvagem que envolva gritos que cheguem ao meu ou ao seu apartamento. ;)
Entretanto, temo que a questão seja um pouco mais complicada de delimitar do que o que você enuncia acima. Para começar, porque a Medicina (incluindo a Psicologia), em particular, e as ciências, em geral, não se ocupam, voluntariamente, com aspectos do indivíduo que estejam fora do corpo e da mente -- e eu acredito que doenças podem existir no espírito de cada ser humano. Mas mesmo se o problema for encarado com um foco estritamente natural, as definições de doenças, tomando como exemplo gritante as alterações que vêm sendo feitas, ao longo das últimas décadas, nas classificações da própria OMS, obedecem muito mais a critérios políticos e influência de grupos de pressão do que a qualquer descoberta científica. E, em certa medida, algo parecido pode ser dito sobre tratamentos.
E é assim em outras áreas da vida também. Durante quase uma década tivemos o saco enchido com alardes e alarmes sobre "aquecimento global" e mudanças climáticas supostamente causadas pelo homem, que provocaram uma onda de políticas de intromissão dos governos mundo afora nos negócios e na vida das pessoas. Nos últimos anos, os termômetros com leituras mais baixas, não só no planeta, mas também nas economias de quase todos os países, o foco mudou -- mas ninguém da laia de Al Gore veio se desculpar pelas mentiras, e muito menos veio a desfazer as políticas de estado-babá (ditatoriais) que se nos foram impostas em nome da "sustentabilidade".
Eu gosto da liberdade de ser que a democracia me dá.
Sim, eu também. E é por isso mesmo que eu não posso aceitar, por exemplo, que se busque desqualificar o pensamento de ninguém, nem mesmo do famigerado deputado Feliciano. E muito menos que se atribuam pechas e rótulos simplistas -- como esse de "cura gay" -- para se macular um assunto cujo debate é muito mais relevante do que querem fazer parecer.
Eu sou taoista por religião, sou usuário de sistemas Linux, pratico artes marciais pelo seu caráter metafísico e NÃO por esporte, prefiro andar de moto a carro mesmo em baixo de chuva e não saio de casa sem um chapéu ou um boné na cabeça. É um monte de coisa diferente da "maioria",e a democracia me permite ser assim sem nem ter que me justificar pra ninguém.
E ela dá essa liberdade também a outras pessoas, diferentes de mim, e eu convivo de boa com elas e suas opiniões sobre a vida, diferentes da minha. Se fosse um "preço" a eu pagar, conviver com diferenças, se fosse algo "ofensivo" pra mim e eu considerasse como "doença" coisas diferentes de mim, então EU é que teria uma patologia psíquica seríssima.
Concordamos nisso inteiramente.