paulo1205
(usa Ubuntu)
Enviado em 05/05/2013 - 01:41h
Rei Tenguh escreveu:
1- Não julgo por matérias "corriqueiras", sou assinante do Estadão e acompanho essas notícias de seu começo. Não estou julgando baseando-me em 2 minutos de matérias, não. Sabe-se que ele tá sendo "financiado" pelo Bolsonaro desde a pré-candidatura, ou foi esquecido?
Sabe-se? Eu não sabia de financiamento algum. E, para mim, não faz o menor sentido. Eles são de estados diferentes, de partidos diferentes e de religiões diferentes. E, se a questão for dinheiro, Feliciano tem condições de captá-lo em sua igreja muito melhores do que depender de Jair Bolsonaro. Seria mais plausível se fosse o contrário.
Depois da sua acusação, eu procurei na Internet e não achei nada parecido em lugar algum. Se tiver uma fonte confiável na qual eu possa atestar esse financiamento desde a pré-candidatura, por favor, indique. Lerei com afinco.
Contudo, o mínimo que eu poderia esperar do deputado Jair Bolsonaro seria o apoio à manutenção de Marco Feliciano na presidência da CDHM. Não vejo problema algum nisso e, aliás, respeito sempre o agir coerentemente, mesmo quando repudio a ideologia à qual a pessoa é fiel. E possivelmente será, de minha parte, o caso de respeito apesar de repúdio, em lugar de respeito puro e simples, se o apaio do deputado Bolsonaro se der por imaginar que Feliciano é anti-gay, anti-negro ou coisa parecida, em lugar de apenas querer que se respeite a institucionalidade da sua condução à presidência da CDHM e o seu direito constitucional a ter opiniões próprias e expressá-las, ainda que soem absurdas.
E sim, você está julgando com base em desinformação, ainda que essa desinformação tenha sido adquirida nas páginas do Estado de S. Paulo. E é facílimo mostrar isso: basta você ler o texto do projeto de decreto legislativo 234/2011, do deputado João Campos (disponível, na íntegra, em
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=881210&filename=PDC+234/2011..., e ver que ele não contém nada parecido com "cura gay". Atribuir tal pecha a um projeto com o teor da PDL em questão é pura MENTIRA ideologicamente ou militantemente orientada.
O mais assustador, no entanto, é ver que uma gritante mentira como essa tenha passado pelo crivo editorial de praticamente todos os veículos de comunicação (eu não li o Estadão, mas li a mesma mentira na Folha de S.Paulo, em O Globo e no UOL). Assumindo que todas tenham se pautado por uma mesma agência de notícias, temos um caso grave de descuido. Se todas produziram a mesma porcaria pela mão de jornalistas independentes, estamos diante do escândalo manifesto de que a imprensa está controlada por uma linha de pensamento uniforme, empenhada não em informar, mas em promover sua agenda ao custo de suprimir do leitor a verdadeira mensagem.
(Em tempo: não tenho objeção a que veículos de comunicação tenham linhas de opinião. Contudo, que sejam claros a esse respeito disso para com seus leitores. E, principalmente, que tenham a coragem de defender seu pensamento num debate aberto, sem usar do expediente da mentira deliberada; que sejam competentes em persuadir, não em enganar.)
2- Não mudei minha idéia sobre a causa do soifrimento em relação a doença. Eu disse é que a doença que causa sofrimento é outra: é a necessidade de ser "acerito". ISSO é doença, ISSO é patologia psiquica. Se a pessoa sofre por não aceitação, ela "se cura" é aprendendo a mandar a opinião dos outros pra casa do chapéu, e não "se curando" de sua própria natureza. E esse o atual caminho da medicina psicológica (porque a sua função é curar doenças e não doutrinar filosoficamente)
Citando sua primeira postagem, você disse, literalmente, isto: "
Algo é considerado "doença" quando causa sofrimento e/ou degeneração nas funções naturais que o indivíduo necessita para uma vida diária e social de qualidade." Está claro como água limpa que você vinculou a existência de doença à pura e simples existência de sofrimento, sem entrar no mérito de eventuais causas.
Quem trouxe à baila o sofrimento e suas possíveis causas, justamente para apontar que você estava sendo perigosamente leviano em suas opiniões, fui eu, não você. E eu chamei a atenção que uma das possíveis causas de sofrimento seria o conflito do indivíduo consigo mesmo. A sua proposta de cura, de "mandar para a casa do chapéu", funcionaria como, nesse caso?
Das duas, uma: ou você não está sabendo se expressar, ou pelo menos uma parte das "certezas" que você trouxe a esta discussão está mal embasada, e mereceria, para seu próprio benefício, uma revisão.
Ademais, não existe prova alguma em lugar algum de que homossexualidade seja uma condição natural. Há somente opiniões e correntes de opiniões, cada uma com seus argumentos melhores e piores, e diferentes correntes têm prevalecido ao longo do tempo.
Tenho a percepção de que os gays militantes mudam de discurso conforme a situação (e acho isso absolutamente deplorável e intelectualmente desonesto, já que, como disse acima, respeito muito a coerência, mesmo de quem discorda de mim). Para fins de propaganda, na maior parte do tempo propagam a ideia de homossexualidade como condição natural e irreversível. No entanto, sendo pai de criança em idade escolar e, portanto, interessado no teor das políticas de educação e discussões sobre sexualidade infantil, noto primeiramente o interesse ferrenho que os movimentos de militância homossexualista têm pelos mesmos assuntos. E mais: a forma de abordagem do tema por alguns desses grupos me leva a crer que, mais do que promover a aceitação, existe uma linguagem que sugere, na hipótese mais virtuosa, que a homossexualidade seria uma escolha (na menos virtuosa -- e condenável --, que poderia ser imposta).
Particularmente, não me alinho com a corrente predominante da natureza imutável. Acredito que a homossexualidade é uma condição adquirida, quer por escolha, quer em função de algum trauma (incluindo abuso infantil, geralmente perpetrado na escola ou no próprio seio da família). E, sendo adquirida, poderia, em tese, ao menos, ser revertida.
Até que alguém apresente irrefutavelmente o tão-falado (e desejado justamente pelos homossexuais que provavelmente têm, no fundo, mais dificuldade em aceitar-se como tais) "gene gay", ou mesmo alguma conformação cerebral que inexoravelmente faça um homem ter atração por outro homem e uma mulher por outra mulher, não vejo qualquer motivo para converter-me à corrente majoritária. Mas mesmo que essa corrente estivesse correta em sua hipótese, ainda existiria um salto qualitativo e quantitativo muito grande do imutável para o incontrolável e irrefreável.
3- Se mais alguém escrever que um gay pode "se curar" se quiser, acho que vou vomitar. Pode deixar de ser gay se quiser, mas "curar" é termo usado em relacão a coisas que a OMS considera doença. Não dá pra "curar" o que tá saudável.
Ao longo dessas sete páginas que o tópico já tomou aqui no VoL, só você e mais uma pessoa falaram, quase sempre negativamente, sobre o tema "cura" (sendo que essa outra pessoa só escreveu uma postagem, e colocou a palavra "cura" entre aspas, numa única linha). Suas próprias palavras lhe dão ânsia de vômito?
E quem foi que fez da OMS um ente superior da razão? Não bastasse ser esse órgão político antes de ser técnico -- como, aliás e infelizmente, quase todos os órgãos de estudos, fiscalização e normatização, incluindo, é claro, o CFP -- quem disse que tudo o que não consta na tabela da OMS é saudável? Você realmente crê nisso?
4- Quanto ao absurdo do cargo em questão: pra resumir, é como deixar um pedófilo cuidando de um jardim de infância. Depois não pode reclamar do que pode acontecer.
Por quê? Gostaria muito se você, com a mão na consciência, pudesse justificar tal opinião de um modo articulado, sem recorrer a chavões, falácias ou argumentos que sejam, eles próprias, frutos de mero preconceito contra a pessoa ou contra a fé que essa pessoa esposa.
Na verdade, todas as discussões sobre nomes, números e definições têm por base algo muito muito simples: outra vez e como sempre a farda e a arma usam o crucifixo como bandeira para "maquinização" do que é humano e, por isso, complexo e incontrolável.
O caminho (novamente e como sempre): a destruição de tudo o que não cabe em respostas mentirosas e simplistas, tudo o que não caiba em uma única frase ou uma única lei.
Destruição de quê, meu caro? Nenhuma lei nova está sendo instituída, nenhum comportamento criminalizado ou recriminado no Direito brasileiro. Não apele você também a uma metafísica da mentira e da difamação para ignorar os fatos concretos.
Com relação à menção depreciativa ao crucifixo, faço-lhe a seguinte pergunta: um cidadão brasileiro cristão eleito para o parlamento deve ter liberdade menor para legislar de pleno acordo com sua consciência do que um brasileiro ateu, ou um brasileiro flamenguista, ou um brasileiro de ascendência africana, ou um brasileiro homossexual?
E desde quando o humano -- que é, sim, complexo -- é necessariamente incontrolável? A vida em sociedade seria impossível se cada um de nós não controlasse, pelo menos na maior parte do tempo, os múltiplos aspectos de nossa complexidade.
E você está mal-informado (de novo) sobre a percepção cristã acerca do homem. Simplista, reducionista ou negadora de sua complexidade é das últimas coisas de que alguém a poderia classificar, se a conhecesse minimamente bem.
Mas eu sinto muitíssimo em informar ao meu próprio ego e suas necessidades ilusórias de que eu NÃO sou mais "saudável" do que é diferente de mim, e que o que é diferente de mim não é "doente" por causa disso. Que pena, eu sou só igual a todo mundo... não sou uma criaturazinha mais especial 'pros Deuses' que outro QUALQUER, nem mais nem menos "saudável". Ó vida cruel.
Claro. Você não é melhor do que ninguém mas, de acordo com suas próprias palavras:
- homossexuais têm distúrbios biológicos (mas não doença, claro, que é coisa muuuuuuuuuito diferente);
- você que, pelo que entendi, não sofre de tal distúrbio, não é mais saudável do quem sofre (então por que a condição é chamada de "distúrbio", em lugar de tão-somente, sei lá, "característica"?);
- religiosos, principalmente cristãos, são simplistas e mentirosos (mas você, que atribui pechas a pessoas, e posta neste fórum um desagravo a um projeto de decreto legislativo cujo real teor claramente desconhece, e faz dos tachamentos que fez à pessoa, que não é sequer o autor do tal projeto, o melhor, se não único, argumento contra ele, não está sendo simplista nem incorrendo numa mentira).